(Flávio Tavares/Hoje em Dia)
O jogo poderia ser de 94 erros, equivalentes aos artigos do Código Brasileiro de Trânsito (CTB). Mas, nesse desafio de incivilidade urbana, sete foram escolhidos para iniciar uma série de reportagens sobre o atropelo às regras básicas da boa conduta. O Hoje em Dia foi às ruas e não só mostra problemas antigos e recorrentes como lança um questionamento: é possível uma convivência pacífica entre motoristas e pedestres em Belo Horizonte? Basta uma simples caminhada ou passeio de carro para perceber que essa batalha está sem solução à vista. Imprudentes, motociclistas aguardam apenas o primeiro piscar do sinal de pedestre para transformar a faixa em grid de arrancada. Motoristas de ônibus ignoram o espaço reservado para o desembarque e param o veículo longe dos pontos. Automóveis avançam o semáforo, estacionam em local proibido e ultrapassam os limites de velocidade. Desrespeitos diários, ocorridos a toda hora e em qualquer endereço, que causam indignação ao cidadão de bem, prejudicam o tráfego e oferecem risco às pessoas. Por dia, pelos menos 4 mil infrações de trânsito são cometidas em BH. A média foi obtida no balanço de multas do Detran de 2013. No ano passado, foram 1.462.255. Radares Mais da metade das multas (707 mil) foram registradas por equipamentos eletrônicos. O restante foi anotado por agentes da Guarda Municipal e Polícia Militar. “Os radares são fundamentais, pois flagram apenas quem está errado. Quanto mais, melhor. Mas só isso não basta. É preciso reforçar a fiscalização. O número de fiscais é insuficiente”, aponta o advogado especialista em trânsito Carlos Cateb. Segundo ele, que participou da elaboração do CTB em 1998, para combater o desrespeito no trânsito é preciso enfrentá-lo de maneira sistêmica. Em curto prazo, a primeira medida a ser tomada seria o endurecimento da legislação. “Infelizmente, a maioria das pessoas só respeita as normas quando a questão financeira está em jogo. Por isso, as punições precisam ser severas e rápidas”, aponta o advogado. Além de mecanismos ágeis de punição, Cateb defende uma reorganização em todo o sistema. “Não dá mais para esperar. As autoridades precisam despertar para os riscos e delitos existentes no trânsito. As campanhas são fracas. É preciso investir pesado na conscientização. O aprendizado deve começar cedo, ainda nas escolas”, diz. Assessor de comunicação do Batalhão de Trânsito (BPTran), o tenente Nagib garante que todos os militares da corporação são orientados a punir qualquer infração flagrada. Segundo ele, não basta a fiscalização. O trabalho de conscientização deve ser constante. “Nossa atuação é aleatória, dividida de forma estratégica em várias partes da cidade”, afirma. O militar também destacou os projetos junto à rede de ensino, como a Transitolândia. Em média, cem crianças participam das atividades, diariamente. “A agenda já está fechada até o fim do ano. A procura é muito grande”.