(Luiz Costa)
A ausência de obras viárias transformou uma das mais importantes avenidas de Belo Horizonte, a Raja Gabaglia, em um problemático corredor. Congestionamentos diários são registrados no local que, há mais de uma década, não é contemplado com melhorias para o trânsito.
Com seis quilômetros de extensão, quase toda a via conta com apenas duas faixas, em cada sentido, para atender aos bairros Cidade Jardim, Gutierrez, Luxemburgo, Coração de Jesus, São Bento, Santa Lúcia, Belvedere, entre outros. Só nos últimos mil metros, para quem segue rumo ao BH Shopping, houve ampliação para quatro pistas.
A situação chegou a um ponto tão crítico que, segundo especialistas em trânsito, os gargalos só podem ser resolvidos com intervenções mais complexas, de médio ou longo prazo.
ESTREITA
Os problemas eram previstos antes mesmo da construção da via, afirma Márcio Aguiar, coordenador do curso de Engenharia de Transportes da Fumec. Pelo projeto original, a Raja Gabaglia deveria ser larga como a avenida Afonso Pena. No entanto, o poder público cedeu à pressão de donos do loteamento e aos interesses imobiliários, construindo um corredor estreito.
Hoje, totalmente ocupada por empreendimentos de grande porte, a indenização pela desapropriação de comerciantes e moradores seria inviável, observa Paulo Rogério da Silva Monteiro, mestre em engenharia de transporte e professor da UFMG.
A solução estaria em investimentos em transporte público eficiente. “Mas algo semelhante ao BRT/Move não basta. BH tem que começar a pensar em um sistema subterrâneo ou aéreo”, avalia Márcio Aguiar. Em 2010, um grupo de engenheiros, do qual ele faz parte, chegou a apresentar à BHTrans um estudo sobre as vantagens da implantação de um monotrilho. “O sistema é mais barato que um metrô”, compara.
Outra opção, segundo Paulo Rogério, é intervir em vias paralelas, como a Nossa Senhora do Carmo, ou no Anel Rodoviário e na BR-040 que, em muitos casos, podem ser utilizadas como rotas alternativas. “De qualquer forma, ficamos reféns da vontade política. No caso das estradas federais, por exemplo, dependeríamos de recursos da União”, observa.
Transtornos não faltam no dia a dia
Quem vive ou trabalha na região conhece bem os transtornos enfrentados todos os dias. Leonardo Lacerda, por exemplo, demora cerca de 40 minutos para atravessar a Raja até chegar ao serviço, que fica na altura da avenida Barão Homem de Melo. “Aqui, o trânsito não respeita o horário de pico. Já tem congestionamento antes das 7h. Nem adianta trabalhar em um horário alternativo”, afirmou o vigilante.
Gerente de uma padaria na Raja e morador na região há mais de 30 anos, Antoninho Martinez acredita que a avenida foi mal planejada. “Atendendo a tantos bairros, ela não poderia ser estreita dessa forma. As mudanças deveriam ter sido feitas há alguns anos. Agora, é tarde demais. Vai chegar o dia em que, com tantos carros, ninguém vai sair do lugar”.
Quem escolhe andar a pé para fugir do trânsito depara com mais problemas. Não há passarela em todo o corredor. Em outros trechos, a falta de faixas de travessia expõe pedestres a riscos de atropelamento.
Uma travessia só é encontrada em frente à Casa Raja Hall. Depois desse ponto, o usuário só encontra um novo local seguro para atravessar próximo ao BH Shopping, a um quilômetro de distância.