Emoção à flor da pele após queda de viaduto na Pedro I

Sara Lira - Hoje em Dia
18/07/2014 às 07:50.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:25
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

Medo, ansiedade e dificuldade para dormir são alguns dos efeitos colaterais que atormentam moradores do condomínio Antares depois que o viaduto vizinho desabou, há duas semanas, sobre a avenida Pedro I, em Belo Horizonte. O abalo emocional, alegam, dificulta a retomada da rotina de antes da tragédia, que matou duas pessoas e deixou 23 feridas. Mas segundo especialistas, o risco maior é o de uma “histeria coletiva”. Isso porque as queixas são relatadas por quem não viveu diretamente o trauma, caso de quem perdeu parentes ou escapou da morte.
A dona de casa Fabíola Amaral, de 36 anos, conta que a filha, de apenas 6, vai mal na escola. Preocupada, a professora da menina chamou a mãe para conversar e disse que a menina apresenta comportamento diferente desde o retorno às aulas na última segunda-feira. “Ao contar como foram as férias, ela só falou da queda do viaduto”, lamenta Fabíola.
A dona de casa pretende levar a filha a um psicólogo. “Evito falar sobre isso com ela porque está muito assustada. Eu também estou”, disse.
A aposentada Ermelinda Lobo, de 63 anos, não consegue dormir direito. Ela vem tomando remédios com frequência para pegar no sono e para aliviar dores de cabeça. “Quando deito, fico rolando na cama. Depois do acidente, passei a fumar dobrado, por nervosismo”, afirma Ermelinda, que diz sentir medo de que o condomínio apresente riscos na estrutura.
Embora o caso tenha sido assustador, não poderia causar tais transtornos psicológicos, diz a professora de psicologia da Newton Paiva Sylvia Flores. A não ser que já houvesse alguma pré-disposição. “A pessoa que tem uma fragilidade psíquica pode desenvolver algum transtorno. Caso contrário, não há perigo”, pondera.
“Todos ficam com medo e com pressentimento de que pode acontecer algo pior. Caso a pessoa perceba que isso a está afetando, ela deve procurar o auxílio de um psicólogo”, frisa, reforçando o temor de histeria coletiva.
Testemunha
Moradores do Antares, no entanto, dizem estar transtornados. A aposentada Ruth Ferreira, de 78 anos, teme pela saúde da irmã, de 77, que presenciou o desabamento e, desde então, vem enfrentando problemas de saúde.
“Ela estava na janela da cozinha na hora do acidente e viu tudo. De lá pra cá, começou a ter tontura e crises de hipertensão. Nesta semana, ela está internada porque a pressão está muito alta”, disse Ruth.
Quem viveu diretamente a tragédia está constantemente acompanhado pelo medo. É o caso da empresária Penélope Pelegrini, de 29 anos, que estava no ônibus atingido pela estrutura de concreto. Ela começou a fazer tratamento psicológico e diz não conseguir dormir tranquila.
“Frequentemente, tenho pesadelos com a cena do acidente. Sinto-me angustiada até hoje”.
Penélope teve ferimentos na boca e escoriações no braço. “Os machucados já estão cicatrizando, mas o que fica mesmo é o trauma, resultado do que vivi no dia do acidente”, conta.   Sem previsão de liberar a pista   Até essa quinta-feira (17), não havia sido marcada a data para a liberação da avenida Pedro I, interditada desde 3 de julho, em função da queda do viaduto Batalha dos Guararapes.

De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Belo Horizonte, coronel Alexandre Lucas Alves, falta terminar o escoramento do viaduto que permaneceu de pé, sinalizar o pavimento e reconstruir áreas para pedestres.

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