Cilada no Instafood: veja os erros mais comuns e as consequências das dietas de redes sociais

Anderson Rocha
27/03/2019 às 12:47.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:58
 (Fotos Pixabay)

(Fotos Pixabay)

Ao invés de consultório e planejamento personalizado, o paciente que busca o emagrecimento ou a hipertrofia escolhe seguir as dietas fáceis expostas pelas imagens bonitinhas do Instagram. Cilada, que traz riscos graves, como a diminuição da capacidade de emagrecimento posterior à dieta, frustração e até desmaios. 

O ideal, portanto, é consultar-se com um nutricionista. Mas e quando esses profissionais estão usando a rede social para dar orientações para a alimentação saudável e a perda de peso imediata? Dá para confiar?

Uma pesquisa, feita no Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Lavras (Ufla) e divulgada nesta semana, mostra que é preciso ter cuidado. O estudo afirma que um número crescente de nutricionistas tem usado o Instagram como veículo de divulgação de conteúdo equivocado. 

Dessa forma, ao indicar dietas restritivas e compostos alimentares que prometem efeitos milagrosos, há a violação do Código de Ética e de Conduta da profissão. Além disso, eles incentivam padrões de beleza que não condizem com a realidade, a partir de métodos duvidosos e de fotos de antes e depois.

“A partir do momento que você coloca uma foto de outra pessoa que seguia um determinado plano alimentar nas redes sociais, milhares de seguidores tentam se espelhar nas dicas ou no plano alimentar que o profissional posta. E isso é muito ruim, porque a pessoa tem outras necessidades, outra realidade socioeconômica, psicológica e fisiológica, além de patologias diferenciadas, como diabetes, obesidade e hipertensão. E isso não é analisado pela rede social”, pontuou Grayce Kelly de Andrade, nutricionista e pesquisadora responsável pelo estudo na Ufla. Leia mais abaixo.

Cilada virtual: quais são os riscos?

A nutricionista Natália de Carvalho Teixeira, doutora em Ciência de Alimentos e coordenadora do curso de Nutrição da Faculdade Kennedy de Belo Horizonte, explica que as redes sociais, sites e blogs criados para disseminar informações sobre nutrição muitas vezes contêm informações inverídicas ou incorretas. 

Além disso, eles trazem a maior cilada possível para quem busca uma dieta equilibrada ou de emagrecimento: a padronização do regime. "Uma dieta que serve e funciona para mim não necessariamente funciona bem para outra pessoa. Na consulta, o profissional constrói orientações personalizadas à idade, ao sexo, às condições fisiológicas, à agenda e também aos fatores sociais daquele paciente", explicou.

Dessa forma, seguir uma dieta de Instagram pode trazer diversos riscos. Veja:

- A dieta pode não funcionar, o que causa frustração e, consequentemente, problemas sociais e psicológicos; 
- A dieta pode funcionar parcialmente: a pessoa emagrece, mas como não foi uma dieta adequada, o ganho de peso retorna em seguida (efeito sanfona);
- O organismo torna-se mais resistente e fica mais difícil emagrecer em uma nova tentativa; 
- O organismo cria resistência à insulina, o que é grave; 
- A pessoa pode sofrer desmaios: há exemplos de pessoas que desmaiaram na academia ao fazer a dieta intermitente (longos períodos sem se alimentar). Quando é feito com acompanhamento, o profissional irá prever horários adequados de alimentação para que a situação não ocorra. 
- Dietas restritivas podem levar a transtornos psicológicos, como a anorexia (em que se reduz drasticamente o consumo alimentar) e bulimia (em que o paciente força o vômito após a refeição para evitar a absorção de nutrientes). 

Grayce Kelly de Andrade relembra que a qualidade da alimentação, a redução do peso ou a melhora de uma patologia ocorre ao longo do tempo. "Isso demanda uma reeducação alimentar do paciente”.

Adeus Instagram?

Não é bem assim. Segundo Grayce, o melhor é seguir perfis de professores universitários da área da Nutrição e consultar o site do Ministério da Saúde. 

Dietas de Instagram: quais são?

De acordo com Natália de Carvalho Teixeira, as dietas da moda podem ser divididas, basicamente, em duas áreas: as corretas, que são reconhecidas pela Nutrição, mas que precisam de cuidados extras para serem executadas pois não são indicadas a todas as pessoas; e as não-recomendadas. Veja:

- Reconhecidas

Dieta do jejum intermitente: o paciente faz jejum em períodos ao longo do dia;

Dieta low carb: reduz a quantidade de carboidratos ingeridos ao longo do dia.

- Não-recomendadas

Dietas malucas, como a da bela adormecida: a cliente busca dormir o maior período possível do dia para, assim, comer menos. 

Saiba mais: o estudo

O estudo de Grayce Kelly de Andrade que mostrou o aumento no número de nutricionistas no Instagram analisou as postagens de 51 nutricionistas, com mais de dois mil seguidores. Foram avaliados prescrição de cápsulas, fotos de antes e depois, orientação de dietas, descrições dos posts e comentários dos usuários.

Muitos dos perfis indicavam dietas sem glúten, sem lactose, low carb, jejum intermitente e baseadas no alto consumo de proteínas e lipídeos. 

“Por exemplo, existem muitas publicações falando que o glúten faz muito mal à saúde, que está relacionado ao ganho de peso. Mas existem poucas evidências científicas e artigos que falam sobre isso. O pão e outros alimentos que têm derivação do trigo estão inseridos na cultura da população brasileira”, explicou Grayce Kelly.

Muitas das informações são divulgadas sem embasamento científico. Segundo a pesquisadora, perfis que trabalham com referências científicas e dicas de alimentação que fogem das dietas restritivas geralmente possuem menos seguidores. 

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