Expedição registra impactos no rio Doce 10 meses após rompimento de barragem

Leonardo Parrela*
lparrela@hojeemdia.com.br
09/09/2016 às 21:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:46
 (LU MARINI/DIVULGAÇÃO)

(LU MARINI/DIVULGAÇÃO)

A bordo de um paramotor (parapente motorizado), o administrador de empresas Lu Marini iniciou uma importante expedição. Ele terá a missão de mostrar em vídeo-documentário as atuais condições do rio Doce dez meses após a maior tragédia ambiental do Brasil.

O rio foi atingido pela lama de rejeitos que vazou da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, devastando Bento Rodrigues, distrito de Mariana, na região Central de Minas, e causando estragos em municípios vizinhos. Dezenove pessoas morreram.

“De cima, olhar aquilo tudo é inacreditável. Só estando ali, de perto, para ter uma noção de como ficou. É impressionante e não tem como descrever como deixaram (Bento Rodrigues) embaixo daquela lama toda”, diz Marini, que pilota o aparelho.

A expedição começou em 29 de agosto, em Mariana, e a previsão é a de que seja encerrada em 30 dias na foz do curso d’água, em Regência, no Espírito Santo. O plano é percorrer os 853 quilômetros da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, que abrange 222 municípios.

Quase um ano após o desastre, ocorrido em 5 de novembro de 2015, a presidente da Câmara Técnica de Gestão de Eventos Críticos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Doce, Lucinha Teixeira, afirma que a situação ainda é grave. “Passamos por problemas de estiagem, a pior dos últimos 84 anos. Na bacia do Suaçuí, que faz parte do sistema, a condição da água ainda é ruim”, afirma.

Motivação

O dano ambiental motivou o piloto a fazer a expedição. “É o que a difere das outras que fiz pelos rios São Francisco e Paranapanema, por exemplo. Por todos os lugares que já voei, desenvolvi essa preocupação com o meio ambiente e com tudo que o envolve, desde as matas ciliares até as populações ribeirinhas”, diz Marini.

Ele já sobrevoou o trecho entre Mariana e Ipatinga (no Vale do Aço) e não viu melhorias no rio. “A situação é bastante triste e prevalece a sujeira. O marrom dá o tom da água. A imagem é impressionante, aquele lamaçal todo. Terá de ser feito um trabalho enorme pra tirar a lama”.

Marini está impressionado com o cenário de destruição. “Me espanta como o rio está. É difícil acreditar que ele voltará às condições normais”, lamenta.
Segundo ele, muita coisa também ainda precisa ser feita para melhorar a situação dos ribeirinhos. “O rio está bastante poluído e a população sem saber qual é a realidade. A falta de informação é muito clara, ninguém sabe se pode ser consumida a água, se existe condição para pescar naquela região, há muita desinformação”.

Racionamento

Desde abril, municípios fazem um revezamento no uso da água do rio Doce, de acordo com Lucinha Teixeira. “Desde 2014 são feitas reuniões para traçar um planejamento com os órgãos de saneamento. Além disso, vamos receber investimentos. Quase toda a bacia e seus afluentes vão começar a passar por um processo de recuperação de nascentes, saneamento rural e tentar, a médio prazo, melhorar a situação”, comenta.Lu Marini/Divulgação

REGISTRO AÉREO – Também estão sendo observadas as condições das matas ciliares e da população ribeirinha

Força-tarefa promete devolver a qualidade do curso d’água

Desde o dia do rompimento da barragem de Fundão, órgãos públicos de meio ambiente e a Samarco estão tomando providências para tentar reparar os danos e o rio voltar à normalidade.

Por meio de nota, a mineradora afirma que “faz a revegetação ao longo do rio Doce e seus afluentes, procurando promover a melhoria das condições do solo e possibilitar ações futuras para sua recuperação”.

Segundo a empresa, estão sendo recuperados 50 rios tributários (menores cursos d’água, que deságuam no Doce) para melhorar a qualidade da água. Está prevista a recuperação de mais 51.

Estão em andamento obras para o carreamento e depósito de rejeitos, a desobstrução da usina hidrelétrica e a construção de barragens e diques. A Samarco afirma que faz avaliação constante da água em vários pontos do rio Doce e que iniciou a construção de uma forma alternativa para captação de água em Governador Valadares, no Leste de Minas, e em Linhares, no Espírito Santo.

Melhorias

Em 1º de agosto, o Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam) divulgou um relatório sobre a qualidade do Doce. O resultado das avaliações feitas em junho deste ano indicam que houve uma redução significativa dos rejeitos de minério e seus reflexos na água, especialmente nas estações de amostragem.

Porém, existem irregularidades. Há uma piora na avaliação de aspectos como a turbidez (quantidade de materiais que influenciam na passagem de luz por meio do rio), prejudicando o ecossistema.

Existe também irregularidades em outros pontos da bacia. Os níveis de alumínio dissolvido nos trechos que banham os municípios de Governador Valadares e Tumiritinga estão acima do desejável.

O excesso de ferro foi observado em Periquito e Tumiritinga. Ainda há registros de níveis de chumbo acima do permitido em Rio Casca. Os parâmetros limites são estabelecidos pela Agência Nacional das Águas (ANA).

Procurada pela reportagem, a Copasa informou que o Estado faz uma força-tarefa, envolvendo vários órgãos, para solucionar os problemas, que são complexos. A companhia garante a boa qualidade da água que distribui.


REGISTRO AÉREO – Também estão sendo observadas as condições das matas ciliares e da população ribeirinha

* Estagiário supervisionado pelo editor Renato Fonseca

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por