(Polícia Militar/Divulgação)
Por dia, ao menos dois veículos com placas clonadas são apreendidos em Belo Horizonte. Em 2018, foram 807 carros. Os dados referem-se apenas aos bens com queixa de furto e roubo recuperados pelas forças de segurança. Conforme especialistas, criminosos lançam mão desse recurso – os chamados “doublês” – para revender os automóveis e conseguir dinheiro ou praticar crimes e não serem presos.
Recentemente, a PM apreendeu três pares de placas falsificadas em duas casas nas regiões do Barreiro e Venda Nova. Segundo os policiais, as placas falsificadas possibilitavam o transporte de entorpecentes pela cidade sem chamar a atenção.
Para adulterar os itens, os bandidos utilizam meios obscuros, porém organizados. Muitos até conseguem as placas em fábricas do segmento, que repassam o material já com o lacre emitido na vistoria. É o que diz o delegado Fernando Andrade, da Divisão Especializada de Prevenção e Investigação de Furtos e Roubos de Veículos Automotores. Na capital, quadrilhas especializadas são investigadas, garante o policial.
Os grupos, segundo Fernando Andrade, são bem articulados. “Muitos conseguem a cópia impressa do documento do carro (em papel moeda) em outros estados e trocam a sigla da cidade de origem e outras informações. O documento impresso será autêntico, mas os registros são falsos”, explica.
A identificação do crime é possível durante uma vistoria minuciosa. “Usa-se produtos para conferência dos números do chassi e dos vidros, além de se fazer perícia para checar se alguma informação foi subtraída”, conta o delegado.
Suspeita
Se o proprietário do automóvel suspeitar que o carro foi clonado, Fernando Andrade aconselhao registro de um boletim de ocorrência. Depois, ir até a delegacia de furtos e roubos de veículos para abrir um processo administrativo. Em 2018, no Estado, 439 pessoas estiveram no Detran relatando a desconfiança.
Quem batalha para tentar provar que as placas foram adulteradas é o educador físico Fabiano de Faria, de 43 anos, que recebeu duas notificações de infrações cometidas em cidades do interior. Ele garante que se encontrava na capital. “É uma injustiça, porque é algo que você não praticou”, lamenta.
Golpe
Em muitos casos, os veículos clonados são colocados à venda em lojas especializadas em usados e seminovos. Procurar uma empresa reconhecida ao adquirir um automóvel é a recomendação do assessor do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar, tenente Marco Antônio Said.
Segundo o policial, em blitzes, um carro clonado pode ser identificado a partir de um conjunto de fatores. “Ficamos atentos ao nervosismo do condutor, divergências nos números do chassi e dos vidros do carro, por exemplo”.
Para combater o crime, Luiz Flávio Sapori, coordenador do Grupo de Estudos sobre Segurança Pública da PUC Minas, defende reforçar o monitoramento no processo de emissão de documentos e vistoria dos veículos. “Medida que também precisa chegar às empresas que fabricam as placas e às lojas que vendem carros e peças usadas. É um trabalho de inteligência capaz de identificar pequenos sinais de corrupção”.
Em nota, o Detran informou que as emissões dos Certificados de Registro de Veículos (CRV) e dos lacres são feitas por meio de sistema informatizado, com identificação do servidor que realiza o procedimento, e sujeitas à auditoria.
“Quanto à vistoria, não há indícios de relação do procedimento com a prática da clonagem. Pelo contrário, é instrumento necessário para aferir a regularidade do bem. Caso ocorra indício de conduta irregular, esta será prontamente apurada pelos meios legais”, completou o órgão.
Leia mais: