(Flavio Tavares)
Um estelionatário foi preso preventivamente na manhã desta segunda-feira (13) pela Polícia Civil após ter enganado a Vale e ter recebido indevidamente benefícios exclusivos a ex-moradores de área de risco de rompimento de barragem em São Sebastião das Águas Claras, distrito conhecido como Macacos, em Nova Lima, na Grande BH. A verdadeira moradia do suspeito é o bairro Betânia, na região Oeste da capital.
De acordo com a Polícia Civil, outras pessoas e outras modalidades criminosas estão sendo investigadas e novas detenções devem ocorrer "em breve". Essa é a primeira fase da operação Chacal, que busca garantir o acesso dos realmente necessitados às doações, além de alimentação e hospedagem, impedindo que terceiros oportunistas se utilizem desses recursos.
O homem detido nesta manhã após mandado expedido pela Vara Criminal de Nova Lima foi preso justamente no momento em que aguardava na fila para receber benefícios oferecidos pela mineradora a moradores que tiveram que deixar suas casas, em Macacos.
Segundo Murillo Ribeiro de Lima, delegado responsável pela investigação, o detido se declarava morador da área de risco e, portanto, sujeito a obtenção de assistência. No entanto, ficou comprovado que ele reside no bairro Betânia, em BH.
"Ele já estava hospedado em pousada há mais de 20 dias. Já tinha assinado o termo de requerimento solicitando essa doação e estava recebendo regularmente, semanalmente, vouchers de alimentação", afirmou o policial. O homem foi preso pela prática de estelionato e figura como investigado pelo crime de associação criminosa, o que significa a reunião de ao menos três pessoas para a prática ilícita.
Ainda segundo Murillo, o falso morador alegou que se aproveitou da situação por estar em "momento de dificuldade". "Porém, não há muito a dizer em defesa, pois os fatos foram apurados de forma bem criteriosa. Na investigação, obtivemos o verdadeiro endereço dele", contou.
Além disso, o endereço que o estelionatário passou já foi evacuado pelos moradores verídicos, que estão sendo acompanhados pela mineradora.
Outros crimes
De acordo com o delegado responsável pela investigação, outros tipos de crime estão sendo apurados. Um deles trata-se da suposta utilização de vouchers de alimentação para a troca por drogas e por serviços como prostituição. "Há indícios, mas a investigação é sigilosa", disse.
Evacuação
A barragem B3/B4 da mina Mar Azul, da Vale, no distrito de Macacos, em Nova Lima, na Grande BH, teve seu risco de rompimento elevado de nível 2 para o nível 3 de segurança no dia 27 de março deste ano.
Inicialmente, os moradores não foram retirados do local, mas uma liminar do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) um dia após a elevação para o risco máximo exigiu que a mineradora tomasse, em até 48 horas, uma série de medidas para garantir a segurança de moradores do distrito. Entre elas, estava a evacuação e o pagamento de "benefícios" aos moradores.
Procurada, a mineradora ainda não se manifestou sobre a fraude.