(Flávio Tavares)
A relação comercial entre Brasil e China é vista como um mar de oportunidades para muitos profissionais. Porém, o domínio do mandarim é fundamental para quem busca uma chance de emprego. De olho nesse filão, a procura para aprender o idioma do país oriental tem crescido em Belo Horizonte. Em algumas escolas, o aumento da demanda chega a 45%.
Universitários, principalmente dos cursos de engenharia, economia e relações internacionais, são os mais interessados. Quanto mais cedo eles começarem os estudos, melhor: pode-se levar até oito anos para se tornar fluente.
Sediado na UFMG, na capital mineira, o Instituto Confúcio viu as matrículas para o curso de mandarim crescerem no ano passado, na comparação com 2017. De 407 alunos, a instituição passou a atender 590. “A procura tem sido expressiva no início de 2019, mas as inscrições ainda estão abertas e não há um número fechado”, informou Bárbara Malveira Orfanó, uma das diretoras do Confúcio.
A instituição mantém vínculo com o governo chinês e, segundo Bárbara, a busca pelo mandarim decorre da instalação de mais empresas tanto aqui quanto no país oriental. Em 2018, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, a China foi responsável por 18% das exportações brasileiras.
Por meio do convênio, os estudantes têm chance de ir à Ásia para aperfeiçoar o aprendizado. De 2014 a 2018, conforme a diretora, 30 universitários foram beneficiados.
Habilidade
Outro fator relevante para o crescimento de participantes nos cursos é o déficit de profissionais que dominam português e chinês, frisa Enrico Brasil, proprietário da Escola Huawen, na região Centro-Sul de BH. “Existem muitas empresas da China aqui no Brasil, mas ainda falta quem faça a ponte e saiba negociar com os orientais”.
Em 2017, segundo o empresário, 70 pessoas se matricularam na instituição para aprender o idioma. Neste ano, Enrico prevê um crescimento de quase 60%. “Ao fim de 12 meses, o aluno já consegue se virar na China com um dicionário debaixo do braço”. Segundo ele, após sete anos e meio, a pessoa já domina o mandarim.
Mas o interessado em descobrir o idioma não é apenas quem deseja trabalhar na nação asiática. “Também nos procuram os que querem só viajar para conhecer lá”, comenta Lu Yen Chen, professor da Escola Xue-Ju, na região Centro-Sul da metrópole.
Músicas e filmes
O avanço da China no cenário mundial motivou a estudante de engenharia mecânica Clara Mesquita, de 23 anos, a iniciar a preparação no mandarim. Ela aprende o idioma desde 2018. “O vocabulário é muito difícil, não é intuitivo como as outras línguas. Mas achei interessante aliar meu interesse pela cultura asiática a uma vantagem comercial”, afirma.
Clara conta que, para aperfeiçoar o que aprende nas aulas, escuta músicas em mandarim pelo aplicativo Spotify e assiste a um vasto catálogo de longas-metragens chineses na Netflix. “Semana passada, enquanto assistia a um desses filmes, consegui entender uma frase. Fiquei com uma sensação de satisfação”, lembra.
Esse método é positivo, avalia Evandro Sanchez, um dos diretores do curso Luziana Lanna, em Belo Horizonte. “O chinês tem milhares de fonemas que não existem no nosso vocabulário. São nuances diferentes”, aponta. “Aqui no Brasil, o português é muito cantado. Já o alemão, por exemplo, é mais duro. Por isso, recomendamos que assistam noticiários e escutem as músicas”, acrescenta Evandro Sanchez.