(EUGENIO MORAES)
A presidente da Copasa, Sinara Meireles, tem 15 dias para explicar à Assembleia Legislativa como a estatal enfrenta a crise hídrica que afeta o abastecimento em mais de cem municípios mineiros. Ela foi convocada a apresentar os dados no dia 12 de novembro em audiência pública na Comissão Extraordinária das Águas.
Sinara terá de mostrar relatório detalhado sobre o fornecimento de água, a captação e o tratamento de esgoto nos 635 municípios onde a Copasa tem concessão, segundo o presidente da comissão, deputado Iran Barbosa (PMDB). Ele afirma que muitas cidades estão reclamando dos serviços e de “descumprimento de contrato”. Montes Claros (Norte) e Pará de Minas (Centro-Oeste) romperam os contratos com a empresa neste ano.
A comissão investiga ainda se suspensões do abastecimento para manutenção preventiva têm sido usadas para justificar possível “racionamento velado”. “Queremos que a Copasa apresente quais obras efetivas foram executadas e se são necessárias tantas interrupções no abastecimento”, diz Iran Barbosa.
O deputado João Vítor Xavier (PSDB), que também faz parte da comissão, ressalta que 3 milhões de pessoas ficam sem água todo fim de semana em Minas. “Não é admissível. Não parece ser manutenção de rede pública, mas uma maneira de fazer o rodízio velado”, afirma.
Torneira seca
Das 34 cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte, 19 sofreram cortes neste mês. A capital foi a mais afetada, com 17 dias de interrupção de abastecimento sob alegação de reparos na rede, que atingiram mais de 200 bairros, de acordo com informações do Twitter da Copasa. Sabará teve cortes em 12 dias. Em Betim e Lagoa Santa, foram 11.
No restante do Estado, de 14 de outubro até nessa terça (27) houve cortes em 116 cidades. As mais afetadas foram Montes Claros (nove dias), Varginha (nove) e Teófilo Otoni (seis). Em Conselheiro Lafaiete, Divinópolis, Coromandel, Curvelo e Santo Antônio do Monte foram cinco dias de cortes.
Os deputados vão cobrar da Copasa ações para reduzir o desperdício e incentivo para quem economizar água. “Queremos esclarecimentos sobre as medidas para reduzir os vazamentos do sistema de abastecimento e o que foi feito desde o início do ano para coibir o desperdício”, destaca Iran Barbosa.
“É uma aberração a Copasa pedir à população que economize 30% no consumo enquanto ela admite que desperdiça 40% da água captada. Lisboa (em Portugal) perde 4%”, exemplifica João Vítor Xavier.
Para evitar desperdício, lava-jatos da capital apelam para mecanismos de reúso da água
Com medo de que as torneiras sequem, moradores tentam encontrar maneiras para economizar. Lava-jatos de BH adotaram medidas para gastar menos água. No posto Araponga, no bairro Santa Efigênia (Leste), 2,5 mil litros são economizados por dia graças ao sistema de reúso implantado há seis meses. “Conseguimos uma economia de 60%”, garante o gerente do posto, Edmar de Almeida Santos.
No lava-jato Brasil, o sistema de reúso será instalado nos próximos dias. “Falta colocar a plataforma para reutilizarmos 90% da água”, afirma o supervisor do estabelecimento, Wallace Cipriano. Segundo ele, a proposta é aumentar a procura pelo serviço, que teve queda de cerca de 30% após falhas no fornecimento de água.
Mais rigor
A meta da Copasa de reduzir de 40% para 30%, até 2018, a perda de água tratada, é criticada por especialistas. Eles cobram mais rigor com o desperdício provocado por furos nos canos, redes defeituosas e carentes de manutenção e ligações clandestinas.
Tendo em vista que o aceitável no mundo é metade do desperdício que a Copasa registra, os especialistas consideram modesta a meta da estatal. Também criticam o prazo de quatro anos, uma vez que a população mineira foi convocada a reduzir o consumo em 30% em apenas três meses, sob pena de racionamento e sobretaxa.
Professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG, Marcelo Libânio diz que é possível reduzir a perda de água tratada se a Copasa instalar tubulações mais novas, trabalhar com pressões mais baixas e rejuvenescer o parque de hidrômetros.