Garganta ameaça o coração: inflamações nas vias aéreas podem atingir órgão vital

Flávia Ivo
fivo@hojeemdia.com.br
03/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:20
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

Muito comuns nesta época mais fria do ano, as infecções de garganta, tratadas com frequência como problemas mais simples de saúde, podem gerar complicações cardíacas e levar a quadros sérios, incluindo internações. Susto pelo qual passou, recentemente, a família do universitário Stefano Di Pietro, de 18 anos.

No início de junho, o estudante apresentou um quadro de gripe com inflamação de garganta, buscando atendimento médico em um posto de saúde próximo de casa, onde foi indicado tratamento com antibiótico.

No entanto, antes mesmo de iniciar a medicação, Stefano começou a sentir fortes dores no peito e no braço direito. “Sintomas semelhantes ao de um infarto”, relata o pai do jovem, Enzo Di Pietro.

Durante a triagem no pronto-socorro, a informação foi de que o quadro de saúde do estudante inspirava cuidados. O diagnóstico era de miocardite aguda.

A doença é definida pela inflamação do músculo da parede do coração, o miocárdio, e atinge, principalmente, jovens adultos, antes dos 40 anos, e do sexo masculino.

“A infecção viral que deu na garganta ‘desceu’ para o coração, atingindo o miocárdio. O Stefano ficou internado por seis dias”, descreve Enzo.

Causas

Não só os quadros de faringite, amigdalite e outras inflamações das vias aéreas podem desencadear o problema. De acordo com Saulo Emanuel Barbosa, cardiologista dos hospitais Vera Cruz e Odilon Behrens, quaisquer quadros prévios de inflamações, sejam elas provocadas por vírus ou bactérias, são passíveis de causar a miocardite.

“De 8% a 12% da população é acometida pela doença, mas somente 30% dessa parcela dos pacientes sentem os sintomas”, destaca o especialista.

Caso do também estudante Túlio Gomes, de 19 anos, amigo de Stefano. O jovem teve um quadro pior que o do colega, uma miopericardite, enfermidade que atinge não só o miocárdio, mas também o pericárdio, parte mais externa do coração.

“Eu tinha 17 anos. Comecei a sentir uma dor no peito e, ao chegar ao hospital, já me internaram por uma semana. Mas só senti essa dor e mais nada. Foi mais assintomático”, relembra Túlio.

Dentre os sinais mais comuns e perceptíveis pelos pacientes estão: dores no peito, arritmias, dificuldades para respirar e inchaço nas pernas.

Tratamento da miocardite envolve uma série de restrições

Ter passado por uma miocardite impôs a Stefano Di Pietro uma série de restrições. Ingerir líquidos que estimulem os batimentos cardíacos como os energéticos está proibido. O retorno às atividades físicas, por exemplo, ainda será avaliado. O repouso é parte essencial do tratamento, revela o médico Saulo Barbosa, que tem acompanhado o jovem após o episódio. 

“O tratamento é direcionado caso a caso. Mas, basicamente, consiste em hidratação venosa e oral, a restrição de exercícios físicos de três a seis meses, dependendo do grau da enfermidade. Cortar o consumo de álcool ou outras bebidas que contenham taurina, cessar o tabagismo, se for o caso. Por fim, lançar mão de anti-inflamatórios como AAS e ibuprofeno”, explica.

No caso de Túlio Gomes, com a miopericardite, foram seis meses longe da academia e dos esportes. Além disso, o lazer também ficou em segundo plano. Balada, nem pensar! “Perto de completar os seis meses, eu fui a um show e precisei ficar em pé. Durei apenas duas horas no local, tive que ir embora, tinha desacostumado”, conta.

Conforme o especialista, o tempo de duração do tratamento depende da causa da inflamação e do estado de saúde geral do paciente. A miocardite pode levar pelo menos duas semanas para ceder, em alguns casos, meses ou até mesmo causar danos permanentes.

“Em mais de 70% dos pacientes, os sintomas cessarão sem sequelas; uma parcela terá arritmias e insuficiência cardíaca”, diz o médico.

Prevenção

Manter atividades físicas regulares, boa alimentação e hidratação são algumas das dicas para se proteger da miocardite. Importante, também, é evitar as infecções.

“A vacinação de forma geral é um ótimo método de prevenção de infecções e inflamações. É uma proteção contra vírus e bactérias, por mais que muitas pessoas duvidem disso”, ressalta Saulo Barbosa.Editoria de Arte

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