(Renata Evangelista)
A Polícia Civil informou que, além de torturar internos acamados, os responsáveis pelo Asilo Acolhendo Vidas são suspeitos de realizar transações financeiras ilegais nas contas dos pacientes. A denúncia foi feita pela delegada Bianca Prado, que, na última semana, prendeu cinco suspeitos, sendo quatro integrantes da mesma família e um cuidador.
De acordo com a investigadora, a dona da clínica, que está sendo chamada de "casa dos horrores", chegou a sacar a aposentadoria de internos que haviam morrido. "A viúva disse que ela não quis entregar os documentos e retirou a aposentadoria do paciente por dois meses após a morte dele", contou.
Uma outra idosa, considerada muito lúcida pela delegada, falou que assinou a procuração que deu poderes para a suspeita porque estava se sentindo coagida e ameaçada. As autorizações para administrar as contas de alguns internos foram apreendidas em um cômodo da casa de repouso.
O asilo, segundo Bianca Prado, era ilegal, mas funcionava há pelo menos seis anos. Neste período, ele esteve em três endereços diferentes para "fugir das fiscalizações". A Prefeitura de Santa Luzia confirmou que o estabelecimento não tinha alvará de funcionamento.
Tortura
Nesta quarta-feira (1º), a delegada declarou que tem provas contundentes de que todos os presos praticaram crimes de tortura. Ela citou que os pacientes eram colocados de "castigo" e ficavam até três dias sem comer. Além disso, ainda conforme a delegada Bianca Prado, se os internos fizessem alguma reclamação, recebiam banho de água gelada, que era retirada da piscina. "Na hora da refeição, a dona passava pela mesa com uma bengala na mão. Se alguém derramasse algo, a bengalada ia nos idosos", contou.
Conforme os depoimentos dos internos à polícia, eles eram agredidos com tapas, socos, pontapés e até voadoras. Todos os suspeitos negaram participação no crime de tortura e alegaram inocência. "É lógico que ninguém assume ser um torturador, então não temos uma confissão nos autos", observou Prado. "É muito claro que não estamos falando de maus-tratos e, sim, tortura. É muito claro que todos eles [os suspeitos] tinham ciência do que estavam fazendo. É muito claro que um aceitava a conduta do outro. A família agia junto", prosseguiu.
A investigadora já ouviu 27 testemunhas no inquérito que investiga o caso. "Cada vez que avançamos nas investigações, novos fatos surgem", falou.
Abandono
A delegada Bianca Prado também informou que irá indiciar pelo menos duas famílias por abandono de incapaz. "As famílias de todos podem ser responsabilizadas. Essas duas famílias já falaram que não vão retirar os pacientes da clínica", disse. A policial faz um apelo para que parentes levem os internos para uma casa de repouso séria.
O Asilo Acolhendo Vidas continua funcionando com nove internos, mas agora ele está sendo supervisionado pela prefeitura. Quando a polícia descobriu o local, na semana passada, 47 pessoas estavam internadas no local.
Deste total, 17 idosos tiveram que ser internados no Hospital Municipal Madalena Parrilo Calixo. Dois receberam alta, mas um teve que retornar para a unidade de saúde "devido condições de moradia inadequada".
O último boletim médico divulgado pela unidade de saúde, nesta quarta-feira, revela que dos 16 hospitalizados, três pacientes estão em situação mais grave, recebendo cuidados paliativos. "Os demais pacientes seguem estáveis internados em nosso hospital", destacou o documento.
Mortes
A "casa dos horrores" foi descoberta depois que o hospital de Santa Luzia acionou a polícia informando sobre duas mortes, no dia 15 de julho, de idosos vindos da clínica. Na semana seguinte, um novo óbito foi contabilizado e os investigadores foram até o asilo, instalado no bairro Barreiro do Amaral.
Um ex-funcionário da clínica denunciou que pelo menos sete idosos morreram no local em um intervalo de um ano. Para a delegada, é muito cedo afirmar que todos os óbitos têm relação com maus-tratos. "Eu posso afirmar que pelo menos uma morte, sim, tem indícios fortes de maus-tratos e tortura. Foi um caso gravíssimo de desnutrição, desidratação e hematomas grandes pelo corpo. Tudo isso nos leva a crer que essa pessoa ficou privada de alimentação e água", disse.
Defesa
O advogado Welbert Souza Duarte, que representa os quatro donos do asilo que foram presos, informou que seus clientes negam veementemente os crimes de tortura. A reportagem não conseguiu contato com o defensor do cuidador, que também foi detido.