(Reprodução WhatsApp)
Pelo menos quatro episódios de violência acontecem diariamente no interior dos ônibus de Belo Horizonte. Dados da Polícia Militar revelam que, de janeiro a agosto, foram 969 ocorrências de roubo, estupro, agressão e lesão corporal, delito que cresceu 29% na comparação com o mesmo período de 2017.
A insegurança é sentida na pele por motoristas e cobradores. Há relatos de ataques verbais constantes e até espancamentos com o veículo em movimento.
A intolerância tem sido tão alta que um condutor da linha 708 (Conjunto Felicidade/Estação São Gabriel) foi agredido por um passageiro que não pôde esperar quatro minutos para a partida do coletivo.
Tenoro de Oliveira, de 32 anos, conta que um jovem o perguntou quanto tempo faltava para o início da viagem e, ao ser informado, saiu do veículo impaciente. “Ele voltou perguntando a mesma coisa. Respondi e ele ironizou, dizendo que eu estava fazendo hora, e veio para cima de mim com socos e pontapés”.
O episódio traumático não apenas deixou marcas pelo corpo de Tenoro como também o levou a repensar a trajetória de uma década trabalhando no transporte público. “Pretendo parar em breve. Está ficando cada vez mais complicado, ainda mais sem os cobradores”.
Desamparo
Desde julho, várias linhas da capital operam sem os agentes de bordo, contrariando lei que só autoriza a ausência dos profissionais em horário noturno, domingos e feriados. O cenário, para muitos condutores, é de total “desamparo”, relata Alcidiney Manoel Pereira, de 48 anos.
Motorista da linha 5201 (Buritis/Dona Clara), ele conta que subia a avenida Raja Gabaglia, com o veículo lotado, quando precisou parar em mais um ponto. Nesse instante, um usuário passou a ofendê-lo porque o ônibus já estava cheio.
“Expliquei que minha obrigação era parar, apesar da superlotação. Mas o homem continuou me atacando verbalmente e tentou me dar um soco na nuca. Freei bruscamente e revidei”, diz Pereira.
Na última segunda-feira, uma tentativa de assalto no Move Metropolitano 6578 (Jardim das Oliveiras/Paraguai) quase terminou em morte. Testemunhas disseram que o ônibus estava lotado quando dois jovens entraram e anunciaram o roubo. Um homem teria se levantado e, com o susto, um dos criminosos desferiu um golpe de facão na cabeça da vítima, que sofreu um corte.
“As ações de segurança pública são muito curtas. Elas acontecem quando a situação está mais intensa e depois somem”, diz José Márcio Ferreira, diretor de Comunicação do Sindicato dos Rodoviários de BH e Região (STTR).
Prevenção
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (SetraBH) informou que instrui os motoristas a nunca reagir. Para coibir as investidas, a entidade alega incentivar o uso do cartão eletrônico pelos usuários.
Em nota, a Guarda Municipal informou que operação Viagem Segura, desde 2017, põe agentes nos ônibus e nas plataformas do Move para garantir a sensação de segurança. Procurada pela reportagem, a PM não se pronunciou até o fechamento desta edição.Editoria de ArteDigite aqui a legenda