(Carlos Rhienck)
Menos de 10% da carga horária exigida nas aulas de legislação para a obtenção de uma carteira de motorista tratam de questões relativas à civilidade no trânsito. Resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) estabelece que das 45 horas obrigatórias na aprendizagem teórica apenas quatro tratem do assunto.
Na ponta do lápis, a limitação é ainda maior do que o previsto em lei. A temática abordada dentro de sala, chamada de “Convívio Social no Trânsito”, divide as quatro horas de ensino com “Noções de Proteção e Respeito ao Meio Ambiente”. Considerada “muito curta” pelas próprias autoescolas, a preparação dos novos condutores dá sequência à série de matérias do Hoje em Dia sobre incivilidade no trânsito de Belo Horizonte.
A busca pela convivência pacífica entre pedestres e motoristas, reforçando a prioridade absoluta a quem está a pé, é um dos pontos abordados nos centros de formação. “Aumentar a carga horária, dando mais destaque a questões de cidadania, é extremamente válido. Porém, isso não resolve a falta de respeito de quem está ao volante”, aponta o especialista em educação para o trânsito Ricardo Batista.
À frente do Movimento de Reformulação na Educação de Trânsito de Minas, criado em janeiro deste ano, Batista diz que o desrespeito precisa ser combatido de duas formas. Em curto prazo, com fiscalização atuante e punições rígidas. Em longo, de forma sistemática com campanhas e projetos pedagógicos nas escolas.
O presidente do Sindicato dos Proprietários dos Centros de Formação de Condutores de Minas Gerais, Rodrigo Silva, também considera o tempo exigido para o aprendizado pequeno, mas faz ressalvas.
“Se tivéssemos 200 aulas, ainda assim, a maioria dos novos motoristas seria desrespeitosa. É impossível a autoescola mudar uma questão cultural. O jovem chega aqui com 18 anos tendo visto vários erros cometidos pelos outros e acaba fazendo o mesmo quando tira a carteira”, diz.