(Arte HD)
Enquanto o governo de Minas anuncia estratégias e parcerias para o combate ao Aedes aegypti, o principal norte das ações de vigilância da epidemia – os dados dos casos em investigação – não retrata a realidade. Além do descompasso entre notificações municipais e informações oficiais da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), o relatório do atendimento e o próprio diagnóstico da doença apresentam falhas.
Constam no boletim estadual desta semana, divulgado na última terça-feira, 303 casos de zika notificados. O número é quatro vezes inferior aos registros de uma única cidade mineira. Governador Valadares, no Leste de Minas, investigava, até a semana passada, 1.436 casos suspeitos da doença, conforme adiantou o Hoje em Dia. Em sete dias, 413 registros novos foram contabilizados.
A prefeitura de Valadares informou que a notificação ao Estado é feita diariamente por meio de um sistema unificado, que segue os padrões do Ministério da Saúde. O secretário de Estado de Saúde, Fausto Pereira dos Santos, disse que não há desencontro de informações e que “alimentar os dados é vital para desenvolver ações de combate às doenças”.
A discrepância persiste nos dados sobre mortes decorrentes da dengue. A quantidade de óbitos registrados pela SES em quatro municípios, oito no total, é a mesma dos registros notificados apenas em Juiz de Fora.
Foco no problema
O desencontro, que torna a realidade desconhecida, pode levar à tomada de decisões erradas, avalia o médico Cesar Vieira, ex-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) – órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS).
“É de fundamental importância trabalhar com números reais. Só assim é possível ter ideia de onde se deve concentrar as atenções e avaliar a capacidade que se tem de agir sobre o problema”, detalha o consultor do Instituto Brasileiro para Estudo e Desenvolvimento do Setor de Saúde. Segundo ele, a situação demonstra as fragilidades do sistema de saúde.
O atendimento médico também tem refletido nos dados oficiais. A semelhança entre os sintomas das duas doenças (zika e dengue) e a demora nos resultados dos exames diagnósticos são apenas exemplos de problemas.
“Sabemos que o número de casos é alto. Agora, o quão alto é, nós não podemos garantir, tampouco que todos os médicos irão preencher o formulário”, afirma o infectologista Estêvão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia.
Os protocolos para as duas doenças incluem um formulário de notificação, que nem sempre é preenchido pelo médico por triplicar o tempo de atendimento no consultório.