Novembro Azul conscientiza homens para superar tabus e incentivar a busca por atendimento médico
Câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais incidente na população masculina em todas as regiões do país (Alexandra Marques/Divulgação)
Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), são estimados 11.800 novos casos de câncer de próstata em Minas Gerais neste ano, com uma taxa de incidência bruta de 110,23 a cada 100 mil homens. Em 2023, a doença foi a principal causa de morte por câncer da população masculina no estado, com 12,4% desses óbitos associados a ela.
Também neste ano, o câncer de próstata foi o responsável pela internação de 4.241 mineiros e pela morte de outros 292. Se somado à hiperplasia da próstata (próstata aumentada ou inflamada), que levou 2.025 pessoas ao leito de um hospital no estado e a sete óbitos, 6.266 homens foram internados em Minas nos primeiros oito meses de 2024.
Entre 2022 e 2023, foram 16.852 internações e 861 mortes. As diferenças entre os sintomas do aumento da próstata (hiperplasia benigna) e o câncer podem ser pequenas, por isso é importante a investigação precoce.
O urologista do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC) – do Complexo Hospitalar de Especialidades (CHE) da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) – referência estadual em Oncologia, Adriano Pivoto Palma ressalta que esse tipo de câncer tem como principal fator de risco o avanço da idade. Depois dos 60 anos, a possibilidade do seu aparecimento aumenta de forma significativa.
Também contribuem para que a doença se manifeste a presença de um histórico familiar em que o pai ou irmão tenham sido diagnosticados antes dos 60 anos, assim como o homem apresentar síndrome metabólica – combinação de três ou mais dos seguintes fatores: grande quantidade de gordura abdominal, baixo HDL (“colesterol bom”), triglicerídeos elevados (nível de gordura no sangue), pressão sanguínea alta e glicose elevada.
“O diagnóstico precoce é essencial para que se consiga melhores resultados. Por outro lado, a detecção tardia é um problema que tem impacto direto para o tratamento e a cura. Muitos casos de câncer de próstata ainda são diagnosticados quando já estão bastante avançados. A falta de triagem adequada, principalmente em populações de risco, e a resistência de alguns homens em realizar exames como o de toque retal estão diretamente ligadas a isso”, alerta o especialista.
O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais incidente na população masculina em todas as regiões do país, atrás somente dos tumores de pele não melanoma. Mesmo com os avanços no diagnóstico e no tratamento, ele ainda é a segunda causa de morte por câncer entre os homens, devido a uma combinação de fatores que incluem a biologia da doença, o diagnóstico e o tratamento.
Enquanto alguns tipos desse câncer são de crescimento lento, outros são agressivos. Muitos casos ainda são diagnosticados em estágios avançados. Além disso, alguns cânceres de próstata podem desenvolver resistência aos tratamentos hormonais e à quimioterapia. Por isso, o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura, diminui a possibilidade de morte, evita o sofrimento e a necessidade de tratamentos complexos e onerosos para o controle dessa doença.
De acordo com a Coordenação de Vigilância das Condições Crônicas não transmissíveis e Câncer da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), o número de óbitos por câncer de próstata no estado aumenta de forma progressiva à medida que a população masculina envelhece e atinge uma taxa de 333,8 óbitos por 100 mil homens na faixa etária acima de 80 anos. A taxa de mortalidade bruta pela doença em Minas apresentou uma tendência de crescimento no período de 2010 a 2023, o que reflete o envelhecimento da população.
Em todo o país, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), serão 71,7 mil novos casos de câncer de próstata a cada ano no período de 2023 a 2025.
O HAC atende aos homens com diagnóstico de câncer de próstata encaminhados pela Comissão Municipal de Oncologia. São pacientes que passaram pelo atendimento ambulatorial (consulta) com um especialista em urologia em Belo Horizonte, região metropolitana ou em cidades do interior de Minas, para os quais foi solicitada a biópsia da próstata devido a alguma suspeição e o resultado foi positivo para a doença.
Os pacientes que iniciam o tratamento contra o câncer de próstata apresentam uma variedade de reações. Alguns são resistentes por medo ou por desinformação sobre os efeitos colaterais. Outros seguem tudo o que é recomendado, especialmente quando recebem apoio emocional e informações claras.
“Em geral, esses pacientes, apesar de demonstrarem algum receio em relação a possíveis efeitos colaterais, manifestam maior preocupação com a progressão da doença e costumam aderir ao tratamento”, explica Adriano Pivoto.
O médico afirma que embora a população masculina – historicamente – não costume priorizar os cuidados preventivos, ele tem observado, a partir da sua prática ambulatorial, que muitos homens apresentam um crescente reconhecimento da importância do cuidado com a própria saúde. Segundo o urologista, isso pode estar mudando em consequência de campanhas de conscientização como o Novembro Azul.
