Casos e mortes por Covid-19 mais que dobram em BH após flexibilização do comércio

Renata Evangelista
rsouza@hojeemdia.com.br
19/06/2020 às 08:22.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:48
 (Imagem de fernando zhiminaicela por Pixabay )

(Imagem de fernando zhiminaicela por Pixabay )

Menos de um mês após afrouxar o isolamento social, autorizando a reabertura do comércio, Belo Horizonte assiste à explosão de casos, internações e mortes por Covid-19. O cenário é tão preocupante, dizem especialistas, que um freio na flexibilização não está descartado. A decisão sobre recuar, manter ou avançar com as atividades econômicas será anunciada hoje pela prefeitura. 

A primeira fase de retomada, com o aval às lojas “não essenciais”, foi em 25 de maio. Na época, BH tinha 1.402 casos e 42 óbitos confirmados pelo novo coronavírus. Desde então, as notificações da doença aumentaram mais de 100% na cidade. Ontem, eram 3.723 doentes e 87 vidas perdidas.

Também aumentou a taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em apenas 25 dias, as internações de pacientes nas vagas do SUS exclusivas para a enfermidade chegaram a passar de 48% para 82% – no dia 17 de junho, a abertura de leitos extras pela prefeitura fez o índice recuar para 74%. 

Preocupação

Para especialistas da área de saúde, os números devem ser avaliados com atenção. O infectologista Dirceu Greco atesta que os dados são preocupantes. “Tenho certeza de que a decisão de liberar o comércio foi baseada em evidências científicas, porque a taxa de transmissão da doença estava baixa. Mas muitas pessoas não estão recebendo o auxílio para ficar em casa e, nas ruas, estão se expondo mais ao vírus”, avaliou.

Também presidente da Associação Brasileira de Bioética e professor de Medicina na UFMG, o médico alertou sobre um dos possíveis focos de contaminação, os ônibus. “Está sendo dito que as lojas abertas estão se preparando, mas estamos esquecendo que essa população chega aos estabelecimentos de transporte público, que geralmente provoca aglomeração. É preciso uma ação para que os passageiros saiam em horários menos movimentados”, diz.

Além disso, o infectologista cobra uma campanha agressiva do Executivo para prevenir o contágio da Covid-19. “As pessoas estão saindo para fazer compras do que não é fundamental. Parece óbvio, mas as recomendações sanitárias têm que ser reforçadas. O uso de máscara é essencial, a lavagem das mãos fundamental e, quem puder, tem que ficar em casa”, disse.

Pior momento

Na quarta-feira, o infectologista Estevão Urbano, integrante do grupo de enfrentamento à doença em BH, disse que a situação nunca esteve tão preocupante com relação à ocupação dos leitos. Na ocasião, ele alertou que o recado à população deveria ser claro: “Não está na hora de afrouxar as medidas. O distanciamento tem que ser aumentado. Essa é a contribuição de cada cidadão para evitar que haja riscos de esgotamento do sistema”.

Em nota, a PBH informou que ampliou a quantidade de leitos. Foram abertos mais 34 de UTI exclusivos para Covid, passando de 246 para 280, e mais 38 de enfermaria, também para o coronavírus – de 688 para 726. No total, são 72 novos leitos na Rede SUS-BH.

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