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Nos últimos quatro anos, a criação de políticas públicas para inclusão da temática da igualdade racial nas escolas estaduais ajudou a mudar a realidade de muitos jovens que sofrem com o racismo diariamente.
“Em 2015, apenas 20% das escolas da rede estadual de Minas Gerais tinham projetos relacionados à História da África e cultura afro-brasileira. Hoje, esse percentual ultrapassa 80%”, sinaliza a superintendente de Modalidades e Temáticas Especiais de Ensino da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Iara Pires Viana.
No Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, a educação estadual tem motivos para comemorar os avanços conquistados desde 2015.
“Os trabalhos em sala de aula têm contribuído para aumentar a autoestima dos estudantes que, muitas vezes, viviam situações de racismo e discriminação racial e não conseguiam se posicionar frente a esses tipos de situação”, afirma Andréia Martins da Cunha, coordenadora da Educação das Relações Étnico-raciais da SEE.
Conscientização
Aluno da Escola Estadual José Luiz de Carvalho, localizada em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Arthur Gonçalves Peres, de 19 anos, é um dos 1.128 estudantes que participam dos Núcleos de Pesquisas e Estudos Africanos e Afro-brasileiros e da Diáspora (Ubuntu/Nupeaas).
“Os núcleos foram criados para levar a experiência de pesquisa e extensão aos estudantes da rede estadual de ensino e, ao mesmo tempo, estabelecer, por meio da produção de novos conhecimentos, outros espaços e tempos pedagógicos favoráveis à promoção da equidade racial e ao desenvolvimento escolar dos jovens do ensino médio”, explica Andréia Cunha.
Na escola de Arthur, o trabalho é conduzido pelo professor de História, Ronildo Geraldo da Silva. O foco da pesquisa são os saberes tradicionais populares, especificamente o das benzedeiras do Quilombo Urbano Nossa Senhora do Rosário.
“O objetivo foi desconstruir o preconceito que existe no Brasil em relação à religiosidade africana. Nossa construção social desmereceu o que veio da África, como se fosse algo ruim, inferior. Com a pesquisa, os estudantes se conscientizaram de que se trata, apenas, de uma religiosidade diferente e que merece respeito”, destaca Silva.
“A pesquisa me ajudou a entender que a religiosidade deles é uma tradição cultural, passada de geração para geração, mas muitas pessoas acham que é algo ruim. É preciso debater o racismo na escola. Antes de fazer essa pesquisa, eu não percebia isso”, diz o estudante Arthur Peres.
O Ubuntu/Nupeaas integra o projeto Iniciação Científica no Ensino Médio e faz parte do Programa Afroconsciência, desenvolvido pela SEE.
“As ações de fomento do programa têm ajudado a ampliar a consciência de todos os estudantes quanto à necessidade de se combater o racismo, não só dentro da escola, mas em todas as instâncias sociais”, enfatiza Andréia Cunha.
Resultados das pesquisas
No último mês de outubro, professores-orientadores e estudantes-pesquisadores dos núcleos apresentaram os resultados de suas pesquisas no X Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as (Copene), realizado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
O evento reuniu professores, pesquisadores e estudantes das mais diversas instituições acadêmicas de todas as regiões do Brasil, ativistas dos movimentos sociais e convidados estrangeiros.
A próxima etapa será a exposição dos trabalhos no hall do Prédio Minas, na Cidade Administrativa, desta segunda-feira (19/11) até a próxima sexta-feira (23/11). A exposição “Itinerários Nupeaas: a construção de uma escola antirracista” compõe a programação do Mês da Consciência Negra e tem como objetivo dar visibilidade ao projeto.
“O foco da exposição é destacar o protagonismo dos nossos jovens e também o trabalho inovador realizado pelos professores do ensino médio de nossa rede. Também estão previstas apresentações em feiras de ciências e nas atividades da Semana de Educação para a Vida em diversas escolas do estado”, frisa Andreia Cunha.
Expansão
O planejamento da Secretaria de Estado de Educação para 2019 prevê a ampliação do número de núcleos de pesquisa por meio do lançamento de um novo edital, além do fortalecimento dos 94 núcleos já implantados. Para isso, o órgão estadual aposta em novas parcerias e na consolidação das que já existem.
Atualmente, os parceiros do projeto são a Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), responsável pela seleção dos professores das IES que atuam como tutores dos núcleos, e a Ação Educativa, ONG responsável pelo monitoramento qualitativo do projeto e autora dos Indicadores de Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola (Indiques), metodologia utilizada pelos núcleos para a coleta e análise de dados relativos ao racismo e discriminação racial no contexto escolar.
“Recentemente conseguimos um novo parceiro, a Saga. Trata-se de uma empresa do setor privado especializada no ensino de desenvolvimento de jogos digitais e em cursos de computação gráfica. A empresa vai promover oficinas para os todos os estudantes que participam dos núcleos. A parceria representa uma oportunidade valiosa de associar os trabalhos de pesquisa produzidos pelos núcleos à linguagem tecnológica do universo digital”, assinala Andréia Cunha.
Caminhada
Para marcar o Dia Nacional da Consciência Negra, a Secretaria de Estado de Educação também promove, nesta terça-feira (20/11), a IV Caminhada da Promoção da Igualdade Racial. O evento será realizado simultaneamente em todo o estado. Em Belo Horizonte, o ato acontece na Cidade Administrativa, a partir das 8h.
A expectativa da Secretaria de Estado de Educação é a de que, assim como nos anos anteriores, o ato mobilize não só estudantes e funcionários mas também as comunidades e instituições de ensino municipais localizadas no entorno das escolas estaduais.