Cresce o número de mortes de crianças por acidentes envolvendo rede elétrica

Alessandra Mendes
amfranca@hojeemdia.com.br
25/03/2016 às 16:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:38
 (CRISTIANO MACHADO)

(CRISTIANO MACHADO)

O lar, muitas vezes tido como o ambiente mais seguro para as crianças, é também o local onde as mesmas estão vulneráveis a diversos tipos de acidentes, inclusive aqueles envolvendo a eletricidade.

Na maioria das vezes, é em casa que os pequenos têm contato com tomadas, fios e eletrodomésticos, causadores de choques elétricos que podem ir de leves a graves. Um risco que sempre existiu, mas que agora acende o alerta de pais e especialistas por causa do aumento do registro de óbitos infantis.

O número de crianças que morreram em decorrência de choque elétrico no país aumentou 60% em 2015 com relação ao ano anterior. De acordo com dados da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), no ano passado, os acidentes com eletricidade causaram 32 mortes de crianças de 0 a 5 anos de idade. Em 2014, foram registrados 20 casos deste tipo.

Além dos casos fatais, há ainda aqueles em que os cuidados devem ser intensos, feitos por especialistas dentro de uma unidade de saúde. No ano passado, foram 15 crianças de 0 a 12 anos atendidas no Hospital João XXIII por causa de acidentes na rede elétrica. Neste ano, até o dia 20 de março, foram três atendimentos.

“Os casos mais graves que registramos são de crianças que estavam soltando pipa e acabaram entrando em contato com a fiação elétrica da rua, de intensidade maior. Já os casos dentro de casa estão relacionados a tomadas e fios. No caso de crianças menores, é preciso ter cuidado especial com o contato de fios com a boca, que pode provocar queimaduras mais graves”, explica o coordenador da Cirurgia Plástica e da Unidade de Tratamentos de Queimados do Hospital João XXIII, Marcus Vinícius Mafra.

As crianças menores, assim como os idosos, têm capacidade menor de recuperação de acidentes com queimaduras, por isso o cuidado nesses casos deve ser redobrado.

“As queimaduras elétricas geralmente são de 3º grau, mais profundas. O tratamento, que pode levar de semanas a meses, inclui muitas cirurgias para limpeza e, em alguns casos, enxerto de pele”, afirma o médico.

627 mortes por choques foram registradas em 2014 em todo o Brasil, de acordo com dados da Abracopel, o número inclui todas as faixas etárias

Risco doméstico

O que vai determinar a gravidade da queimadura é a intensidade da rede elétrica. Entretanto, mesmo que nas residências a voltagem seja menor do que na rede da rua, por exemplo, isso não significa necessariamente que o risco não exista.

Das 32 mortes de crianças por eletricidade registradas no ano passado, apenas quatro foram consequência de acidentes fora de casa, com fio partido na rua e contato com poste ou grade metálica.

Além dos acidentes, os problemas na rede elétrica ainda podem provocar curto-circuitos. A região Sudeste lidera o número de incêndio por curto-circuito, com 125 casos em 2015.EDITORIA DE ARTE / N/A

Prevenção pode zerar chance de choque elétrico doméstico

Quando o assunto é o risco da eletricidade para as crianças, é preciso saber que os vilões estão bem mais perto do que parecem, espalhados por diversos cantos da casa.

Os acidentes domésticos mais comuns são os relacionados ao contato dos pequenos com tomadas sem proteção, fios desencapados, benjamins (Ts) e eletrodomésticos, como ventiladores, geladeiras e máquinas de lavar. O acidente, nesse caso, ocorre pela fuga de corrente desses aparelhos.

Para o engenheiro eletricista consultor do Instituto Brasileiro do Cobre (Procobre), Hilton Moreno, todos os acidentes com eletricidade são evitáveis, especialmente os que envolvem crianças pequenas dentro de casa. “A instalação de um dispositivo diferencial residual (DR) no quadro de eletricidade da residência evitaria o problema”.

Segundo o especialista, o dispositivo, cuja obrigatoriedade de uso é prevista em norma, evita que a corrente elétrica cause dano à pessoa que toca a tomada.

“Com a instalação do DR, uma criança pequena que coloca o dedo na tomada ou tenta introduzir algum objeto na saída de energia fica imune ao choque. O DR desliga a energia em 20 milissegundos, evitando que a corrente elétrica se propague”, explica o engenheiro.

Aprendizado

Para conscientizar e orientar moradores sobre os riscos dos acidentes causados por eletricidade, foi criado um site interativo que dá dicas sobre o sistema elétrico e alerta para o risco em cada cômodo da casa.

Por meio do Programa Casa Segura (programacasasegura.org), criado pelo Instituto Brasileiro do Cobre, é possível fazer uma rápida avaliação das instalações elétricas domésticas e visitar os cômodos de uma casa virtual.

Ao navegar no site, o visitante clica nos ícones sofá (que representa a sala), mesa de computador (escritório) e tem acesso a dicas de segurança.

  

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