(Lucas Prates)
Há nove meses, a empresária Carina* recebe mensagens com intimidações e xingamentos pelas redes sociais e celular de uma pessoa que ela sequer conhece. Com medo, a mulher registrou um boletim de ocorrência. Assim como ela, milhares de mineiros prestaram queixa na polícia para denunciar crimes cibernéticos.
Só neste ano, de janeiro a agosto, foram 15.872 vítimas no Estado, uma média de 65 por dia. A quantidade é 15% maior se comparada ao mesmo período de 2016. A ameaça está entre os que delitos mais relatados em 2017, com 5.465 ocorrências.
Terra de ninguém
“Os criminosos continuam porque estão tendo sucesso, mas eles desconhecem que podem ser rastreados, mesmo em perfis falsos”, alerta o presidente da Comissão de Crimes Eletrônicos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB–MG), Luis Felipe Silva Freire.
“No começo, eu realmente não ligava. Mas depois as coisas ficaram mais sérias. A mulher começou a adicionar meus amigos, familiares e até clientes. Foi quando resolvi fazer um boletim de ocorrência”.
“Só consegui resolver quando a polícia a notificou, mas, para mim, não teve fim. Ela ainda me vigia, manda mensagens. Nada de definitivo acontece, ela não será presa, então continua (a agir)”, lamenta.
Segundo Luis Felipe Silva Freire, as punições para crimes na rede são as mesmas para as praticadas “na vida real”. Em caso de ameaça, por exemplo, a pena prevista é a de um a seis meses de detenção ou multa.
Como se proteger
Estelionato também está entre os principais crimes cibernéticos. Mesmo conhecendo os riscos, muitas pessoas continuam a clicar em links de remetentes desconhecidos ou compartilham dados e informações particulares em redes sociais. Porém, o delegado Frederico Abelha, da Delegacia Especializada em Crimes Cibernéticos, alerta o consumidor a estar atento a links e e-mails suspeitos. Outra dica é realizar compras somente em sites seguros. Para verificar, é preciso conferir o cadeado que aparece do lado esquerdo da página, na parte de cima da tela.
“Na internet há pessoas tentando se aproveitar da ingenuidade alheia. Não existem promoções milagrosas e bancos não pedem dados nem atualizam informações on-line. Se desconfiarem de alguma coisa, entrem em contato com o gerente da agência”, orienta Abelha.
Para quem já foi vítima, a recomendação é ter em mãos todos os documentos que comprovem o crime e procurar a delegacia. Caso haja necessidade de medidas judiciais, será preciso acionar um advogado.
Casos mais simples ficam de fora das estatísticas
Os números de ocorrências relacionadas a crimes cibernéticos chamam a atenção, mas poderiam ser bem maiores. Entretanto, muitas pessoas preferem resolver o problema sem acionar as autoridades.
Diferentemente da divulgação de imagens íntimas, a criação de perfis falsos, por exemplo, dificilmente causa transtornos para serem retirados do ar. Do mesmo modo, fraudes bancárias eletrônicas, relacionadas ao uso de internet banking e compras on-line, podem ser imediatamente reparadas pelos bancos.
Esse, inclusive, foi o caso da empresária Camila Campolina, de 25 anos. Ao tentar acessar a conta bancária pelo computador, teve a senha roubada por criminosos. Eles conseguiram fazer uma transação de R$ 4 mil. “Quando percebi, entrei em contato com o gerente e ele rapidamente devolveu o valor. Foi fácil, não vi necessidade em ir até à polícia”, conta.
Interessante
“Para mim, isso é mais do que querer seguidores. É como se minha vida fosse mais interessante, e é isso que as pessoas querem mostrar”, opina Joana.
De acordo com o presidente da Comissão de Crimes Eletrônicos da OAB–MG, Luis Felipe Silva Freire, esse caso é configurado como dano à imagem, mesmo que as informações não sejam utilizadas de forma pejorativa. O delito poderia ser denunciado.
No entanto, o especialista acredita que, em situações como essas, o problema é resolvido facilmente e causa pouco dano à pessoa. “O banco devolve o dinheiro rapidamente, e as redes sociais deletam os perfis falsos após denúncia. Tudo depende do tanto que prejudica a vítima. Se causa transtorno, a polícia deve ser procurada”, finaliza.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Polícia Federal (PF) renovaram ontem acordo de cooperação técnica para o combate às fraudes bancárias eletrônicas. Com o convênio, analistas das instituições financeiras irão a Brasília para fortalecer o trabalho de inteligência na repressão a esse tipo de crime.
O convênio regulamenta os procedimentos dos bancos para comunicar, à PF, suspeitas ou confirmação de delitos. Dessa forma, segundo o diretor de Negócios e Operações da Febraban, Leandro Vilain, o processo de comunicação e inteligência será agilizado, com o compartilhamento de informações e de tecnologias. O termo prevê, ainda, o desenvolvimento de estudos técnicos e profissionais, bem como a elaboração e produção de documentos de segurança. O diretor-geral da PF, Leandro Daiello, também propôs discussões para uma futura parceria público-privada voltada ao combate de crimes cibernéticos.
Na primeira assinatura do acordo, em 2009, cerca de 15 bancos aderiam à iniciativa. Com a renovação do acordo, a Febraban espera aumentar o número de instituições financeiras fornecedoras de informações importantes para a repressão ao crime organizado.
Editoria de Arte