“Homens mais jovens tendem a ter uma abordagem mais ativa e informada sobre a sua saúde, possivelmente devido à maior acessibilidade à informação. Já os homens mais velhos podem apresentar mais resistências e preocupações sobre questões da masculinidade associadas à doença e ao seu tratamento”, avalia.
Para além do papel dos profissionais de saúde e das campanhas, as mulheres, frequentemente, desempenham uma importante função como incentivadoras para que os homens – sejam filhos, maridos, companheiros, pais e amigos – procurem cuidados médicos, sensibilizando-os sobre a importância de exames preventivos e para a detecção precoce de diversas doenças como o câncer de próstata.
A educação para a saúde, o acesso a cuidados e a pesquisa contínua são fundamentais para salvar a vida de milhares de homens. Mudanças de hábitos como parar de fumar e de beber, adotar uma rotina de prática de atividade física e de alimentação saudável que irão contribuir para a perda do excesso de peso, são atitudes simples que a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Ministério da Saúde e a SES-MG recomendam.
As causas do câncer de próstata são complexas e ainda não totalmente compreendidas, o que contribui para a dificuldade em se identificar fatores de risco específicos. Ele é influenciado pela interação entre causas genéticas, hormonais e ambientais.
Cada um desses fatores pode contribuir de maneira diferente para o aparecimento da doença, o que dificulta sua associação a uma causa única. Certos genes estão relacionados a um risco maior, mas a maioria dos casos não está diretamente ligada a mutações hereditárias identificáveis.
A incidência e a mortalidade do câncer de próstata também podem variar entre diferentes grupos étnicos.
Além disso, a exposição a produtos químicos e a hábitos de vida como o sedentarismo podem contribuir para esse tipo de neoplasia. Algumas pesquisas tentam entender como a obesidade e a síndrome metabólica (doença ligada à obesidade e à alimentação inadequada e ao sedentarismo) podem afetar o risco, mas os resultados desses estudos ainda não são conclusivos.
“Os diversos fatores de risco para o desenvolvimento da doença, combinados com a natureza heterogênea do câncer de próstata (alguns tipos crescem lentamente e sem causar sintomas ou outros problemas, enquanto outros tipos são agressivos e se espalham rapidamente), tornam desafiador identificar suas causas específicas”, pondera Adriano Pivoto.
A detecção precoce envolve o exame clínico com o exame digital retal (exame de toque) e exame laboratorial de medição do nível do Antígeno Prostático Específico (PSA) no sangue. A ressonância magnética da próstata também tem um importante papel no diagnóstico e acompanhamento dos casos.
Em caso de alguma suspeita, é necessário realizar a biópsia da próstata. A confirmação do diagnóstico se faz através da comprovação histológica do câncer de próstata.
O exame digital retal ainda é visto como um tabu por ser culturalmente associado a questões ligadas à masculinidade. “Para mudar isso, é essencial promover uma cultura de saúde que naturalize esses exames, de modo que eles sejam considerados normais pela maioria dos homens. Educação e empatia são fundamentais para quebrar esses tabus”, salienta o médico.
O tratamento depende da natureza e da gravidade da doença. Ele se divide em períodos de tratamento e de acompanhamento. Quando os exames indicam que o tumor está somente na próstata e não há evidência de metástases em outro(s) órgão(s) e/ou nos ossos, é realizada a cirurgia ou a radioterapia.
Na cirurgia, a próstata e as vesículas seminais (duas pequenas glândulas localizadas entre a bexiga e o reto) são retiradas e enviadas para exame. Em alguns casos, em que é grande o risco dos linfonodos estarem acometidos, eles também são removidos. O resultado dessa análise pelo médico patologista, e dos exames de controle no pós-operatório, indicarão se tratamentos complementares como radioterapia e hormonioterapia serão necessários.
Quando a doença é descoberta tardiamente e em fase avançada com metástases nos ossos e/ou em outros órgãos, o tratamento é feito com hormonioterapia, com ou sem quimioterapia (eventualmente, em casos específicos, pode também ser usada outra terapia, como radioterapia, mas, nesse caso, apenas de caráter paliativo e para tratamento e alívio de complicações e sintomas da doença).
Iniciar uma educação sobre autocuidado desde a adolescência pode contribuir para uma nova geração de homens mais conscientes e proativos em relação à sua saúde, diminuindo estigmas e promovendo a prevenção.
“Para incentivar os homens a levarem sua saúde a sério, é crucial implementar programas de educação e conscientização que abordem não apenas o câncer de próstata, mas a saúde masculina em geral”, completa o médico.
*Com informações da Agência Minas