Segundo denúncia, internos da Penitenciária José Maria Alkimin, em Ribeirão das Neves, foram atingidos por substância de forma "indiscriminada e excessiva"
Revistas íntimas têm objetivo de evitar a entrada de drogas, armas e celulares nos presídios (Marcelo Albert/TJMG)
A Justiça cobra do governo de Minas esclarecimentos sobre o uso de spray de pimenta contra presos da Penitenciária José Maria Alkimin, em Ribeirão das Neves, como parte do procedimento para retirada completa de cigarros da unidade prisional. Segundo denúncia à Vara de Execuções Criminais do município, internos também teriam sido obrigados a ficar nus e tiveram objetos pessoais retirados e destruídos durante a abordagem.
Em despacho de 21 de agosto, ao qual o Hoje em Dia teve acesso, a juíza da Vara de Execuções Criminais de Ribeirão das Neves determina que a Penitenciária José Maria Alkimin seja oficiada para explicar, em 5 dias, os detalhes do procedimento e “inclusive se houve, de fato, uso indiscriminado de spray de pimenta e retirada de roupas e pertences” dos internos - o relato inicial fala em "uso indiscriminado e excessivo" da substância.
A magistrada requer ainda a justificativa para utilização, a origem do spray de pimenta, o peso dos frascos antes e depois da abordagem e que a unidade prisional informe todos os atendimentos médicos em decorrência da suposta atuação dos agentes.
Desde julho, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) implementa um protocolo para banir o tabagismo das cadeias mineiras – nas instituições maiores, caso da José Maria Alkimin, o prazo termina em 31 de agosto. A medida é questionada por especialistas, que criticam a obrigatoriedade da adesão, o curto prazo para implementação e o suporte oferecido para que os encarcerados lidem com a falta de nicotina no organismo. Também há o temor de protestos – o próprio Estado admite essa hipótese, com o risco de queima de ônibus, por exemplo.
A Sejusp alega que eliminar o cigarro das unidades prisionais é uma questão de “saúde e segurança”. Em julho, informou que a Diretoria de Saúde do Departamento Penitenciário acompanharia de perto o andamento da medida para garantir àqueles que venham a sofrer abstinência a inclusão no Programa Nacional de Controle do Tabagismo e a “assistência dos profissionais de saúde e psicossocial que atuam nas unidades prisionais do Estado”.
No entanto, pelo menos Ribeirão das Neves, município com a maior população carcerária do Estado, já informou ser “inviável” para este ano atender às demandas das unidades prisionais para cessação de tabagismo. Os pedidos de medicamentos e insumos – como adesivos de nicotina – para 2024 já foram encerrados, na quantidade habitual. Segundo ofício da prefeitura encaminhado à Justiça, na última solicitação de material ao Ministério da Saúde, em julho, não havia sinalização sobre uma demanda específica, “conforme a magnitude esperada para esse contexto”.
Em nota, a Sejusp informou que não comenta ações ainda em trâmite na Justiça, mas que “todas as denúncias devidamente registradas em órgãos competentes são apuradas com o devido rigor, respeitando o processo legal e guardando sempre o direito à ampla defesa e ao contraditório”.
Segundo a secretaria, os procedimentos “têm acontecido sem intercorrências de segurança relevantes e com resultados satisfatórios”.
Questionada se houve erro de planejamento na implementação do protocolo de retirada do cigarro, diante da falta de tempo hábil para a Prefeitura de Ribeirão Neves programar o suporte, a Sejusp limitou-se a dizer que “as áreas de saúde das unidades prisionais estão realizando ações preventivas e de apoio aos custodiados, nos últimos meses” e que na região metropolitana há ações de sensibilização de detentos para os riscos do uso da droga. A secretaria não informou o número de presos da Penitenciária José Maria Alkimin nem o total no município.
Leia mais: