Empresas pedem reajuste e usuário pode pagar conta; paralisação é suspensa

Renato Fonseca e Gabriela Sales - Hoje em Dia (*)
11/06/2015 às 06:29.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:25
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

O que era para ser uma demanda restrita aos trabalhadores do transporte rodoviário – inconformados pelo não pagamento da participação nos lucros – transformou-se em reivindicação patronal. Alegando crise financeira para atender aos rodoviários, donos das empresas sugerem, dentre outras medidas imediatas, reajuste tarifário. Agora, não bastasse o drama enfrentado pelos usuários afetados pela greve, os mesmos poderão pagar a conta do problema.


A paralisação, iniciada na segunda-feira, está temporariamente suspensa. Uma reunião entre o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) e o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de BH e Região STTRBH está prevista para esta quinta (11). Se não houver acordo, a greve continua.


Desde 2011, as perdas das empresas de transporte chegam a R$ 268,8 milhões, informou a assessoria de imprensa do Setra-BH. O prejuízo estaria inviabilizando o repasse da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) deste ano. O Setra-BH reivindica subsídios municipais, redução de impostos sobre o óleo diesel (pelo Estado) e aumento do preço da passagem. Atualmente, a tarifa é de R$ 3,10, e o valor leva em conta despesas com combustível, quilômetros rodados, inflação, etc.


Em meio ao temor na elevação dos bilhetes, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público do Ministério Público Estadual reforça que tal medida seria ilegal. “Um aumento neste momento é impossível. O contrato com o município prevê um reajuste anual e isso já foi feito. Não há possibilidade de modificações”, diz o promotor Eduardo Nepomuceno.


Qualquer acréscimo acima do reajuste dependeria, então, de uma revisão nos contratos de concessão. Porém, como esse tipo de alteração pode acontecer apenas de quatro em quatro anos, tal medida seria possível somente em 2017 – a última foi realizada em 2012.


Questionamento


O rombo nas contas das empresas, no entanto, é questionado. Conforme o diretor de comunicação do STTRBH, Carlos Henrique Marques, os valores da PLR foram acordados em convenção ocorrida em março. Na época, as empresas não teriam informado dificuldades financeiras. “Justamente esse ponto precisa ser esclarecido”.


Opinião


O Movimento Tarifa Zero não acredita que as empresas estejam operando no vermelho. “Temos uma das maiores tarifas de transporte público. Além disso, os trabalhadores cobram um benefício previsto em contrato”, afirma a integrante do movimento Juliana Afonso. O Setra-BH não forneceu ninguém para falar sobre o assunto.


Aplicativos oferecem promoções e ganham mais adeptos durante paralisação


Desde o início da greve dos rodoviários, na última segunda-feira, softwares para celular, como Uber e Zumpy, têm oferecido promoções para incentivar o uso de transporte privado pago e de carona, respectivamente. Alternativas em dias em que os ônibus permanecerem nas garagens, os apps ganharam ainda mais adeptos.


Nos últimos três dias, belo-horizontinos que recorreram ao Uber – app que faz a intermediação do transporte remunerado de passageiros – foram surpreendidos com 30% de desconto nas viagens. E não é a primeira vez que os usuários do programa são beneficiados com promoção. Em novembro do ano passado, por exemplo, moradores de Lisboa (Portugal) pagaram mais barato durante greve do metrô.


Pontuação


A proposta do Zumpy é diferente. O sistema, que por enquanto está restrito à BH e região metropolitana, cruza as rotas das pessoas que já baixaram o aplicativo, apontando quem faz trajetos semelhantes.


Os motoristas que dão carona acumulam pontos, que, depois, podem ser trocados por produtos ou descontos em empresas parcerias, como casas noturnas, lojas de roupas e serviços automotivos.


Em dias de paralisação, a recompensa para quem faz uma “boa ação” é ainda maior: abastecimento de gasolina ou etanol por R$ 2,899 e R$ 1,699, respectivamente, em postos credenciados. A iniciativa deu tão certo que, desde o início da semana, houve um crescimento de 300% na quantidade de downloads.

 

Passageiros são levados dos bairros às estações, onde ficam ‘ilhados’ sem transporte


Nesta quarta-feira, no terceiro dia de greve dos rodoviários em Belo Horizonte, o transtorno para os usuários do transporte público foi ainda maior. Ao contrário de segunda e terça-feira, as linhas do Move pararam de circular e todas as estações de (Diamante, Barreiro, Pampulha, Vilarinho, Venda Nova e São Gabriel) foram fechadas a partir das 6h. Ao todo, 104 linhas não rodaram, prejudicando milhares de usuários – a BHTrans não fez o cálculo de pessoas afetadas.


Na São Gabriel, as linhas alimentadoras que chegavam dos bairros eram impedidas de sair da estação. A estudante Karla Costa, que chegou ao terminal às 6h15 para embarcar rumo ao bairro Concórdia, não pôde prosseguir. Ela perdeu aula e também não conseguiu voltar para casa. “Estou aqui há três horas”.


A Estação Pampulha foi uma das mais afetadas. Usuários foram pegos de surpresa com a notícia de que o Move não circularia. “Eu tinha que fazer uma prova no curso às 7h20. Estou aqui desde 6h25 e nada de ônibus”, lamentou o estudante Marlon Paulo, de 21 anos.


Ao longo das estações das avenidas Antônio Carlos e Pedro I, passageiros lotavam as cabines, sem saber se conseguiriam embarcar ou não. No início da manhã, a Pedro I ficou ocupada por ônibus do Move que chegavam e paravam na avenida. Por volta das 10h, todos os veículos foram recolhidos.


Os grevistas exigem pagamento de bônus que variam de R$ 173,76 a R$ 347,52, referente a participação nos lucros, prometido pelas empresas de ônibus em acordo coletivo.

 



(*) Com Raquel Ramos e Sara Lira
 

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