Depressão, mal também associado à maternidade

Raquel Ramos - Hoje em Dia
28/08/2014 às 08:03.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:58
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

Doença que atinge uma em cada 15 mães, a depressão pós-parto substitui o sentimento de alegria pela chegada do bebê por tristeza, desânimo, alterações do sono e do apetite. Mais do que isso, a doença pode levar a um quadro de psicose se não for devidamente tratada. Identificar esse mal, porém, nem sempre é fácil.

Para o psiquiatra Humberto Correa, um dos principais impedimentos é o estigma ainda associado à doença. “Espera-se que a mãe esteja feliz. Para fugir dos julgamentos, muitas escondem qualquer outro sentimento”, disse.

A depressão pós-parto pode ter motivado a tentativa de homicídio contra um bebê de quatro meses no início do mês. A criança foi internada no hospital Vila da Serra, em Nova Lima, inicialmente com sintomas de bronquiolite (inflamação nos brônquios). Mas a Polícia Civil passou a investigar o caso após a suspeita de que a mãe teria sufocado o filho com desodorante aerossol.

Mulheres com quadros leves do distúrbio até podem conseguir superar a fase sem ajuda profissional. Quadros moderados e graves, porém, exigem medicação controlada e psicoterapia, afirma o psiquiatra, professor da UFMG e presidente da Associação Mineira de Psiquiatria.

Humberto Correa destaca que, além da depressão, há uma doença conhecida como psicose pós-parto, que atinge 0,1% a 0,5% das mães. “Quem sofre desse mal tem reações muito intensas e até mesmo violentas. As mulheres têm delírios, alucinações e ideias muito negativas relacionadas ao bebê”.

Investigação

O inquérito foi instaurado e, no momento, enfermeiros e médicos da unidade de saúde estão sendo ouvidos. O próximo passo, afirma a delegada Lorena Vaz de Mello, é colher o depoimento dos familiares.

Ainda não há data prevista para que a mãe seja interrogada. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil, ela não teria condições de falar enquanto permanece internada para tratar o problema.

Lorena ressalta, porém, que o diagnóstico da doença ainda não foi comprovado. “Enquanto isso, o bebê está sob os cuidados dos avós maternos”. Ele recebeu alta no último fim de semana.

Amamentação reduz chances da doença

Se até pouco tempo desconhecia-se formas de prevenir a depressão pós-parto, um estudo divulgado pela revista “Maternal and Child Health” mostrou que a amamentação pode reduzir pela metade a chance de desenvolvimento do problema.

Ao analisar dados de 13.988 nascimentos na Inglaterra, pesquisadores constataram que, entre as grávidas que pretendiam dar de mamar aos filhos, houve redução de 50% no risco de aparecimento do mal. Para os estudiosos, a explicação pode estar na liberação dos chamados hormônios de bem-estar enquanto o leite é produzido.

“Provavelmente, tem a ver com a oxitocina. Quando a mãe amamenta, a quantidade dessa substância aumenta. É o hormônio da vitalidade”, afirmou Frederico Garcia, professor da UFMG e membro da Associação Mineira de Psiquiatria.

As mulheres têm tempo para se prevenir. Geralmente, os sinais da doença só começam a aparecer algumas semanas após o parto.

Antes disso, explicou o especialista, melancolia e alterações de humor podem estar associados ao Baby Blues, reação fisiológica após o parto pela diminuição dos hormônios ligados à gravidez.

Caso os sentimentos persistam e ganhem proporções maiores, é aconselhável procurar ajuda de um médico capaz de fazer o diagnóstico correto.

Foi isso que fez a consultora de marketing Rejane Costa Ferreira, de 36 anos. Logo após o nascimento da primogênita Rebeca, que hoje tem 11 anos, foi tomada por sentimentos negativos. Os sintomas foram rapidamente reconhecidos por ela que, na adolescência, já tinha enfrentado a depressão.

“Procurei um médico que me recomendou remédios. Além disso, fiz terapia por mais de um ano”. Nesse tempo, precisou contar com a ajuda do marido porque não conseguia fazer algumas atividades relacionadas ao bebê. Hoje, experiente no assunto, dá palestras sobre o tema por meio do projeto Brasil for Life, além de assistência às mulheres que enfrentam uma gravidez indesejada.

Brooke Shields viveu o problema

A depressão pós-parto também foi uma batalha enfrentada pela atriz e modelo norte-americana Brooke Shields, de 49 anos, estrela do filme “A Lagoa Azul”.

As dificuldades enfrentadas por ela em 2003, ano do nascimento da primeira filha, foram relatadas no livro “Depois do Parto, a Dor”.

Na obra, a atriz conta que foi alvo de muitas críticas porque as pessoas não aceitavam que uma mãe bonita, rica e famosa pudesse ter sentimentos tão negativos.

Brooke Shields atribui o problema a uma série de fatores, como a morte do pai semanas antes do parto, o estresse durante o procedimento de fertilização in vitro, históricos familiares de depressão, além das alterações hormonais.

O problema só foi vencido quando admitiu que precisava de ajuda. A atriz fez terapia e tomou remédios recomendados por um especialista.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por