(Eugênio Moraes/Arquivo)
De um lado, quase 20 advogados. Muitos deles preocupados em alinhar teses e buscar uma parceria para garantir um bom desempenho no julgamento que leva ao banco dos réus, nesta segunda-feira (19), o goleiro Bruno Fernandes e outros quatro acusados pelo desaparecimento e assassinato de Eliza Samudio.
Do outro, um promotor e três assistentes de acusação que muito pouco falaram sobre o processo entre si e demonstram uma falta de afinidade que pode gerar um racha no trabalho da “equipe”.
Nos bastidores, a preparação para o caso envolve muitos telefonemas entre os defensores de alguns dos réus e até reuniões para combinar estratégias que podem beneficiar as partes envolvidas.
Discursos homogêneos podem evitar contradições ainda existentes entre os advogados dos réus durante o júri. Há quem defenda que Eliza está viva, outros admitem sua morte e ainda existem aqueles que transitaram pelos dois lados.
O páreo mais duro fica por conta do confronto de versões entre os réus. Desde que o inquérito foi aberto, em junho de 2010, o goleiro Bruno e o amigo dele, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, já se defenderam e atacaram, por meio dos advogados, e passaram de melhores amigos (e até amantes) a rivais, conforme a conveniência da defesa.
J.L.L.R., primo de Bruno que deu detalhes do caso à polícia e depois negou tudo, é, para alguns advogados, uma vítima da coação policial que o fez inventar uma história mirabolante e, para outros, alguém que teve uma alucinação por causa do uso de drogas.
Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, não pode mais se esquivar da carapuça de especialista em atirar e matar. Depois que foi absolvido de outro homicídio neste mês, com o argumento de que é, sim, capacitado para fazer seu trabalho de forma exemplar, os advogados não podem tentar outra reviravolta.
Desintegração
Tantas versões podem levar os jurados a pensar que ninguém diz a verdade. Daí a necessidade da mobilização dos defensores. Mas a acusação também padece de um problema, inverso ao da defesa, que pode impactar na decisão do júri: a desintegração de seus pares.
O titular do processo é o promotor de Contagem, Henry Wagner Vasconcelos, que teria, ainda nos bastidores, recusado a ajuda de outros promotores para o julgamento.
Posição que desagrada José Arteiro Cavalcante, assistente de acusação contratado pela mãe de Eliza, Sônia de Fátima Moura. “Toda ajuda seria bem-vinda, mas, ao que tudo indica, ele não vê dessa forma. Eu tenho que trabalhar dentro do que ele deixar, porque a ação penal é dele”, afirma o advogado.
“Não sei nem quem vai trabalhar com a prova técnica e quem fica com o trabalho de convencimento”, alega Arteiro, revelando o descompasso da acusação.