(Divulgação/Fiocruz)
Municípios às margens do rio Paraopeba afetados pelo rompimento da barragem em Brumadinho, na Grande BH, podem ter um aliado no combate ao Aedes aegypti. Uma “fábrica” para produzir mosquitos com a bactéria Wolbachia, sugerida como alternativa para bloquear a transmissão da dengue, será construída em contrapartida aos danos causados pela tragédia. Os insetos devem ser soltos em 24 cidades visando a mitigar os efeitos de uma possível epidemia da doença em 2022.
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Especialistas consideram a iniciativa positiva, mas fazem ressalvas. Mesmo com pesquisas já realizadas sobre a Wolbachia na luta contra o inseto (veja na arte abaixo), ainda é preciso evidência científica. Na capital, estudo semelhante é realizado e, em janeiro, passa a ser desenvolvido em um laboratório na região da Pampulha, com previsão dos resultados estarem disponíveis dentro de quatro anos.
Já a fábrica que vai abranger cidades do Paraopeba ainda não tem local definido, mas a construção está prevista para começar no primeiro semestre de 2020, informou o subsecretário de Vigilância em Saúde, da Secretaria de Estado de Saúde, (SES), Dario Brock Ramalho. “Deve estar a todo vapor em até cinco anos”.Divulgação/FiocruzWolbachia está presente em 60% das espécies de insetos, mas ausente no Aedes
A iniciativa já foi acordada extrajudicialmente. Agora, é preciso celebrar o contrato, em juízo, entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Vale e o governo mineiro, explicou a SES, em nota. Procurada, a mineradora, responsável pela barragem, disse manter conversas com representantes do poder público “para entender as demandas dos atingidos”.
Vai resolver?
Dario Ramalho admite ser cedo para afirmar que a medida é a solução contra a dengue. “Com certeza ajuda a mitigar os efeitos. Não tem como erradicar o Aedes, sendo possível, porém, conviver de maneira mais saudável com ele. O método (Wolbachia) já está bem experimentado na Austrália e em Niterói (Rio de Janeiro)”, frisou o gestor, que também é médico infectologista.
O professor Mauro Martins Teixeira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, recomenda cautela. “Os estudos feitos até agora sugerem que deve funcionar, mas ainda não existe comprovação científica”.
O docente, que coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Dengue, participa do projeto desenvolvido em BH, com financiamento do Ministério da Saúde. “Para um novo medicamento, por exemplo, faço estudos para verificar se é seguro, testo em humanos, em diferentes fases, para checar se vão tolerar aquela substância e, no fim, saber se terá o efeito que espero. No caso, o alcance da Wolbachia, em relação ao combate ao vírus da dengue, ainda é desconhecido”, frisa.
O projeto da metrópole é considerado pelo governo federal como “a maior pesquisa de enfrentamento à dengue”. Conforme o Hoje em Dia mostrou em setembro, a região de Venda Nova deverá ser a primeira a receber os mosquitos modificados.
Campanha
Nesta quarta-feira (20), a SES lançou uma campanha de enfrentamento à dengue. Até o momento, Minas tem 484 mil casos e 153 mortes.Editoria de Arte