Um quadradinho branco aqui, outro ali, uma lasquinha no pedaço ao leite, mais uma mordida na barra recheada e, pronto: está feita a bobagem. Quem já enfiou o pé na jaca no domingo de Páscoa sabe do que estou falando. Da difícil, porém necessária, missão de ficar longe do perigo e controlar a tentação de render-se ao pecado da gula diante do chocolate. Mas, para manter a compostura frente ao desejo de atacar uma caixa inteira de bombons e os ovos que chegarem no domingo, especialistas com conhecimento de causa dão dicas de como degustar, com moderação. Para fazer a melhor escolha, vale a pena memorizar e até adotar como mantra: há um tipo certo para cada pessoa – e desejo – e quantidade recomendada para não escorregar na balança e, de quebra, levar bronca no consultório médico. Unânime entre as indicações de quem entende do assunto, os chocolates amargos são o único tipo indicado para quem tem como objetivo não só satisfazer o paladar, mas agradar o organismo. “O cacau é a substância mais antioxidante disponível no mundo. Mas, para trazer benefícios, é preciso que o chocolate tenha no mínimo 70% de cacau na composição”, alerta o médico ortomolecular Luiz Jabbur. Pesquisas mostram benefícios dos amargos também na prevenção de câncer de intestino, pela ação de moléculas do cacau na proteção das células dos tumores, para manter a pressão arterial regulada e até para diminuir a dor. Nesse último caso, segundo cientistas da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, a ingestão, por prazer, do chocolate levaria à distração que, por sua vez, funcionaria como um analgésico natural. Há também estudos que comprovam os benefícios da delícia milenar, nas formas que se apresentam mais escurinhas – quanto mais cacau, mais preto o chocolate –, como importante aliada do bom humor. É que os ativos do fruto-base das receitas estimulam a produção de endorfina e serotonina, que levam à sensação de prazer e bem estar. Boa notícia Para os apaixonados pelo gosto mais doce do chocolate ao leite (em torno de 25% de cacau), ainda em “fase de teste” com o sabor forte dos amargos e meio-amargos, a boa notícia é que há substitutos que alegram o paladar sem esquecer da qualidade e deixar a saúde de lado. Mas é bom lembrar que, quanto menos cacau na composição e, portanto, mais leite, mais gordura, mais açúcar e, consequentemente, mais calorias. “É preciso enfatizar que o consumo tem que ser moderação. Quem não gosta não deve ser incentivado e, sempre que possível, para os que adoram, a opção deve ser pelos amargos”, enfatiza a nutricionista esportiva Raphaella Cordeiro. Alternativos ao amargor seriam os produtos à base de alfarroba, fruto extraído de uma vagem egípcia e que, em tempos passados, era considerado o chocolate dos faraós. Eles não têm glúten nem lactose e fornecem menos calorias. Chocólatras têm déficit na liberação de serotonina e podem ser curados Apaixonados, alucinados, fissurados. Chocólatras. Muito se diz sobre eles, mas pouco se sabe que, de fato, eles existem, não só na prática, mas na teoria também, ou melhor, para a ciência. Pessoas com necessidade extrema de comer chocolate, diariamente, não são meras viciadas no docinho dos deuses. Elas apresentam, na verdade, um déficit no neurotransmissor responsável pela liberação de serotonina e precisam ser “tratadas”. Segundo o médico ortomolecular Luiz Jabbur, o consumo exagerado do produto, justificado pelo termo, não é, ao contrário do que se pensa, uma desculpa esfarrapada. “Mulheres na TPM, por exemplo, sentem mais vontade de comer chocolate, justamente pela liberação de serotonina no organismo, que confere sensação de prazer e bem estar. Não é mito”, explica. A sensação de bem-estar provocada pelo chocolate encontra respaldo na ação da endorfina e da dopamina, relacionadas ao relaxamento. Cientistas afirmam que ele é capaz de aumentar a produção das substâncias. O que ocorre entre os chocólatras é que, com o hormônio em baixa, a saída encontrada é compensar o déficit com a ingestão exagerada de doces e, muitas vezes, até de massas. Detectar o problema é simples, garante o médico. De acordo com ele, exames de laboratório podem determinar o distúrbio. A solução é complementar a dieta com um suplemento que libera o precursor da serotonina diretamente na Sistema Nervoso Central. Muitas calorias Sobre o consumo excessivo, vale lembrar que, independentemente do teor de cacau, quantidade de leite ou adição de castanhas, por exemplo, chocolates são sempre bastante calóricos. Cem gramas do produto (média de 16 quadradinhos) têm quantidade de energia equivalente à de uma refeição balanceada (350 gramas), com arroz, feijão, carne e salada: cerca de 500 calorias. Editoria de Arte