(Riva Moreira)
O descaso com a segurança dos pedestres em Belo Horizonte é visível em muitas passarelas da cidade. Estruturas destruídas por vândalos ou pela própria ação do tempo estão sendo remendadas com gambiarras que, segundo especialistas, representam perigo para quem faz a travessia.
O Hoje em Dia encontrou, em vários pontos da capital, passagens elevadas com corrimão improvisado à base de madeira e peças de ferro amarradas com arame. Quem passa diariamente pelos locais não confia nos reparos feitos de forma paliativa e reclama da sensação de abandono.
“Moro aqui há mais de 20 anos e nunca vi ninguém dando manutenção. Tinha um buraco e amarraram esses pedaços de ferro só para camuflar, mas isso não vai durar muito tempo”, diz a auxiliar de reposição Lia Silva, de 33, que mora às margens do Anel Rodoviário e atravessa todos os dias a passarela próxima ao viaduto São Francisco, na Pampulha.
A poucos quilômetros dali, no entroncamento da BR-381, entre os bairros Jardim Vitória e Vista do Sol, Nordeste de BH, há outra estrutura na mesma situação. Grades de proteção completamente destruídas estão amarradas com arame.
A impressão que se tem é de que tudo pode cair sobre os carros a qualquer momento, tamanha a fragilidade. Moradores também relatam que o local nunca foi alvo de melhorias.
“Já teve gente que caiu e morreu há uns cinco anos”, relata a autônoma Marília dos Santos, de 49 anos, que vive ao lado da passarela há pelo menos uma década. “É perigoso, têm criança e idoso passando o tempo todo. Uma pena que ninguém se preocupe em consertar”, lamenta.
Maurício Vieira
Paliativo
Na avenida Cristiano Machado, a passarela de pedestres na altura do bairro União tem parte da contenção improvisada com nove troncos pregados com arame.
Moradores contam que as grades foram roubadas há cerca de cinco meses. Há algumas semanas, a artesã Márcia Torres, de 49 anos, tropeçou e se machucou enquanto fazia caminhada pelas redondezas do elevado.
“Fico imaginando se fosse aqui nesse buraco. Quando passo, à noite, dá mais medo ainda, porque não colocaram nada, está sem grade e com risco de qualquer um cair”, diz.
Por nota, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que a madeira foi colocada “como uma medida paliativa” para garantir a segurança dos usuários. A solução definitiva está prevista para daqui a 30 dias.
Maurício Vieira
Riscos
Além de inadequadas, as gambiarras podem favorecer os riscos para quem transita nos locais. Engenheira de Produção Civil especialista em avaliações e perícias, Kamila Soares do Nascimento explica que as passarelas deveriam ser pre[/TEXTO]paradas para suportar choques acidentais de pessoas e automóveis.
“São estruturas que deveriam ser submetidas a cálculos estruturais e comprovação de desempenho através de ensaios técnicos, atestando assim, a resistência. A ausência de manutenção e o uso de materiais inapropriados oferece riscos à vida”, afirma.
Para Agmar Bento, professor de Segurança Viária do Cefet, a falta de zelo com os pedestres se torna mais gritante diante do estado de conservação das travessias. “As cidades sempre foram pensadas para o automóvel. O caminhar ficou de lado. E não só a conservação das passarelas, mas a própria localização delas que também dificulta os trajetos. As gambiarras também estão presentes em calçadas, ou seja, não há preocupação com quem anda a pé”.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) foi procurado, mas não se posicionou até o fechamento desta edição.