(Maurício Vieira)
O furto de cabos de cobre em Belo Horizonte chegou às estações de transferência do Move, prejudicando os usuários do transporte coletivo. A ação, inclusive, tem exigido a “profissionalização” dos ladrões, que estão lançando mão de maior conhecimento técnico para cometer os crimes. Seis plataformas em avenidas de grande fluxo da capital estão parcialmente interditadas por conta da audácia dos bandidos.
A primeira ocorrência do tipo foi registrada em março. Desde então, 21 cabines foram afetadas pelo vandalismo.
Atualmente, as estações Aparecida, Colégio Militar, Hospital Belo Horizonte e Hospital Odilon Behrens (na Antônio Carlos) e Minas Shopping e Feira dos Produtores (na Cristiano Machado) ficarão com um dos dois módulos desativado pelos próximos 20 dias, segundo o gerente de Administração e Manutenção Predial da BHTrans, Odirley Rocha dos Santos, até a reposição do cabeamento.
Ao todo, foram levados cerca de 11 mil metros do material, que é seis vezes mais grosso do que os utilizados em semáforos. Essa característica, inclusive, é o que atraído os ladrões, que conseguem vender os cabos pelo dobro do valor comum.
A ação dos bandidos é meticulosa. Eles entram por baixo dos módulos, cortam os fios e os substituem por outros mais finos. Segundo a BHTrans, a energia elétrica não é interrompida imediatamente nas estações, o que dá tempo para os criminosos fugirem e não serem flagrados pelos vigias.
Passadas algumas horas da troca do cabeamento, param de funcionar os sistemas de iluminação, as portas automáticas, o circuito de câmeras e os monitores que informam os horários dos ônibus.
Impactos
As cabines parcialmente interditadas dependem de nova remessa de fios para que voltem a funcionar. De acordo com a BHTrans, o estoque dos cabos acabou. Uma licitação para a aquisição do produto está em andamento. Até o momento, os prejuízos chegam a R$ 23,5 mil. Outros R$ 94,6 mil serão necessários para restabelecer o sistema elétrico afetado.
As linhas atendidas nas estações onde o acesso foi impedido foram transferidas para o módulo ao lado delas. A mudança, no entanto, obriga a redução da velocidade operacional do sistema Move pois há sobrecarga dos veículos para acessar a mesma plataforma de embarque e desembarque de passageiros.
Ontem, a reportagem percorreu a avenida Antônio Carlos e detectou quatro estações paralisadas. Quem precisa ir até o Centro agora tem que aguardar o coletivo nos módulos que, geralmente, são atendidos por ônibus cujo trajeto é em direção aos bairros.
Algumas linhas, segundo usuários do sistema, não estariam parando nas estações. “Se os ônibus parassem aqui não haveria nenhum transtorno. Mas o problema é que já passaram dois coletivos que não pegaram passageiros. Agora estou esperando o próximo”, disse a empresária Marcela Costa, de 36 anos, que estava na Estação Hospital Belo Horizonte.
Os passageiros ainda reclamam da segurança. “Ficamos com medo de não estarmos protegidos aqui, já que estão conseguindo levar até os cabos”, frisou o professor de artes Rodrigo Antero, de 32 anos. Segundo ele, no horário de pico o espaço fica bastante tumultuado, o que estaria levando algumas pessoas a perderem o transporte.
Retornos
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) afirma que os atos de vandalismo têm sido “constantes”. A maior incidência seria no corredor Antônio Carlos, com reincidências nas estações Senai, Odilon Behrens, Operários, São Francisco e Colégio Militar.
Chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar, major Flávio Santiago afirma não ter conhecimento do fato de os criminosos provavelmente terem algum conhecimento técnico para realização da troca dos cabeamentos.
Para ele, o público que mais comete esse tipo de crime são usuários de drogas em busca de dinheiro para bancar o vício. Além disso, a receptação é algo que as forças policiais tentam combater.