De um lado, a esperança de manter firme o vínculo afetivo dos últimos três anos. Do outro, o desejo de reverter o quadro de maus-tratos e oferecer uma nova adaptação. Pais adotivos e a família biológica de uma menina de 4 anos, que corre o risco de se separar dos guardiões após decisão da Justiça, estarão cara a cara pela primeira vez nesta quinta-feira (17). Uma audiência às 15h30 vai definir o retorno da criança para a casa dos genitores, com quem conviveu por apenas dois meses, logo que nasceu. O encontro, que deve ser marcado por manifestações contrárias à “desadoção”, será no Juizado da Infância e Juventude de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ombro amigo Profissionais da escola onde a menina estuda prometem um grande protesto. Segundo a diretora Tereza Cristina Tostes, faixas e cartazes serão levados. “O trauma que essa menina poderá sofrer, se sair de casa, será irreversível. Nós, que convivemos com ela, sabemos o quanto já está familiarizada e feliz no lar atual”. Pai e mãe adotivos estão apreensivos com a audiência, mas afirmam que não perderam as esperanças e que vão medir forças para reverter a situação. “Não sabemos ao certo o que pode ser definido (quinta), mas vamos recorrer da decisão da Justiça de retirar a nossa filha, que já convive conosco há três anos. Nunca iremos desistir da felicidade dela”, diz Válbio Messias da Silva. Já Cinthya Marta de Andrade Rodrigues, advogada da família biológica – o casal Maria da Penha Nunes e Robson Ribeiro Assunção – vai propor que o retorno seja feito da maneira menos traumática possível, paulatinamente. Segundo ela, os genitores não são contrários à presença dos pais adotivos durante a mudança. Silêncio Segundo Cinthya, os clientes não queriam falar com a imprensa, na última quarta-feira (16). “São pessoas muito simples e que estão sendo expostas demais”, diz a defensora, que tem escritório em um bairro nobre de BH e atua na área do direito civil há seis anos. Os honorários, segundo a própria advogada, estariam sendo pagos com a ajuda da comunidade onde vive o casal e por uma igreja da região Entenda o caso O drama da menina de 4 anos que terá que deixar o lar dos pais adotivos após uma ordem da Justiça sensibiliza milhares de pessoas. Uma página criada no Facebook na tarde de terça-feira tinha, até o início da noite da última quarta-feira (16), mais de 2 mil seguidores. O apoio é demonstrado também por meio de fotos e mensagens. O imbróglio começou em 2009. Aos 2 meses de idade, a criança foi retirada dos pais e levada a um abrigo após denúncias de desafeto e abandono. Um ano depois, foi entregue a um casal inscrito no cadastro nacional de adoção, e o Ministério Público obteve, na Justiça, a “destituição do poder familiar” dos pais biológicos. Mas eles recorreram e conseguiram, agora, retomar a guarda da filha, que vive com a outra família há três anos.