(Lucas Prates)
Agir somente implantando bacias de detenção para conter enchentes ainda é uma forma de remediar o problema. Segundo o especialista em recursos hídricos Rodrigo Lemos, doutorando pela UFMG, é preciso entender a causa das cheias num contexto amplo.
“As inundações estão vinculadas à estrutura da cidade, como ela foi construída. Alaga sempre onde passa um rio que foi canalizado. Aquele é o fluxo natural da água. Mas, no nosso modelo de cidade, ocupamos essas áreas. De todas as ações que temos de remediação, poucas discutem o que foi feito para chegar a essa situação”, diz.
Para Lemos, as bacias de detenção e a ampliação das estruturas para vazão da água são medidas importantes, porém, se adotadas isoladamente, tornam-se ineficazes. “Não adianta fazer obras se a cidade vai ficando cada vez mais impermeável, se ainda se constrói em áreas de risco”.
Às vezes, não são necessárias obras, mas outros tipos de intervenções. “Em Washington, por exemplo, o governo exigiu telhados verdes, passeios com faixas permeáveis. A médio prazo, isso vai dando resultado e é mais sustentável”, exemplifica o especialista.
Incompetência
Médico e fundador do Projeto Manuelzão, de proteção das águas do rio das Velhas, o professor Apolo Heringer reforça este pensamento. Para ele, mais que um problema de má gestão dos recursos, os agentes públicos “não sabem lidar com as questões da natureza”.
“Temos um modelo de construção baseado em impermeabilização do solo. Tudo está ligado à drenagem da água. Existe hoje um divórcio entre a engenharia clássica e a ambiental. A clássica faz drenagem, a ambiental promove infiltração da água nos solos, recarregando os lençóis freáticos. Aí não tem inundações, e os rios vão ter água no período de seca”, enfatiza.
Como soluções, Heringer sugere algumas medidas. “A prefeitura deveria não autorizar mais cimento nos quintais e incentivar plantio de pequenas árvores e grama nessas áreas. Também não deveria permitir o uso de calhas”.
Córrego Cachoeirinha está confinado (Foto: Lucas Prates/Hoje em Dia)
CAPTAÇÃO
Nas ruas, o professor propõe a instalação de caixas secas, espécie de boca-de-lobo de dois metros de profundidade. A água da chuva armazenada na estrutura infiltra-se na terra gradativamente, em dois ou três dias, evitando inundações.
Respeitar a natureza também é a solução. O professor cita, por exemplo, o Norte de Minas. “Lá, chove bastante, mas é preciso barrar o desmatamento e incentivar os sistemas de infiltração”. Segundo ele, prevenir é barato, mas setores econômicos lucram com o modelo atual. “Ganham as empreiteiras que canalizam córregos e as indústrias, que, para controlar a seca, constróem barragens e canais”.