(Lucas Prates)
Prevista para ser concluída no primeiro semestre de 2020, seis anos após o início das obras, a Via 710 corre o risco de ter o projeto modificado. Proposta apresentada pela prefeitura prevê a redução do número de casas a serem derrubadas nas imediações da Vila Artur Sá, no bairro União, Nordeste de Belo Horizonte. A definição está nas mãos do Ministério Público Federal (MPF). Até agora, a inauguração do corredor, que vai ligar as regiões Leste e Nordeste da capital, já foi adiada cinco vezes.
Essa seria a primeira alteração no escopo da nova avenida, de acordo com o Executivo municipal. Inicialmente, a ideia era demolir 26 moradias. Agora, a previsão é 13. A diminuição teria sido pedida pela comunidade, informou a PBH, que não detalhou o motivo da solicitação.
A possibilidade de manter os imóveis, no entanto, divide opiniões. Membro da Comissão de Exercício Profissional do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU-MG), Maria Edwirges Sobreira Leal teme impactos no tráfego da Via 710.
“Quando se abre mão do projeto, diminui-se a expectativa de resolução do problema. O ideal é que tudo aconteça conforme previsto no planejamento inicial”, frisou.Lucas PratesLeidiane Oliveira mostra as rachaduras na casa onde mora, a 50 metros do canteiro de obras
Riscos
Para Márcio Aguiar, professor de Engenharia de Transporte e Trânsito da Fumec, mudar o traçado da Via 710 pode, inclusive, trazer riscos para a população.
Segundo ele, com a alteração, as ruas laterais à via que farão ligação com a avenida Cristiano Machado passarão por dentro de onde está hoje a Vila Artur de Sá, bem na porta das casas. “O trânsito será intenso, sendo preciso implantar, por exemplo, quebra-molas e faixas de pedestres”, diz.
Decisão
A retirada dos moradores da região é intermediada pelo MPF e a mudança no projeto precisa ter o aval do órgão. Procurado, o Ministério Público Federal informou que o procurador à frente das negociações estava em viagem.
Diretor de obras da PBH, Adriano Morato informou que o projeto e a execução das obras no trecho que passa pela Vila Artur de Sá são de responsabilidade do Centerminas e do Minas Shopping, em contrapartida à instalação dos empreendimentos na região.
Questionado sobre a redução da quantidade de famílias a serem removidas, Morato afirmou que a prefeitura não vai intervir. “Como engenheiro, posso dizer que o projeto permite certos ajustes geométricos para que a obra não seja paralisada. Nesse momento não vai atrapalhar”.
Já os centros de compras informaram “que as obras seguem os projetos definidos” juntamente com a administração municipal.
Desapropriações
Iniciadas em 2014, as obras da Via 710 sofrem atrasos, conforme a prefeitura, por conta das desapropriações. São 14 ações na Justiça envolvendo moradias na avenida Itaituba, no Boa Vista, Leste de BH.
De acordo com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), para a finalização das intervenções restam a conclusão da rotatória do viaduto Bolivar (nos bairros União e Fernão Dias) e os encaixes com as avenidas José Cândido da Silveira e Cristiano Machado.
O valor do empreendimento é de R$ 120 milhões, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Já em desapropriações, são investidos aproximadamente R$ 160 milhões.Editoria de Arte
Insatisfação
Enquanto uma eventual revisão no projeto da Via 710 não é definida, moradores da Vila Artur de Sá relatam apreensão. Segundo eles, as obras provocaram rachaduras nos imóveis, janelas tiveram os vidros quebrados e os pisos foram danificados.
A estudante de instru-mentação cirúrgica Leidiane Oliveira de Melo, de 28 anos, vive a 50 metros do local onde será feita a ligação entre o novo corredor viário e a avenida Cristiano Machado.
As fendas nas paredes da edificação chegam a 1,5 centímetro de largura. No banheiro, um buraco se abriu no piso, obrigando a família a tomar banho na casa de vizinhos.
O imóvel foi vistoriado pela Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). “Disseram que não há risco e que vou ter que arcar com as obras (no imóvel)”, contou a jovem, que garante não querer mais morar no local.
Segundo o líder do grupo de moradores da região, o marceneiro Adilson Vieira, de 43 anos, nenhum morador da Vila Artur de Sá deseja permanecer no vilarejo. “Se for para ficarmos, queremos que todas as casas sejam revitalizadas, pois o dano estrutural é grande”.
Em nota, a PBH informou que o material colhido nas vistorias da Urbel está sob análise. “Se o laudo apontar a necessidade de algum reparo, ele será realizado. O resultado final será comunicado via Ministério Público”.
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