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Não há mais fronteiras para o comércio de maconha em Minas. Dados das polícias Civil e Federal mostram que o tráfico deixa de se concentrar na Grande Belo Horizonte e se pulveriza pelo interior. Para agravar a situação, cresce o número de apreensões da droga no Estado, reflexo direto do aumento da produção da erva no Paraguai. De janeiro a maio deste ano, a Polícia Civil registrou quase 25 mil ocorrências de apreensões de drogas diversas, a maioria maconha, no Estado. Na RMBH, foram cerca de 6 mil. No ano passado, os números seguiram a mesma proporção (veja quadro). O avanço das drogas para o interior de Minas, segundo o delegado Francis Dinis Guerra, do Departamento Antidrogas em Pará de Minas (região Central), está relacionado ao aumento do consumo. “O transporte do entorpecente pelo interior estimula o tráfico de drogas regional e, com isso, desperta o interesse do usuário”, explica. A expansão, afirma ele, resulta do fato de o consumo estar em todas as classes sociais. “Na zona rural, a droga aparece como um estimulante para que o produtor consiga desempenhar seu trabalho, que exige bastante força”, diz Francis Guerra. DISPONIBILIDADE A farta disponibilidade também impulsiona o uso de drogas, acreditam especialistas em segurança pública. E boa parte dos grandes carregamentos de maconha apreendidos em Minas e no Brasil tem origem no Paraguai. Dados da Secretaria Nacional Antidrogas do país vizinho mostram que a área cultivada de Cannabis sativa subiu de 6 para 8 hectares no ano passado. Estima-se que cada hectare tenha 48 mil pés da planta. O cultivo, ilegal no país, ocorre em terras de camponeses, que acabam ameaçados por traficantes. “O aumento da oferta gera um circulo vicioso, que vai desde a compra de maior quantidade de entorpecente até a elevação de quantidade de usuários”, diz o chefe da Delegacia de Repressão a Drogas da Polícia Federal, Elster Moraes. Como em qualquer mercado consumidor, a oferta em alta provoca queda nos preços. “A consequência é o aumento do consumo”, reforça o delegado Francis Guerra. LOGÍSTICA A extensa malha rodoviária do Estado também facilita a chegada do entorpecente ao interior. “Minas deixa de ser apenas a rota de transporte de drogas e passa a alimentar o comércio ilegal do interior, em pequena escala. Isso faz com que o tráfico local cresça significativamente”, diz o coordenador de Combate e Repressão ao Tráfico Ilícito de Entorpecentes do Ministério Público, promotor Jorge Tobias de Souza. CARREGAMENTOS COM MAIS DE 1 TONELADA SÃO COMUNS Com a vasta produção de maconha no Paraguai, o trabalho das polícias Civil e Federal em Minas é interceptar os carregamentos ilegais que chegam daquele país. Em julho, a PF apreendeu mais de seis toneladas de maconha em Pará de Minas e mais de uma tonelada em Paraopeba, ambas na região Central. “Essas operações possibilitaram a retirada de circulação uma quantidade significativa de entorpecentes, além de identificar e prender os responsáveis por esse comércio ilegal”, explica o chefe da Delegacia de Repressão a Drogas da Polícia Federa, Elster Moraes. Ao todo, oito pessoas foram presas por suspeita de envolvimento com o tráfico de drogas. No Mato Grosso do Sul, Estado próximo ao Paraguai, a Polícia Federal apreendeu, apenas no primeiro semestre de 2015, 22 toneladas de maconha. Em todo o ano passado, os números não ultrapassaram 14 toneladas. São Paulo também aparece com grandes apreensões de maconha. No mês passado, a Polícia Civil interceptou três toneladas, em ocorrências diversas. OUTRAS Mas não é apenas a Cannabis sativa que está na mira da polícia. No ano passado, foram recolhidos mais de 500 quilos de cocaína, quase 19 mil comprimidos de ecstasy e 900 micropontos de LSD. “O crack circula em pequenas quantidade e acaba dificultando grandes apreensões”, diz o delegado do Departamento Antidrogas em Pará de Minas, Francis Guerra. Em 2014, foram apreendidos 550 quilos de crack em Minas. “Estamos fechando o cerco nas fronteiras do país e nas divisas dos estados para interceptar esses carregamentos, que vêm, em grande parte, pela malha rodoviária” (Elster Moraes - Chefe da Delegacia de Repressão a drogas da PF)