Bárbara Victória foi morta aos 10 anos (Arquivo Pesoal)
A família da menina Bárbara Victória, encontrada morta na última terça-feira (2) em um campo de futebol em Ribeirão das Neves, na Grande BH, questionou a investigação da Polícia Civil. De acordo com a advogada dos pais da criança, a Polícia Civil liberou o assassino mesmo tendo elementos para a prisão.
"Porque a Polícia Civil liberou o único suspeito, mesmo depois de ouvi-lo, apesar de tantos indícios", disse a defensora Aline Fernandes em nota divulgada à imprensa hoje.
Na quarta-feira (10), a instituição afirmou que Paulo Sérgio de Oliveira, de 50 anos, foi o responsável pelo crime, após resultados do exame de DNA. O laudo apontou a presença de material genético do homem no corpo da menina.
O principal suspeito do crime havia fornecido, voluntariamente, material genético na terça-feira (2), quando o corpo de Bárbara foi encontrado. No dia seguinte, ele foi encontrado morto na casa de uma parente, em Belo Horizonte.
O suspeito já havia sido registrado por imagens de câmeras de segurança caminhando ao lado de Bárbara após a menina deixar uma padaria no domingo, 31 de julho, data em que ela foi declarada desaparecida.
Pais suspeitos
No texto, a defensora afirma que os pais de Bárbara foram ouvidos pela PC como testemunhas, mas foram tratados “como suspeitos”. Um dos questionamentos feitos pela investigação foi a respeito do pedido de adiamento do depoimento da família, que seria no dia seguinte ao sepultamento da criança.
(Valéria Marques / Hoje em Dia)
“É desumano reprimir pais vitimados pelo crime da filha por não se manifestarem oficialmente em sede policial um dia após o enterro da filha que foi alvo da crueldade humana”, disse Aline Fernandes.
Ainda de acordo com o pronunciamento, o responsável por solucionar o desaparecimento e morte da jovem indagou as condições financeiras do pai. “Insinuando que ele não teria capacidade econômica para estar sendo assistido por uma advogada desde o momento do desaparecimento de sua filha”, escreveu Aline.
A reportagem do Hoje em Dia procurou a Polícia Civil questionando os fatos apresentados pela nota da família e aguarda retorno.
Bárbara Victória
A menina de 10 anos morava no Mantiqueira, na região de Venda Nova, em BH, em uma casa humilde com a mãe, Luciene do Nascimento, com o pai, Rogério, um irmão mais novo de 1 ano, uma irmã de 3, e um irmão mais velho, de 15.
Bárbara saiu de casa para comprar pão por volta das 17h30. Imagens de câmeras de segurança mostram que a menina chegou ao estabelecimento, comprou os pães e deixou o local às 17h46. Às 17h53, ela aparece caminhando ao lado de Paulo Sérgio. Às 17h55, outra câmera registrou a menina descendo uma rua correndo.
Bárbara foi encontrada morta na terça-feira (2) a 500 m da casa onde morava, usando a mesma camisa do Atlético do dia em que desapareceu, mas sem o short. Conforme declaração de óbito emitida pelo Instituto Médico Legal (IML), a causa da morte foi asfixia.
Confira o texto da defesa da família na íntegra:
"Nota à imprensa
Os genitores de Bárbara Victoria se manifestam conjuntamente a sua advogada, Dra Aline Fernandes, sobre as atualizações da investigação:
A família tem interesse em conhecer todos os envolvidos no assassinato de Bárbara Victória, entretanto, há especulação em torno da motivação do crime, o que não possui relevância, pois, nada explica a crueldade do assassinato. Bárbara era uma menina de 10 anos, conhecida por sua pureza, meiguice e amabilidade, entretanto, foi amarrada, estuprada, violentada e posteriormente morta. Não existe qualquer motivo capaz de justificar um crime violento perpetrado contra o corpo de uma criança.
Nesse momento, surgiram inúmeros comentários infundados com o intuito em deslocar o foco da investigação, o que poderá levar o caso ao esquecimento, como tantos outros.
A família e a sociedade têm o direito de ter a resposta: “por que a Polícia Civil liberou o único suspeito, mesmo depois de ouvi-lo, apesar de tantos indícios?” É importante esclarecer que constou em boletim de ocorrência, realizado pela Polícia Militar no dia 01 de agosto, a existência da sacola de pão na casa do suspeito, assim como relatado pela genitora de Bárbara. O suspeito foi a última pessoa a ser vista em vídeo com a menor. Esse fato por si só seria o suficiente para ensejar a decretação da prisão preventiva ou temporária do sujeito, o que infelizmente não ocorreu.
A defesa, através de uma investigação autônoma, conseguiu realizar conectivo com a morte de Bianca dos Santos Faria, uma criança de 11 anos assassinada em 2012 com o mesmo modus operandi utilizado na morte de Bárbara. Constatou, ainda, que o autor do crime contra Bianca nunca foi localizado. Para além disso, averiguou que o suspeito do crime de Bárbara residiu próximo à casa de Bianca.
O que causa espanto é perceber que ao notificar a Polícia Civil das informações averiguadas, soube que tal fato não era novidade para o departamento.
Mais uma vez, mesmo diante de todos os indicativos, fica a dúvida: porque não foi decretada a prisão preventiva do suspeito?
Apesar de, até o presente momento, o único investigado ser Paulo Sérgio de Oliveira, persiste a dúvida quanto a autoria e o envolvimento de outros criminosos. Nesse sentido, a família de Bárbara e sua advogada, aguardam o fim da investigação que concluirá sobre a execução desse crime atroz e seus envolvidos.
Outrossim, pedimos compreensão a todos os veículos midiáticos que poupem a família nesse momento para conceder entrevistas. Bárbara foi vítima de uma crueldade histórica e inaceitável, todos se encontram em extremo sofrimento psicológico.
Por fim, esclarece-se que os genitores de Bárbara foram ouvidos pela PCMG na condição de testemunhas, entretanto, foram inquiridos como suspeitos: o delegado Fábio Werneck, em desrespeito ao luto da família, questionou o fato de os genitores haverem remarcado o depoimento que seria no dia seguinte ao sepultamento da filha. Questionou, ainda, o fato da repercussão midiática em torno da família, situação que nenhum deles possui qualquer controle. É desumano reprimir pais vitimados pelo crime da filha por não se manifestarem oficialmente em sede policial um dia após o enterro da filha que foi alvo da crueldade humana. Como se não bastasse, o delegado indagou a renda do genitor, insinuando que ele não teria capacidade econômica para estar sendo assistido por uma advogada desde o momento do desaparecimento de sua filha, como se a pobreza fosse exceção ao princípio constitucional do acesso à justiça e à ampla defesa, o que é inadmissível.
Cordialmente,
Dra Aline Fernandes"
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