Condições críticas do tempo em BH são real ameaça à saúde

Letícia Alves e Ricardo Rodrigues - Hoje em Dia (*)
16/10/2014 às 07:58.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:38
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

As condições críticas do tempo em Belo Horizonte, evidenciadas pelos sucessivos recordes de calor e por uma névoa de poluição que encobre a cidade, são uma real ameaça à saúde da população. Especialistas recomendam evitar a exposição direta ao sol, uma vez que o índice de radiação ultravioleta (UV) atingiu, nessa quarta-feira (15), o nível 12, considerado extremo.

Isso significa que um maior nível de raios nocivos chega à superfície – a escala vai de 1 a 14. As altas temperaturas e o ar seco são os responsáveis pela piora nas condições atmosféricas. “Quando há poucas nuvens e muito calor, a radiação passa mais facilmente”, explica o meteorologista Dayan Diniz de Carvalho, do Centro de Climatologia TempoClima da PUC Minas.

Quanto maior o índice UV, maior é o risco de desenvolvimento de câncer de pele. A recomendação é utilizar protetores ou bloqueadores solares diariamente. O ideal é que o produto tenha fator de proteção superior a 30 e seja aplicado pelo menos três vezes ao dia.

“É preciso exposição prolongada para desenvolver câncer de pele, mas, num país tropical como o nosso, em um momento crítico como esse, a proteção solar deve ser uma rotina”, alerta o oncologista Amândio Fernandes.

Nessa quarta, a capital registrou a temperatura mais alta do ano (36,2°C). A umidade do ar ficou em 15%, índice também alarmante.

A poluição, que forma uma névoa cinza em BH, é causa também de problemas respiratórios. O fenômeno, segundo o meteorologista Carvalho, decorre do acumulo de aerossóis, como a poeira e a fuligem. “Isso piora a qualidade do ar, que só deve mudar com as chuvas”.

O quadro irá se estender pelo menos até segunda-feira, quando uma frente fria está prevista para chegar a Minas, baixando as temperaturas para a faixa dos 25°C. Nessa quarta, choveu de forma branda em alguns pontos do Barreiro e em Contagem (Grande BH), quebrando um ciclo de 40 dias de estiagem.

DESCONFORTO

Enquanto as condições do tempo não mudam, belo-horizontinos se viram como podem para driblar o calor. A estudante Stella Maia Queiroz, de 20 anos, tem recorrido ao guarda-chuva para se proteger. “Tenho a pele muito sensível e já estou com ela trincando por causa do sol. Está muito quente nesses dias”, disse a jovem, que também não dispensa o protetor solar.

“Está muito abafado. Quando a gente sai de uma loja com ar-condicionado, sente um choque térmico”, afirmou a estudante Juliana Franco, de 22 anos. Ela aproveitou a quarta-feira de folga na faculdade para passear na Savassi com as amigas Luiza Grossi e Maitê Nardy.

Quem trabalha de terno e gravata tem enfrentado mais dificuldades com o calor. Vários colegas de trabalho do advogado Marco Túlio Rodrigues, de 43 anos, já passaram mal no Fórum Lafayette. “Tenho 15 anos de trabalho e nunca vi uma situação assim”. (Com Patrícia Santos Dumont)

Maioria dos poços artesianos é clandestina

Pelo menos 85% dos poços artesianos do país não têm outorga de perfuração, de acordo com estimativa de especialistas reunidos no 18º Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, em Belo Horizonte. O cálculo tem por base o número de bombas d’água fabricadas no país, das quais a metade vai para poços novos.

“Como não existe outorga em todos os Estados, esse é um levantamento grosseiro, mas é o máximo que conseguimos fazer. Estatísticas são complicadas. Não se sabe ao certo quantos poços existem no país”, disse o geólogo Everton de Oliveira, diretor da Hidroplan, empresa de consultoria pioneira em hidrogeologia de contaminação. “Penso em cem mil poços clandestinos”.

Em São Paulo, metade das cidades usa exclusivamente água de poços subterrâneos. Apenas 25% dos municípios captam água superficial. A capital tem 8 mil poços de captação. “Há um bombeamento contínuo de água subterrânea em São Paulo. As empresas que perfuram poços estão aceitando pedidos só para depois de maio de 2015”, afirmou Oliveira.

Segundo ele, o uso da água subterrânea gera conflito de interesse de mercado, porque o usuário não paga pela distribuição, feita por empresas de economia mista, como a Copasa e a Sabesp. “Trazer as pessoas para a legalidade custa caro. Poço feito de modo regular é mais caro, mas garante a qualidade da água e a longevidade. Poço bem feito dura 50 anos”.

O manancial subterrâneo, que já tem contribuído muito para aliviar a crise do abastecimento de água, poderá contribuir muito mais, desde que haja uma gestão eficiente e integrada com os recursos hídricos superficiais, defendeu o presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas em Minas Gerais (Abas-MG), Carlos Alberto de Freitas.

Coordenador do Congresso e professor da UFMG, Celso de Oliveira Loureiro cobrou um plano estratégico para enfrentar o desabastecimento. “A maior parte dos poços é clandestina, porque falta gestão para utilizar bem esses recursos. É preciso investir em reciclagem e fazer voltar a água mais próxima do reúso, para garantir a recarga dos aquíferos”.

GUIA CONTRA O CALOR

- Devo usar blusa de manga longa? Sim, mas com tecidos mais leves. Hoje, existem camisas especificas com filtro solar.

- O que é melhor, água gelada ou em temperatura ambiente?
Os dois, mas deve-se evitar água muito gelada, pois pode contribuir com o desenvolvimento de infecções latentes, como as de garganta.

- Ficar em ambientes com ar-condicionado é o ideal?
O certo é evitar a exposição prolongada, já que o equipamento pode ressecar as vias respiratórias e causar irritação de mucosas e garganta.

- Devo tomar banho frio?
O banho frio, mesmo sendo incômodo, é a melhor opção nos dias de calor, pois abaixa a temperatura do corpo. À noite, se não for possível, pode-se optar pela água morna.

Fonte: Diógenes Alcântara, médico e diretor do site Preparatório Saúde

(*) Com Patrícia Santos Dumont

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