Governo federal promete fim da luta pela água no semiárido

Izabela Ventura e Gabriela Sales - Hoje em Dia
26/02/2014 às 07:43.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:17
 (Divulgação/Programa Cisterna)

(Divulgação/Programa Cisterna)

Promessa para ser cobrada no fim do ano: todas as 7.497 famílias de baixa renda do semiárido mineiro que ainda não têm acesso a água potável estarão devidamente abastecidas até dezembro de 2014. A meta do governo federal seria garantida por meio de tecnologias de captação de água de chuva.

A proposta do Programa Cisternas, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), é zerar o déficit de abastecimento para o consumo doméstico das famílias, a maioria do Norte de Minas, região que demanda mais atenção.

Como a do produtor rural Antônio Bento Ribeiro da Cruz, de 72 anos. Morador da comunidade Vista Alegre, em Montes Claros, ele e todos em casa aguardam a chegada da cisterna. A água utilizada para o consumo humano e a produção vem de uma barragem comunitária. “Nem sempre tem água. E se seca tenho que andar mais de dois quilômetros até a casa do vizinho mais próximo para garantir a água de beber”, conta.
 
Sofrimento e perdas

Com algum gado de leite e plantações de hortaliças, mandioca e milho, Antônio da Cruz, chegou a perder toda a produção devido à forte estiagem. “Na seca, perdemos toda a produção porque a água escassa fica apenas para o nosso consumo e de alguns animais”, revela.

Inscrito no programa de abastecimento há pelo menos dois anos, o lavrador acredita que sobreviver na seca não seria tão penoso com a instalação do reservatório. “Vou armazenar água da chuva e teremos a tranquilidade para plantar e cuidar do gado”, diz.

Investimento

Desde 2011, o programa entregou 41.003 cisternas no Estado, o correspondente a 85% das famílias que não tinham acesso regular à água. Os outros 15% serão cobertos até o fim do ano, com o investimento de R$ 5 milhões, segundo informou o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Arnoldo de Campos, em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia.

“Sem cisternas, mulheres e crianças têm que buscar água em locais distantes. Há também um impacto na saúde dessas pessoas, pois, muitas vezes, a água que conseguem é de má qualidade”, afirma o secretário.

As cisternas, de baixo custo e fácil instalação, garantem o armazenamento de água no período de estiagem. Elas têm capacidade para 16 mil litros e dão até oito meses de autonomia para suprir as necessidades básicas de uma família de cinco pessoas.

O objetivo, no entanto, é visto com cautela pela professora de ciências sociais da Faculdade IBS/Fundação Getúlio Vargas (FGV) Luciana Souza. Para haver sucesso, lembra ela, é preciso garantir que o cronograma seja seriamente cumprido e sem pausas para a Copa do Mundo e eleições. Além disso, as verbas devem chegar onde realmente precisam e as cisternas, instaladas no período certo.

“A construção deve ser feita antes do período das chuvas, para haver tempo de fazer a captação. Também deve-se desenvolver um trabalho de mobilização das famílias envolvidas”, ressalta.

Apoio à produção agrícola na zona rural

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) pretende entregar, até o fim de 2015, 3,1 mil cisternas de apoio à produção agrícola nas zonas rurais do semiárido mineiro.

De 2011 a janeiro de 2014, 2.188 tecnologias desse tipo foram disponibilizadas para famílias de baixa renda da região.

Segundo o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Arnoldo de Campos, a captação de água da chuva é suficiente para matar a sede de pequenos animais e abastecer áreas produtivas como hortas e pomares. “Essas famílias conseguem produzir alimentos mesmo nos períodos de estiagem e vender parte da produção”, afirma Arnoldo.

Entretanto, investimentos para pequenos produtores ainda são baixos em Minas Gerais, na avaliação da professora de ciências sociais da Faculdade IBS/FGV Luciana Souza. “O volume de quintais produtivos é bem maior em vários estados do Nordeste do Brasil”, salienta.

A importância dessa prática, segundo ela, é que além de melhorarem a qualidade do solo, as produções são boa política pública para comunidades carentes.

Mas nem mesmo a cisterna garante a abundância de água na região. Moradora da zona rural de Me Livre, em Montes Claros, a produtora Maria da Conceição Rosa, de 68 anos, conta que já ficou sem água mesmo com o equipamento. “Sem a chuva não adianta nada. Há dois anos eu fiquei com a caixa vazia porque não choveu uma gota”, lembra.

Em dezembro do ano passado, o reservatório voltou a ter água. “Dezembro choveu demais e consegui encher a caixa”, conta. Para ficar sempre com água, a regra é racionar. “Tento economizar ao máximo. Água para casa (limpeza), horta e gado, somente no balde, para não faltar”, diz.

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