(Márcia Vieira/Jornal O Norte)
Um dia após a tragédia em Janaúba moradores da cidade viveram a dor de sepultar as vítimas. Das nove pessoas que morreram após o vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, atear fogo no corpo em uma sala de aula repleta de crianças, sete foram sepultados nesta sexta (6).
Pela manhã, o enterro do menino Luiz David Rodrigues, de 4 anos, levou centenas de pessoas ao cemitério Campo da Paz. Uma delas foi a prima, Luiza Mariana Rodrigues, que tomou conhecimento do acidente pelas redes sociais. Imediatamente correu até o local e viu que o primo era um dos feridos.
O óbito veio depois de ser levado ao hospital. Da relação com o pequeno ela se recorda de uma das frases mais usadas por ele: "Tia, tira foto". Luiza sempre atendia ao pedido. Na véspera da tragédia fez o último registro do sobrinho e guarda com carinho no celular que ele gostava de mexer. "Ele era uma criança muito alegre. Toda a família está arrasada".
No começo da tarde, foi a vez da despedida de Juan Pablo Cruz dos Santos, de 4 anos, completados recentemente. Aluno da Creche Gente Inocente, pediu e ganhou do pai um presente, no dia que antecedeu a tragédia: um violãozinho azul, que agora embala o seu sono eterno.
Poucos minutos antes do sepultamento, Paulo Pereira, pai de Juan, se sentou na cama de casal em que dormia com a esposa e o filho e dedilhou as cordas do brinquedo. "Como é que vamos viver sem ele", perguntava. Ao fechar o caixão, colocou o brinquedo ao lado filho e chorou. Simultaneamente, a mãe, grávida de cinco meses pedia: "não levem o meu filho".
Gracilene Neves tem filhos gêmeos e ambos estavam na creche na hora do atentado. Nenhum dos dois se feriu, mas ela se comoveu diante da dor das outras mães. "Tenho muito que agradecer a Deus por não ter acontecido nada a meus filhos, mas a gente não deixa de sentir pelas outras famílias", disse.
Maternal e feliz
Ao cair da tarde, o corpo de Heley Abreu Batista, de 43 anos, foi levado pelo Corpo de Bombeiros em cortejo pelas ruas da cidade. Ao chegar no cemitério, foi aplaudido por centenas de pessoas que se aglomeravam para despedir da "heroína". O marido, Luiz Abreu, fez um breve discurso e ressaltou: "Fico triste por nos despedirmos dela, mas sei que ela viveu como manda a lei de Deus".
Em toda a cidade a personalidade maternal e dedicada da professora era lembrada: "Ela era uma pessoa maravilhosa. Dotada de virtudes e valores humanos como ninguém. Deu a vida pelo próximo. Foi essa a missão dela aqui"", disse a amiga Luzinete Santos, colega de profissão de Helen.
Relatos de amigos relembram que, há cerca de 15 anos, a professora havia perdido um filho, da mesma faixa etária das crianças que cuidava na creche, que se afogou no rio. . "Acho que ela quis impedir que outras mães sentissem a dor que ela sentiu ao perder um filho. Tempos depois, Deus a presenteou com outros três filhos e ela estava muito feliz nessa escola", declarou a colega Sílvia Cássia.
Com Lucimery Lopes, sob supervisão do editor