(Editoria de Arte)
A cada dois minutos, uma pessoa morreu no Brasil por conta de erros nos hospitais públicos e privados em 2016, totalizando 302,6 mil óbitos. Ao todo, as falhas vitimaram 1,4 milhão de pacientes internados. Desses, 980 mil equívocos poderiam ter sido evitados.
Segundo pesquisa divulgada ontem, falta de estrutura, investimento e sobrecarga de trabalho dos profissionais, dentre outros fatores, contribuíram para o resultado. O levantamento foi feito pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e pela Faculdade de Medicina da UFMG.
Os dados mostram que todos os dias falhas como medicamentos errados, esquecimento de equipamentos cirúrgicos dentro dos doentes, falta de higiene e diagnósticos equivocados têm causado uma série de doenças e infecções em pacientes.
Mais frequentes
As condições mais frequentes são lesão por pressão, infecção urinária associada ao uso de sonda vesical, fraturas ou lesões decorrentes de quedas ou traumatismos dentro do hospital, trombose venosa profunda ou embolia pulmonar e infecções relacionadas ao uso de cateter venoso central. Em alguns casos, os danos são irreversíveis e culminam em mortes. Bebês e idosos são os mais afetados.
O estudo não revela a realidade em Minas, mas o Estado acompanha o desempenho nacional, afirma um dos autores do levantamento, o professor da UFMG Renato Couto. “A rede hospitalar em Belo Horizonte é bem equipada, mas como o Estado tem muitos municípios e vários hospitais pequenos e sem estrutura, o desempenho é jogado para baixo”.
Apenas nas 69 unidades hospitalares públicas e particulares da capital, conforme a Secretaria de Saúde de BH, foram 7.687 incidentes no ano passado. Em 2017, até 31 de agosto, 6.356 casos. Em nota, a pasta explica que os principais problemas na assistência à saúde são úlcera por pressão (quando o doente fica muito tempo na mesma posição), queda do paciente e equívoco na identificação dele.
Escassez de recursos
Para o presidente da Associação Médica Brasileira, Lincoln Lopes Ferreira, falta de recursos é predominante entre os erros. “Se a estrutura não está adequada, as chances de haver falhas aumentam. O que vemos é uma ausência de equipamentos necessários para fechar o diagnóstico. Faltam até insumos para o tratamento”, diz.
A pesquisa concluiu que algumas soluções seria reduzir o número de hospitais e focar na construção de grandes centros regionais. “O problema hoje não é falta de leitos porque 40% deles estão ociosos. É preciso concentrar a alta complexidade em grandes hospitais e qualificar melhor os profissionais”.
Prejuízos
Os danos à saúde dos pacientes causados pelos erros hospitalares deram um prejuízo de R$ 15 bilhões aos planos de saúde em 2016, segundo a pesquisa divulgada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e pela Faculdade de Medicina da UFMG. Como os doentes precisam ficar mais tempo nos hospitais, eles demandam mais gastos. A Associação Brasileira dos Planos de Saúde não quis se pronunciar sobre o assunto.
Presidente da Central dos Hospitais, representante das instituições privadas, Reginaldo Teófanes Ferreira de Araújo explica que a maior parte dos erros acontece nas unidades de menor porte, com até 50 leitos, que são a maioria no Estado. Além disso, ele lembra que os baixos salários pagos aos profissionais de saúde fazem com que eles trabalhem em vários empregos. Dessa forma, o cansaço impacta no resultado.
Em nota, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) afirma que estimula a qualificação do setor para uma melhora do atendimento aos beneficiários de planos de saúde. O Ministério da Saúde disse que realiza projetos de melhoria dentro de hospitais públicos com foco no cuidado seguro.