(Carlos Rhienck)
A internet e as redes sociais foram os temas discutidos ontem no programa Central 98, da rádio 98 FM. Educação, controle de conteúdos na web, divulgação de informações pessoais e o Marco Civil da Internet foram debatidos com a professora de jornalismo online do UNIBH, mestre em educação e doutoranda em comunicação pela UFMG, Lorena Tárcia.
É preciso dosar a divulgação de informações na internet? Afinal, o que pode e o que não pode ser postado?
Temos que tomar certos cuidados na internet, mas, como ferramenta, ela é inócua. Os usos que fazemos dela é que a compõem enquanto meio de comunicação e refletem em nossa vida. Quem quer passar uma determinada imagem na internet deve ‘se vestir’ dessa imagem. Não podemos pensar que, na internet, estamos falando apenas para os nossos amigos quando nos expomos para uma multidão, pois aquele conteúdo pode ser replicado sem que tenhamos controle.
Como os pais podem acompanhar a relação dos filhos com a internet?
Não adianta proibir. A sociedade deve entrar numa fase de alfabetização para o uso eficiente e coerente dessa ferramenta. E nisso devem estar engajados pais e responsáveis, escolas, crianças e adolescentes.
Quando vemos o perfil de algumas pessoas nas redes sociais tudo parece um “mar de rosas”. Será que a internet não pode se transformar numa ilusão?
Mas a vida não é uma ilusão? Não somos iludidos o tempo inteiro? Não queremos passar uma imagem positiva da gente o tempo todo? Pois a internet é um reflexo disso. Agora temos que levar em conta que também somos mídia de massa e temos audiência. Não é só a TV que tem que tomar cuidado com a audiência, nós também.
Estamos em ano eleitoral. As redes sociais podem ser decisivas nestas eleições?
Acho que nem tanto quanto a gente espera que sejam. As pessoas não são mais tão influenciáveis na rede quanto os políticos gostariam que fossem. Mas as redes sociais também podem moldar o contexto eleitoral, não é mesmo? Vimos protestos organizados pela internet, evidenciando esse poder. Com certeza. Os políticos deixaram de ter aquela centralidade que tinham antes. Agora as pessoas conseguem se organizar mais. No entanto, ainda percebemos que é uma organização muito localizada para alguns momentos e que acaba não se refletindo numa postura política mais permanente. As pessoas acham que com um “like” resolveram o problema e não se organizam socialmente para que isso seja uma tendência.
Recentemente, circularam muitas notícias falsas na internet. Como elas surgem e como lidar com isso?
Não é de hoje que a fofoca existe. Nos relacionamos com base em construções de narrativas e elas podem ser verdadeiras ou não. Por isso a alfabetização para o uso dessas redes é tão importante. Nada é tão nocivo se a gente souber lidar com isso.
A internet é capaz de limitar as relações humanas ou individualizar o convívio em família?
Sou uma otimista em relação à internet. Ao contrário do que muita gente diz, ela não isola, e, sim, permite que você encontre ou reencontre seu ciclo de relacionamentos. E as pessoas acabam se conectando de forma real quando querem. Sobre as relações familiares, acho que não existiu perda pior na história do que crianças em frente à TV. Porque lá elas realmente só estavam recebendo informações, não interagiam com ninguém.
Qual a sua avaliação sobre o Marco Civil da Internet, aprovado pelo Senado e sancionado pela presidente Dilma.
Ele estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para internautas e provedores no Brasil. Acho que o Marco é importante, pois temos que levar em consideração o fato de estarmos muito expostos nessa ferramenta. A internet é um ambiente que está muito solto: cada um fala o que quer e acaba sendo responsabilizado de acordo com as circunstâncias. O Marco é uma tentativa de colocar uma ordem nesse sistema. Mas temos que nos engajar para ver como isso será colocado a nosso favor.
Como deverá ser a forma de as pessoas se informarem e se comunicarem no futuro?
Quem tiver essa resposta ficará milionário... Mas há uma tendência muito grande de se ‘vestir’ a tecnologia, e não haver a necessidade de aparelhos para acessar esse grande mundo de informações que é a internet e a troca de dados. A tendência vai passar pelo ser humano incorporar a tecnologia na sua forma de comunicar, sem precisar de teclado, mouse etc. O mundo seria muito mais personalizado em termos de acesso às informações.
Podemos dizer que atualmente a internet é uma mídia democrática?
Ela é a que tende a ser mais democrática, mas temos que tomar cuidado, pois todas as mídias nasceram assim e, quando demonstraram seu poder econômico, deixam de ser rapidamente. Cabe a nós fazer um bom uso dela e o Marco Civil chega para nos apoiar.