Infraestrutura fica como legado da Copa na capital mineira

Rosildo Mendes - Hoje em Dia
19/05/2014 às 08:05.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:38
 (Ricardo Bastos/Hoje em Dia)

(Ricardo Bastos/Hoje em Dia)

Com a escolha, em outubro de 2007, do Brasil como sede da Copa do Mundo de Futebol deste ano, criou-se uma expectativa na população de que problemas crônicos como mobilidade, transporte público, aeroportos, portos e segurança seriam resolvidos.    Foram anunciadas, na época, 115 obras em 12 estados. Juntas, exigiriam um investimento de mais de R$ 24,2 bilhões. Hoje, quase sete anos depois, das 93 intervenções iniciadas no país 36 foram concluídas, ou seja, 38,7%. Outras 22 previstas foram deixadas de lado, como o monotrilho Linha 17, orçado em R$ 1,4 bi, em São Paulo.    Apesar do balanço negativo, o cenário em Belo Horizonte é diverso porque, diferentemente do que aconteceu em outras cidades-sede, parte das obras foi finalizada, e o que não foi entregue a tempo do Mundial deverá ser após o evento.    Arrumando a casa   Segundo Flávio Krollmann, presidente do Sindicato das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva de Minas Gerais (Sinaenco), o governo aproveitou a Copa para tentar sanar várias pendências de infraestrutura. Ou seja: os investimentos já deveriam ou poderiam ter sido feitos independentemente da competição. “Foi passada à população a impressão de que o evento viria para resolver uma série de problemas crônicos e estruturais do país”, diz.   Para Krollmann, que acompanha todos os projetos ligados à Copa desde 2007, aos atrasos soma-se a possibilidade de muitas obras serem abandonadas tão logo o Mundial acabe. “Na capital mineira, as melhorias no Aeroporto de Confins, o BRT/Move nas avenidas Pedro I, Pedro II e Antônio Carlos, a ampliação da rede hoteleira e a expansão da Central de Controle de Trânsito da BHTrans estão atrasados”, diz. Mesmo assim, ele acredita que o sistema de transporte rápido por ônibus, as acomodações e o monitoramento 24 horas atuais deem conta do recado. Situação que pode ser inversa em cidades como Curitiba, Fortaleza e Recife, onde há muitas obras pela metade, correndo o risco de serem esquecidas.   Perdas   Na capital mineira, Krollmann lamenta a exclusão da Via 710 (ligação das avenidas Andradas e Cristiano Machado) dos planos e o fato de a criação do Rodoanel Norte, a revitalização do Anel Rodoviário e a duplicação da BR-381 terem ficado fora do pacote. “Deveriam ter sido colocadas como metas para a mobilidade urbana, com entrega este ano”. O consultor destacou também a elevação dos gastos previstos. “Os custos das intervenções tiveram aumento de até 166%”, afirma.    O portal 2014, criado pelo Sinaenco, analisou 109 projetos da matriz do governo e listou as 14 maiores diferenças. “Os estádios, por exemplo, passaram de R$ 5,66 bilhões, em janeiro de 2010, para R$ 8,01 bilhões”.   Atenção voltada para Confins   O secretário de Esportes e Turismo de Minas, Tiago Lacerda, avalia como positivo o legado deixado pela Copa em BH. “Reformamos o Mineirão e o Independência e houve melhorias das rodovias LMG 800 e MG 424, que dão acesso ao Aeroporto de Confins. A prefeitura também garantiu obras como BRT/Move, Via 210 e Boulevard Arrudas”, lista, garantindo que todas as intervenções iniciadas na capital serão concluídas. Mas Lacerda vê com preocupação o atraso nas obras do aeroporto. “Só 55% das intervenções na principal porta de entrada de Minas estarão prontas até o Mundial”.    Em dois anos, 3.580 leitos a mais em hotéis de BH   O investimento em novos empreendimentos hoteleiros em Belo Horizonte e região metropolitana também ficará como um ganho permanente para a população mineira. De 2012 para cá, foram inaugurados 21 hotéis – 11 só em 2014 –, totalizando mais 3.580 leitos.    No entanto, dos projetos e alvarás aprovados nos últimos anos, 35 foram cancelados e 24 hotéis que já deveriam estar funcionando seguem em obras.    Mesmo com algumas pendências no setor, o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares de BH e Região Metropolitana (Sindhorb), Paulo Cesar Pedrosa, garante que os turistas que vierem a BH assistir aos jogos da Copa não terão dificuldade para encontrar abrigo.  “A expectativa era a de recebermos cerca de 27 mil forasteiros em Minas durante o torneio. No entanto, várias reservas feitas pela Fifa foram canceladas e o número de visitantes caiu pela metade”, explica.   Mesmo que não faltem vagas, Pedrosa lamenta a paralisação de algumas obras, como a do Ibis e a do Pullman Belvedere. “Não há previsão para esses dois empreendimentos serem finalizados”, diz, aconselhando investidores que apostaram na rentabilidade desses leitos a requerer na Justiça a rescisão do contrato e o pagamento de multa.    Maarten Van Sluys, consultor de Desenvolvimento Hoteleiro, lembra que até início da competição a capital mineira poderá inaugurar mais oito hotéis que, hoje, estão na lista dos atrasados. Os demais ficarão para o primeiro semestre de 2015.    “Infelizmente, as construtoras descumpriram os contratos e algumas foram acionadas na Justiça. Além de responder aos processos, elas poderão ter que arcar com multas previstas na Lei 9.952/2010, que aumentou o potencial construtivo de algumas regiões para tornar mais atrativa a construção de hotéis. Pela legislação, a conclusão das obras da Copa deveria acontecer até 28 de fevereiro deste ano, com início da operação até 31 de março”.   Verba para mobilidade foi reduzida em R$ 4 bilhões, diz ONG   Uma das principais frustrações em relação às obras previstas para a Copa em 12 capitais brasileiras foi o cancelamento de várias intervenções para melhorar a mobilidade urbana.   Além da exclusão da lista de projetos como o voltado para o terminal marítimo, no Rio de Janeiro, e a ampliação da pista do aeroporto de Porto Alegre, até agora nem uma das cidades-sede dos jogos concluiu todas as obras voltadas para o trânsito e o transporte.    “Vamos entregar tudo pela metade”, diz o presidente da ONG Contas Abertas, o economista Gil Castello Branco. O problema, aponta, é que quando foi anunciado o projeto da matriz do governo para o evento esportivo, os investimentos, somente em mobilidade, somavam R$ 12,2 bilhões. “Hoje, esses recursos não ultrapassam R$ 8 bilhões, ou seja, R$ 4 bilhões a menos”.    “Além do repasse menor de verbas para melhorar vias e transporte público, impasses com licenças ambientais, corrupção, falta de projetos e até licitações travadas na Justiça contribuíram para que obras nessa área, essenciais para a realização da Copa de 2014 e também das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, não saíssem do lugar”, diz o presidente da ONG Contas Abertas.   Somente em Porto Alegre, por exemplo, 11 obras foram canceladas por entraves com licenças ambientais e falta de projetos. Na lista das intervenções deixadas de lado aparecem o complexo rodoviário e obras do BRT.    Segundo Gil Castello Branco, existe uma gama de empecilhos. “O problema é muito complexo. Há dificuldade para conseguir documentações e licenças ambientais específicas para cada um dos projetos, e falta de vigor e interação dos parceiros envolvidos, principalmente entre o governo federal, os estados e os municípios”.

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