(Flávio Tavares/Hoje em Dia)
O racionamento de água e a sobretaxa na tarifa para quem não cumprir a meta de redução de 30% estabelecida pelo Governo do Estado poderão resultar no encerramento das atividades de indústrias mineiras, de acordo com entidades do setor.
“Certamente, o impacto econômico da taxação é grande. À medida que o custo (de produção) aumentar e não pudermos repassá-lo para o produto, há o risco de finalizar atividades”, destaca a secretária executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente (Cema) da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Patrícia Boson.
No caso de racionamento, as indústrias qualificadas como usuárias de água – que retiram o recurso diretamente do corpo hídrico – enfrentarão um desafio ainda maior. “Há mais de dez anos essas indústrias vêm investindo na melhoria da performance hídrica. A maioria já faz reúso de água com uma eficiência acima de 80%. O corte horizontal de 30% pode pegá-las, pois elas já estão na capacidade máxima”, avalia a secretária executiva.
Professor, ambientalista e médico sanitarista, Apolo Heringer Lisboa avalia que é possível diminuir o volume da água utilizada por indústrias e demais setores econômicos, desde que a medida adotada “também seja racional”. Segundo ele, um corte horizontal não trará benefícios.
“É preciso analisar cada atividade separadamente. Uma indústria de pequeno porte, uma mineradora e um comércio não podem estar no mesmo bolo. Além disso, é preciso levar em conta a bacia hidrográfica onde estão localizados”, explicou Heringer.
Outro ponto importante, reforça o ambientalista, é a revisão imediata das outorgas de recursos hídricos concedidas. “Estudos para avaliar o uso de cada empreendimento são cada vez mais urgentes. Hoje, os valores cobrados são insignificantes. É preciso tarifar de maneira correta. Após essa cobrança, as empresas serão obrigadas a adotar medidas ainda mais racionais, garantindo o máximo de reúso da água”.
Economia
Um dos exemplos de indústria que investe no reaproveitamento de água é a Fiat, na fábrica de Betim, na Grande BH. Em 2010, a empresa investiu R$ 12 milhões na otimização do tratamento de efluentes, aumentando o índice de água reaproveitada de 92% para 99%.
A Itambé também já promove o reúso desde 2007. A água extraída durante a produção de leites em pó e condensado é filtrada, tratada e reaproveitada em torres de resfriamento e na limpeza.
O gerente de Sustentabilidade da empresa, Mauricio Petenusso, destaca que, do consumo diário, de 15% a 20% da água utilizada são provenientes do reúso.
Posicionamento
O diretor geral da Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário (Arsae-MG) – responsável por definir como e quando as medidas de racionamento e sobretaxa serão colocadas em prática –, Antonio Caram Filho, disse, por meio de nota, que a agência ainda vai avaliar “a pertinência e a abrangência de uma possível sobretarifa como medida emergencial para enfrentar a crise hídrica”.
População faz o que pode para reduzir o consumo, mas situação ainda é grave
A escassez hídrica que tem comprometido o abastecimento de água em Minas Gerais, desde o ano passado, vem fazendo com que consumidores também adotem medidas de redução de consumo, principalmente, depois do anúncio de risco de desabastecimento feito pela presidente da Copasa, Sinara Meireles, em 22 de janeiro.
Mas, apesar da gravidade da situação e das campanhas feitas pelo Governo do Estado, a companhia registrou recuo de apenas 7,4% no consumo dos mineiros e de 9,4% na região metropolitana de Belo Horizonte, até o fim do mês passado.
Sobre a possibilidade de racionamento e sobretaxa na tarifa, medidas possíveis de serem adotadas após a apresentação do relatório do Igam, na última segunda-feira, a Copasa preferiu não se pronunciar, no momento. Em nota, a companhia informou apenas que ainda não teve acesso às informações do texto e que, “portanto, ainda não há nada definido sobre o assunto. Quem irá definir como e o que será feito será a Arsae”.
Colaboração
Enquanto isso, nos condomínios da capital mineira, moradores já estão se articulando para diminuir o consumo e, consequentemente, evitar que a escassez de água vire um problema também para o bolso.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Condomínios Comerciais, Residenciais e Mistos de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindicon), Carlos Eduardo Alves de Queiroz, muitos prédios estão mudando hábitos, a começar pela gestão da limpeza.
“Temos recebido muitos pedidos de indicação de empresas que fazem a individualização dos hidrômetros, porque ninguém quer pagar pelo abuso do outro”, diz Queiroz.
Segundo ele, o tempo regulado de uso das duchas, nas áreas de lazer, e o reaproveitamento da água da máquina de lavar são as ações mais comumente observadas. “Muitas pessoas ainda são resistentes, mas a maioria está aceitando com facilidade essas adaptações”.