(Eugênio Moraes)
Cooperativas ilegais de táxi agem de forma organizada no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em uma estrutura que envolve agenciadores, olheiros e motoristas que utilizam carros particulares, conhecidos como “piolhos”, o grupo recorre à tecnologia para avisar comparsas sobre a presença de fiscais e blitze e sobre a movimentação de passageiros no terminal.
A situação é recorrente, mas em ano de Copa do Mundo, a impressão é a de que ainda está longe de ser resolvida. Nas três horas em que a reportagem do Hoje em Dia permaneceu no aeroporto, na última sexta-feira (14), pelo menos um agenciador, bem vestido e aparentando ter 40 anos, agiu livremente em frente ao portão de desembarque doméstico. Enquanto o homem abordava potenciais clientes, um colega levava quem aceitava o serviço ilícito até o carro estacionado. No local, uma terceira pessoa, o motorista, aguardava o passageiro.
Em um táxi legalizado, são cobrados, em média, R$ 110 em uma corrida do aeroporto até o Sion, zona Sul de Belo Horizonte. No transporte irregular, o preço cai para R$ 90. Esse foi o orçamento oferecido pelo agenciador à reportagem, que se passou por cliente.
O homem disse que tinha levado um passageiro até o aeroporto e que tentava outro para “arrumar um troquinho” na volta. Pensando que estava prestes a fechar um serviço, ele entregou um cartão com o nome de uma empresa que faz transporte executivo em veículos de luxo e com alto padrão de atendimento.
“É o que estão oferecendo, um serviço mais especializado, mas o passageiro não sabe o risco que corre”, alerta o diretor de fiscalização do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), João Afonso Baeta.
Ele garante que, apesar de a reportagem não ter visto fiscais no período em que esteve no aeroporto, os agentes adotaram a estratégia de abordar passageiros e “piolhos” no estacionamento do terminal, quando o grupo já está no carro, ou no Centro de Belo Horizonte. Para isso, três equipes do DER ficam de prontidão na capital, em contato direto com colegas que avisam a saída do clandestino.
Nos dois primeiros meses deste ano, o órgão promoveu 250 abordagens de veículos suspeitos de transporte clandestino na região de Confins. Desse total, 25 foram apreendidos e os motoristas, detidos. Eles assinaram um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foram liberados.
‘Piolhos’ lançam mão da tecnologia para se perpetuar no aeroporto
O uso de aplicativos que permitem a comunicação em tempo real, como o WhatsApp, a legislação branda e a ausência de fiscalização fomentam a atuação de táxis clandestinos no Aeroporto de Confins. A constatação é de uma autoridade policial que pediu anonimato. “O ‘piolho’ é detido em flagrante, mas assina um Termo Circunstanciado de Ocorrência. Está praticamente livre e volta a agir”, diz.
O comandante do pelotão da Polícia Militar no terminal, tenente Ricardo Azevedo, por sua vez, garante que há trabalho de inteligência em conjunto com a Polícia Civil. Segundo ele, imagens de câmeras da Infraero também ajudam no monitoramento e na abordagem fora do perímetro do aeroporto. “A ideia é coibir e apreender o veículo”, afirma.
Para ele, o próprio passageiro precisa ter a iniciativa de não aceitar o serviço de um clandestino. “Se existe oferta é porque há demanda. O usuário tem sua parcela de culpa”, avalia o policial.
Entre os taxistas regulares, sentimento de revolta e impotência. Atualmente, 508 profissionais são credenciados a prestar serviço no terminal. “Estamos reféns dos ‘piolhos’. Eles agem descaradamente e não vemos ninguém nos defender”, desabafa S.R., que atua há três anos em Confins, vinculado ao táxi metropolitano (autorizados a circular na região metropolitana).
Segundo ele, os gastos para manter o serviço legalizado é de cerca de R$ 20 mil. “Só de seguro contra acidentes, por exemplo, o DER exige um mínimo de R$ 5 mil. “Dá vontade de largar tudo e trabalhar como os ilegais, pois eles ganham mais e não pagam tributos”, diz um taxista de Belo Horizonte. “Perdemos um rendimento bom, mas os ‘piolhos’ estão lá, sem que ninguém faça nada”.