Uma fazenda denunciada por trabalho escravo foi invadida por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na manhã desta quarta-feira (4) em Campanha, no Sul de Minas. Eles exigem que a área seja desapropriada e cobram uma fiscalização mais intensa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) sobre denúncias de trabalhadores mantidos em situação análogas à escravidão em fazendas cafeicultoras do Sul do Estado. Segundo Jorge Ferreira dos Santos Filho, um dos líderes Articulação dos Empregados Rurais (Adere-MG), a situação de trabalho escravo na fazenda Real Paraíso é recorrente e a propriedade já foi denunciada por diversas vezes pela mesma prática. No entanto, dessa vez a situação é mais grave porque um lavrador que conseguiu fugir da propriedade e denunciou o caso às autoridades está desaparecido há aproximadamente 15 dias. De acordo o delegado da Polícia Federal, João Carlos Girotto, o principal suspeito é o proprietário da fazenda, Paulo Alves Lima, de 59 anos. Ele foi preso no dia 23 de agosto e é investigado pelo crime de sequestro do trabalhador Hélio Costa de Araújo. Ainda conforme o delegado, o trabalhador estava em um hotel custeado pelo Ministério do Trabalho e, segundo testemunhas, teria sido levado por um homem que se identificou como sendo seu ex-patrão. "Já ouvimos outros trabalhadores e temos prova testemunhal, mas nosso objetivo maior é indentificar o paradeiro do Hélio", afirmou. Paulo Alves está cumprindo prisão preventiva no Presídio de Varginha. Nesta quarta-feira, o gerente regional do Ministério do Trabalho de Varginha, Mário Ângelo Vitório, esteve na fazenda ocupada pelo MST e disse que uma reunião foi agendada para a próxima sexta-feira (6) com o superintendente regional do Trabalho e Emprego em Minas, Vicente Silluzio. "Eles querem a ampliação das fiscalizações em toda região do Sul de Minas, mas temos apenas oito auditores para atender a 46 municípios", disse. Apesar do corpo restrito de servidores, Mário Ângelo garantiu que as ações têm sido intensificadas na região. Já sobre o desaparecimento de Helio Costa, o gerente do MTE afirmou que nenhuma providência de segurança foi tomada porque não havia nenhuma denúncia de ameaça feita pelo trabalhador. "A fazenda Real Paraíso tem quase cem ações fiscais, mas o empregador nunca se mostrou agressivo, aliás sempre se prontificou a participar das reuniões junto ao Ministério do Trabalho e acolhia os auditores em sua propriedade", afirmou. Ainda de acordo gerente do MTE em Varginha, Hélio Costa acionou a Polícia Militar na rodoviária de Campanha e denunciou a situação de trabalho escravo. Em uma ação conjunta, auditores do Ministério do Trabalho e policiais militares estiveram na fazenda mas não encontraram nada que configurasse trabalho escravo. Poucos dias depois, um trabalhador foi resgatado da propriedade e o fazendeiro autuado. Segundo o líder do MST, Sílvio Netto, as famílias de sem terra continuarão na fazenda e já estão organizando as barracas para permanecer na propriedade por tempo indeterminado. "Temos a expectativa de que seja feita uma vistoria e seja aberto um processo administrativo para desapropriação da área, bem como de toda propriedade em que haja trabalho escravo no país", afirmou. A reportagem do Hoje em Dia tentou contato com representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas não obteve sucesso.