Dia do Índio

Exposição de fotos de estudante da UFMG aborda a pandemia nas aldeias indígenas em Minas

Da Redação
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Publicado em 19/04/2022 às 14:11.
 (Divulgação UFMG)

(Divulgação UFMG)

Até 30 de abril, a Faculdade de Medicina e a Escola de Enfermagem da UFMG exibirão a exposição (Re)Tratar – Cura da Terra, com trabalho de fotografia que ilustra a vida de dois povos indígenas aldeados durante a pandemia da Covid-19. As imagens foram feitas em comunidades do povo Xakriabá, no município de São João das Missões (Norte de Minas), e do povo Kaxixó, no município de Martinho Campos (Centro-Oeste mineiro). 

Na Faculdade de Medicina, a exposição estará no Corredor da Memória, organizado pelo Centro de Memória (Cememor) e é aberta ao público visitante. As obras fazem parte do Abril Indígena UFMG. Com formato inédito, a iniciativa do Programa de Educação Tutorial (PET) Indígena, com apoio da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) da UFMG, é divida em quatro temáticas: território, educação, saúde e cultura. 

A obra

Quando recebeu a notícia de que a pandemia havia chegado ao Brasil, o estudante de Medicina na UFMG Otávio Kaxixó estava em Belo Horizonte. “Tivemos que retornar para nossas comunidades por uma questão de segurança. Meu povo recebeu a Covid-19 de forma assustadora, já que, a princípio, não sabíamos como nos comportar para evitar a infecção. Foi tudo muito instável, assim como foi fora da aldeia”, conta.

As dificuldades aumentaram pela falta de demarcação do território. “Nossa terra não está demarcada e, por isso, fica difícil controlar o fluxo de pessoas que entra e sai das aldeias. Em territórios demarcados, como os do povo Xakriabá, a realidade foi um pouco diferente, já que eles puderam fazer uma barreira de contenção, que foi um ganho diante do enfrentamento da Covid”, afirma Otávio. Ele cita, ainda, o descaso político do governo federal em relação aos povos indígenas e à pandemia como outro complicador do enfrentamento no contexto de povos aldeados.

“Nós sempre alertamos para as mudanças climáticas, sempre levamos a mensagem de que a Terra pede socorro. Interferir no meio ambiente como um todo traz para os seres humanos doenças que estão restritas no ecossistema. Sempre alertamos sobre queimadas, desmatamento, e não fomos ouvidos. Precisou acontecer uma pandemia para as pessoas repensarem qual tem sido a nossa relação com o meio ambiente”, denuncia.

Para o estudante do povo Kaxixó, a sociedade também foi forçada a refletir sobre o comportamento em relação aos biomas brasileiros. “A pandemia de Covid-19 foi trazida de outro continente, mas se no Brasil continuar essa destruição em larga escala, novas pandemias vão surgir em curto espaço de tempo. É o momento de colocar na balança: o lucro ou as vidas”, defende.

A exposição vai retratar um pouco desse contexto. “No Kaxixó, tivemos aumento da exploração de recursos hídricos durante a pandemia, assim como de queimadas para substituição de floresta por lavouras. Foi o agronegócio passando a boiada. Tentamos conter, mas o que mais nos assola é que, ao mesmo tempo, precisamos proteger os nossos parentes da infecção pela covid. Fomos pegos de surpresa. Até hoje tentamos contornar esses abusos”, explica.

Além das fotografias, o material produzido foi base de um documentário. À obra de Otávio, somam-se alguns registros de Emanuel Kaauara, que atuou como videomaker, além de imagens feitas por drone por Marcus Vinicius. “O distanciamento social para nós, indígenas, é complicado, uma vez que estamos sempre em contato coletivo. É a mesma coisa que nos pedir para deixar de ser indígena”.

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