Com posto de saúde, morador da ocupação Dandara aguarda reconhecimento da área como bairro de BH

Malú Damázio e Raul Mariano
horizontes@hojeemdia.com.br
21/12/2017 às 20:37.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:24
 (Rodrigo Clemente/PBH Divulgação)

(Rodrigo Clemente/PBH Divulgação)

Serviço de coleta de lixo, mercado, bares, igrejas e, agora, um centro de saúde. Com essa estrutura, típica de uma “cidade dentro da cidade”, a ocupação Dandara, na região da Pampulha, em BH, vai ganhando contornos de um bairro da capital. Com um plano de regularização urbanística em andamento, a comunidade aguarda por mais melhorias desde que foi instalada na área, em abril de 2009.

O posto de saúde, inaugurado ontem, marca a presença do primeiro equipamento público no espaço, alvo de muitas polêmicas e embate judicial nos últimos anos. Apesar da unidade médica, a área ainda carece de asfalto, energia elétrica, rede pluvial, escolas e creches. 

Com a implantação do centro de saúde, a moradora acredita que o assentamento está sendo visto pelo poder público. “É um ganho para nós”, diz.

Exemplo

Para a socióloga e professora da Faculdade de Educação da UFMG Inês Teixeira, a inauguração da unidade de saúde dentro do assentamento deve ser comemorada. Segundo ela, a iniciativa deve se repetir nas outras ocupações da cidade. 

A especialista destaca que os assentamentos da capital deveriam ser tratados como são os condomínios privados em construção, onde a estrutura com água e luz é providenciada antes mesmo da chegada do primeiro residente. “A moradia digna é um direito básico da população. Portanto, esse tipo de serviço já deveria existir nessas comunidades há muito tempo”.

A prefeitura garante obras de ampliação do acesso à saúde em outros assentamentos. Em 2017, foi aberto um centro de saúde para atender moradores do Rosa Leão e do Helena Grecco, na região Norte. A unidade abarca cerca de 7.500 pessoas que antes eram atendidas no Centro de Saúde Jaqueline, mas não tinham acesso a marcação de consultas e encaminhamento para atendimento especializado por não serem cadastradas no Sistema Único de Saúde (SUS).

Assistência

Treze contêineres formam a estrutura do centro de saúde do Dandara. A unidade é um anexo do posto do bairro Trevo, a um quilômetro de distância, onde os moradores iam em busca de atendimento médico. Agora, eles terão duas equipes de saúde da família e agentes comunitários na própria comunidade. 

“Apesar de serem (no Trevo) atenciosos com a gente, muitas vezes tínhamos que caminhar até lá doentes”, conta o caminhoneiro Alessandro Martins, de 47 anos, também morador da ocupação.

O novo centro de saúde também terá farmácia, distribuição de medicamentos e 25 funcionários para atender moradores dos 1.220 domicílios já mapeados no local. A coleta de material para exames e a vacinação, porém, ainda serão ofertadas somente no bairro vizinho.Samuel CostaOcupação Dandara foi instalada em 2009, num terreno particular

Plano de regularização urbanística

O plano de regularização urbanística do Dandara começou a ser elaborado em agosto, com previsão de ser concluído no primeiro semestre de 2018, e busca levantar as demandas da comunidade e garantir acesso dos moradores ao serviço público.

Além da unidade de saúde recém-inaugurada, a comunidade já tem coleta de lixo três vezes por semana. Por causa das ruas de terra, os resíduos são deixados em pontos estratégicos para serem recolhidos.

Os cerca de 4 mil moradores da ocupação estão sendo cadastrados para terem acesso aos serviços oferecidos pela Prefeitura de Belo Horizonte. “A importância dessa ação é a inclusão deles na sociedade. Eram cerca de 32 mil moradores de ocupações sem acesso aos serviços de saúde”, observou o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, que participou da inauguração do centro de saúde no Dandara. O prefeito Alexandre Kalil também participou da solenidade.

Regularização fundiária

Sobre a regularização fundiária do assentamento, a PBH informou, por meio da assessoria, que isso só poderá ser feito após resolvidas as questões judiciais que envolvem a desapropriação do terreno, uma vez que se trata de área particular. Em nota, o Executivo disse que as ruas poderão ser oficialmente reconhecidas após esse processo. 

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