(Fernanda Carvalho/Hoje em Dia)
O golpe de clonagem do WhatsApp, que já deixou um rastro de vítimas por Espírito Santo, Maranhão, Distrito Federal e Rio Grande do Sul, chegou a Minas. A Polícia Civil confirma a investigação de casos ocorridos no Estado, mas os trabalhos seguem sob sigilo. Em Belo Horizonte, um empresário do ramo da construção relata prejuízo de mais de R$ 7.500. Neste tipo de golpe, fraudadores clonam o WhatsApp da vítima para pedir a amigos e familiares a tranferência de altas quantias de dinheiro, com a promessa de retornar o pagamento no dia seguinte.
Segundo a Polícia Civil, nesses casos não há clonagem do número de telefone, mas os estelionatários desabilitam o chip da vítima, para depois habilitarem o número em outros chips. Caso a vítima não tenha realizado a verificação em duas etapas do WhatsApp (uma atualização de segurança), os golpistas conseguem clonar a conta nesse aplicativo. Durante as investigação de casos com esse tipo de ação no Espírito Santo, levantou-se a suspeita de que funcionários de operadoras estejam envolvidos no esquema, conforme mostrou a reportagem do Hoje em Dia no dia 7 deste agosto.
O empresário Claudio Silveira Junior relata que, na última quinta-feira (17), viu que o celular perdeu o sinal por volta das 17h40. Ele tentou acesso pelo wi-fi, tirou o chip do aparelho algumas vezes, mas nada resolveu o problema. Poucos minutos depois, um funcionário o procurou para dizer que tinha conta no Banco do Brasil e poderia ajudá-lo.
“Mas por que está me dizendo isso?”, questionou Claudio, surpreso. Foi quando o funcionário mostrou uma mensagem em um grupo no WhatsApp em que Cláudio perguntava aos amigos quem tinha acesso ao Internet Banking do Banco do Brasil e poderia ajudá-lo a fazer uma transferência.
“Na mesma hora falei com o gerente comercial da empresa para localizar todos os meus contatos e avisar que estava acontecendo um golpe. Peguei outro telefone e saí ligando para todo mundo que eu lembrava que estava nos meus grupos. Quando liguei para o meu pai, ele já atendeu dizendo: 'Já estou enviando a quantia para você', relata Claudio.
Em seguida, o empresário correu até uma loja da operadora Vivo para cancelar o número. Como estava em Matozinhos, na Região Metropolitana, no momento do problema, levou cerca de uma hora para chegar na loja em Belo Horizonte e resolver a questão. O número foi cancelado, mas a quadrilha continuou a utilizar a conta do WhatsApp por meio de uma rede wi-fi.
Prejuízo
Mesmo com a reação imediata, a quadrilha conseguiu dinheiro de três contatos de Claudio, sob o argumento de ele R$ 7.500 foram transferidos por amigos da vítima para diferentes contas da quadrilha. Claudio fez questão de arcar com o prejuízo e ressarcir os amigos que foram ludibriados ao tentar ajudá-lo. “Essas pessoas que acreditaram estar me ajudando estão passando por dificuldades financeiras. Teve gente que até entrou no cheque especial para me ajudar. Não me sentiria bem ao ver pessoas que tentaram me ajudar ficarem no prejuízo”, afirma.
Como o WhatsApp foi clonado e a senha alterada por um fraudador, ele está sem acesso ao aplicativo há uma semana. “Não sei ainda mensurar o tamanho do prejuízo. É possível que, quando eu retomar a minha conta, descubra mensagens de pessoas me cobrando depois de terem feito o depósito”.
Rapidez da quadrilha
Claudio fez um boletim de ocorrência e levou o caso para a Delegacia de Crimes Cibernéticos. Por meio de uma rede de contatos, o empresário conseguiu descobrir que a clonagem foi em uma loja da Vivo em Niterói, no Rio de Janeiro, às 17h34 – seis minutos antes de perder o sinal no celular.
“O meu número é empresarial. Para habilitar um novo chip, tem que apresentar vários documentos para a operadora e tem que ter uma assinatura do gestor da empresa, que no caso sou eu. Eu pedi para a Vivo a cópia do contrato que foi feito em Niteroi, mas recebi um pedido de desculpas e a informação de que não localizaram o contrato”, afirma Claudio, que pretende entrar na justiça contra a operadora.
A Vivo informa que o caso encontra-se em apuração interna e que trata com o rigor da lei quaisquer possíveis desvios, seja de seus colaboradores ou de terceiros. A empresa diz ainda que mantém, em sua página na internet, orientações para a prevenção de fraudes e orienta, como medida preventiva, que em situações suspeitas o cliente confirme a veracidade das informações com o solicitante utilizando outros meios de contato. Para relatar atividades suspeitas, o cliente pode enviar um e-mail para csirt.br@telefonica.com, entrar em contato com call center ligando no *8486 ou ir até uma das lojas Vivo.
A operadora informa também que revisa constantemente as suas políticas e procedimentos de segurança na busca permanente pelos mais altos controles de segurança nos acessos às informações dos seus clientes.
Como se prevenir
A principal orientação para se proteger desse tipo de clonagem é fazer a atualização de segurança ou verificação em duas etapas (veja quadro abaixo). O especialista em tecnologia, Ronaldo Prass, alerta ainda que, além da atualização do WhatsApp, o ideal é a pessoa ter uma conta de e.mail diferente da informada na ficha de dados da operadora para receber o link da nova senha. "Se a pessoa colocar o mesmo e.mail informado para operadora, é só uma etapa a mais para o golpista habilitar o celular da vítima. Então, tenha uma conta só para isso. É um pouco chato, mas segurança não tem preço", orienta.
Ronaldo Brass ainda critica o acesso que os atendentes tanto das operadoras quanto os terceirizados têm aos dados dos clientes. "Nos casos atuais, se você observar, as vítimas são sempre pessoas com dinheiro, advogados, médicos... As vítimas são escolhidas a dedo por causa do valor da conta de telefone. Dados aos quais os atendentes têm acesso", explica.
O especialista em tecnologia reforça que é preciso ter bom senso quando se recebe uma mensagem pedindo a transferência de qualquer quantia. "Não se pode dar credibilidade demais ao WhatsApp. É preciso verificar com a pessoa pessoalmente antes de fazer a transferência", orienta.
Para quem foi vítima do golpe, a orientação é procurar a Polícia Civil e fazer a denúncia.
Saiba como fazer a atualização de segurança ou verificação em duas etapas: Polícia Civil/ES Polícia Civil/ES Polícia Civil/ES Polícia Civil/ES Polícia Civil/ES Polícia Civil/ES
* Com Liziane Lopes