(Wesley Rodrigues)
A morte do policial militar André Luiz Lucas Neves, de 27 anos, quando tentava impedir um assalto, na noite da última sexta-feira (16), no bairro Ouro Preto, em BH, desencadeou um grande movimento de insatisfação dentro da Polícia Militar de Minas Gerais. Neste domingo (18), cerca de mil militares, apoiados também por alguns policiais civis e bombeiros, saíram do enterro de Neves, no Cemitério da Saudade, e seguiram em carreata até a Praça da Liberdade. Com buzinaço e sirenes ligadas eles se concentraram em frente ao Palácio da Liberdade e depois deram um abraço simbólico no prédio do Quartel do Comando Geral. No trajeto, foram aplaudidos por alguns populares e cantaram o hino de Minas Gerais.
A manifestação, além de homenagear o agente morto, pedia mais segurança para os policiais e alterações na lei. “Os policiais estão cansados de tanto prender a mesma pessoa várias vezes. Na verdade, o que nós queremos é uma lei melhor para trabalhar e isso não depende de nós, depende de parlamentares que atuam no Congresso Nacional. Nós queremos é uma lei que funcione, que a gente não tenha que prender bandido mais de uma vez. Prendeu tá preso, responde preso pelo seu ato”, disse a Coronel Cláudia Romualdo, chefe do comando de policiamento da capital, que acompanhou o movimento.
O suspeito de ter atirado no policial Neves, Wilson Guimarães Filho, que ainda está foragido, tem um extenso currículo de criminalidade e inúmeras passagens pela polícia. Segundo o policial Rodrigo Dias Magalhães, que está há 15 anos na PM e participou da manifestação, a justiça é omissa nestes casos. “Fica uma indignação no meio da tropa, porque nós já estamos enxugando gelo há um bom tempo. A gente fica com este sentimento de derrota, porque infelizmente a gente prende e o poder judiciário solta. O rapaz que matou esse militar tem 16 passagens. E por que ele não está preso? Temos um poder judiciário muito fraco, muito omisso, não só contra a sociedade, mas contra os próprios militares”, disse.
A indignação era compartilhada pelo colega Luiz Castro. “O cara já era bandido há muito tempo e estava solto. A justiça é frouxa. A gente tá fazendo essa manifestação pra mostrar pra sociedade que a violência está grande e tem que acabar. A justiça tem que ser feita, o vagabundo tem que ficar preso e a polícia tem que trabalhar”, comentou.
Propostas
Durante a manifestação, foi defendida a criação de uma Rede de Policiais Protegidos, a exemplo da Rede de Vizinhos Protegidos, sistema que possibilita a conexão direta entre a Polícia Militar e a comunidade, na tentativa de coibir ações de criminosos. A nova rede teria o objetivo de integrar os policiais militares, transmitir alestas de perigo e assim aumentar a segurança dos agentes e seus familiares.
Na próxima sexta-feira, os policiais farão uma nova manifestação, com uma reunião para discutir medidas que possam melhorar a qualidade de vida dos PMs. O encontro será às 14 horas, na Praça da Assembleia, em Belo Horizonte. A data foi escolhida coletivamente durante a manifestação e coincide com o dia da missa de sétimo dia do policial André Luiz Lucas Neves.
Entenda o caso
Na noite de sexta-feira, o policial André Luiz Lucas Neves, que não estava em serviço, tentou impedir que um casal fosse assaltado por três criminosos, na avenida Fleming, esquina com rua Jordânia, no bairro Outro Preto, região da Pampulha. Segundo informações enviadas por PM's ao Whats App do Hoje em Dia, André trocou tiros com os assaltantes e acabou sendo baleado. Ele foi socorrido no Hospital Odilon Behrens, mas não resistiu e morreu. Segundo moradores, dezenas de viaturas e motos foram usadas no atendimento à ocorrência.
Além de matarem o policial, os bandidos roubaram sua arma e fugiram em um veículo Peugeot preto, em direção a orla da Lagoa da Pampulha. Pouco tempo depois, militares se depararam com José Henrique da Silva Bento, que fugia a pé. Com diversas escoriações pelo corpo, ele tentou correr ao perceber que seria abordado pelos policiais, sem sucesso. Ao ser detido, tentou sacar uma arma calibre 32, que foi apreendida. Ele foi encaminhado ao mesmo hospital, e ficou sob escolta policial até a chegada de agentes da Suapi.
Enquanto isso, o carro usado na fuga foi localizado apenas três ruas acima do incidente, na rua Belterra. Dentro dele havia um homem morto, identificado como Ítalo, de 23 anos, com um ferimento na nuca que, segundo a perícia, teria sido de um disparo efetuado dentro do carro. Além disso, ele possuía outras marcas de disparos no abdômen e uma pistola.
O terceiro suspeito seria Wilson Guimarães Filho, apontado como autor do disparo que matou o policial. Ele ainda está foragido. André era do 49º Batalhão, que atende à região de Venda Nova.