Homens tendem a ganhar uns quilinhos a mais com a chegada dos filhos

Raquel Ramos - Hoje em Dia
03/08/2015 às 06:50.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:11
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

A paternidade não vem sozinha. Com o nascimento de um bebê, o homem ganha novas responsabilidades, uma rotina agitada e, não raro, alguns quilos a mais pelo corpo. Foi essa a constatação de pesquisadores da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, após acompanharem as mudanças de peso de mais de 10 mil rapazes, da adolescência à vida adulta.

Aqueles que tinham mais de 1,80 metro de altura e dividiam o teto com os filhos viram os ponteiros da balança subirem, em média, dois quilos. Os que tinham essa mesma altura, mas viviam em casa diferente das crianças, não escaparam: engordaram cerca de 1,5 kg. No mesmo período, os homens sem filhos perderam 650 gramas.

Os números a mais na balança são pequenos, mas representam um ganho de 2%, mais ou menos, no Índice de Massa Corporal (IMC), padrão internacional para avaliar o grau da obesidade. E quando o IMC – calculado dividindo o peso pela altura ao quadrado – apresenta porcentagens acima de 25%, já é considerado que a pessoa está acima do peso.

MOTIVO

O estudo apontou a prioridade dada à família como um dos principais fatores para explicar os quilos a mais. E, por experiência própria, o consultor de finanças pessoais Diogo Gonçalves, pai de duas menininhas, faz a mesma constatação.

Esportista nato, ele diminuiu o ritmo das atividades assim que se casou. Depois do nascimento de Helena, de 2 anos, viu o tempo dedicado aos exercícios físicos ficar ainda menor. “Os dois meses logo após o nascimento dela foram os mais difíceis. Acabei abrindo mão de tudo até nos adaptarmos”. O período foi curto, mas suficiente para engordar alguns quilos, que só sumiram depois que ele começou a se levantar às 5h da manhã para ir à academia.

Agora, repete a experiência. A caçula Mariana está com poucos dias de vida e, desde então, ele tem preferido ficar em casa. “Novamente, estou em um período de pausa. Mas acredito que, aos poucos, vou conseguir voltar às atividades”.

HÁBITOS

O esforço vale a pena, garante a médica Maria Edna de Melo, do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
“Perder poucos quilos não é tão difícil. Mas são raras as pessoas que conseguem emagrecer muito apenas com mudanças no estilo de vida”. Na maioria dos casos, precisam recorrer a remédios inibidores de apetite, como sibutramina, ou cirurgias.

Não há outra forma para driblar a obesidade, senão com exercícios físicos e alimentação adequada. E é dessa forma que Rodrigo Tavares pretende recuperar a forma física que tinha antes de se tornar pai.

O futebol, o vôlei e a corrida, que faziam parte da rotina, foram deixados de lado após o nascimento da primogênita Beatriz, de 5 anos. E agora que um novo membro da família chegou, quer evitar o ganho de peso entrando na natação.“Quero nadar enquanto minha esposa está no período de licença-maternidade.
A ideia é fazer o exercício no mesmo lugar e horário da Beatriz”.

Seguir uma dieta indicada por nutricionista também faz parte dos planos. Embora não se alimente mal, Rodrigo conta que acabou se acostumando a jantar com a filha, o que também pode ter contribuído com alguns quilos a mais.

GENÉTICA É A PRINCIPAL CULPADA

A paternidade pode até contribuir para o aumento de peso. No entanto, são as características genéticas as principais “culpadas” pela obesidade.

Segundo a médica Maria Edna de Melo, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o DNA que cada um carrega determina em cerca de 70% o Índice de Massa Corporal (IMC) de uma pessoa.

“São várias alterações genéticas que, quando somadas, interferem na predileção pelo alimento, no gosto pela atividade física e até no ritmo do metabolismo”. E, de forma semelhante, as influências sociais também são determinantes para a mudança do peso, alerta Maria Edna.

ALERTA

O problema de ter alguns quilos a mais do que o recomendado não é apenas estético, lembra o cardiologista Eduardo Luiz Guimarães Machado, professor da Faculdade de Ciências Médicas. Doenças crônicas como hipertensão, diabetes e cardiovasculares – que, juntas, respondem por 72% dos óbitos no país, segundo o Ministério da Saúde – têm a obesidade como um dos fatores de risco.

O perigo aumenta com o passar dos anos. Além de o metabolismo reduzir, contribuindo para o ganho de peso, a partir dos 55 anos de idade os problemas cardiovasculares começam a aparecer com mais frequência, alerta o médico.

“A maior ameaça ronda as pessoas com tendência de acumular gordura abdominal. Homens que têm a circunferência abdominal superior a 102 centímetros, e mulheres que têm cintura abdominal com mais de 88 centímetros, têm o risco cardiovascular aumentado”.

PAI PODE SOFRER DEPRESSÃO

Outra constatação da pesquisa norte-americana é que sintomas da depressão tornam-se mais comuns entre os homens depois que se tornam pais. Isso não quer dizer que filhos despertem sentimentos de tristeza, ressalta Maria Clara Jost, doutora em psicologia pela PUC Minas.

Para ela, o problema pode ser atribuído ao aumento do senso de responsabilidade que a paternidade traz. “É inevitável. Eles passam a enxergar o mundo de outra forma, têm preocupações extras. Coisas que antes não eram tão relevantes ganham importância. Muita gente não sabe lidar bem com esse peso”.

Mas nem todos os homens reagirão dessa forma. Em muitos casos, o efeito do nascimento do filho é exatamente o oposto, garante a especialista. “Uma criança é capaz de dar um novo sentido à existência. De uma hora para outra, a vida ganha mais significado, e isso é muito motivador”.

Como consequência desse novo ânimo, muitos homens que se tornam pais começam a trabalhar mais, outros voltam a estudar ou retomam projetos que estavam estagnados. “Eles voltam a fazer planos para o futuro pensando no bem dos próprios filhos. Isso é muito positivo”.

Terapia

Caso a pessoa comece a se sentir incapaz de cumprir tantas obrigações e de responder às demandas que a família traz, sentimentos negativos podem surgir. A boa notícia é que é possível contornar a situação. “Essa insegurança pode ser trabalhada com terapias”.

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