(Ana Lúcia Gonçalves/Hoje em Dia)
TIMÓTEO - A lama negra e fétida que vem provocando devastação em várias cidades mineiras, após o rompimento de duas barragens de rejeitos de minério em Mariana, região Central do Estado, começou a chegar ao Parque Estadual do Rio Doce na noite de sexta feira (6), mas ganhou força na manhã deste sábado (7).
O mau cheiro pôde ser sentido a mais de dois quilômetros de distância. Da ponte Queimada, sob a qual passa o rio Doce e que faz a ligação da reserva e uma plantação de eucalipto, é possível observar a força com que o material arrasta a vegetação que margeia o rio.
Segundo o gerente do parque, Vinícius Moreira, o impacto é evidente, mas serão realizados estudos para dimensionar a extensão e gravidade. "A lama não traz impactos diretamente para o parque, mas o rio Doce é o limite natural da reserva. Me preocupo com a mortandade da ectiofauna local, especialmente em áreas muito próximas do parque que são muito sensíveis", explica.
Para o gerente, ainda não é possível mensurar os danos, mas depois que a lama passar, vai solicitar vistorias, estudos e análises aprofundadas da água e dos peixes para entender a dinâmica de todo esse impacto ambiental.
Segundo o tenente Átila Porto, comandante do Pelotão do Meio Ambiente no Vale do Aço e do Parque Estadual do Rio Doce, há relatos de mortandade de peixes por onde a lama passou. Boletins de Ocorrência estão sendo feitos e serão encaminhados ao Ministério Público, em Belo Horizonte, para a responsabilização dos culpados. Inicialmente, segundo ele, a lama não afetará a captação de água no Vale do Aço, porque a Copasa não utiliza o rio Doce como fonte abastecedora. A preocupação é com o possível represamento do rio Piracicaba, afluente do rio Doce, e com a piracema.
"Estamos monitorando, mas não há dúvidas dos impactos ambientais, que são incalculáveis", afirma o tenente.
Para ele, os prejuízos ao meio ambiente são imediatos, mas também a longo prazo. Isso porque esse é o período em que os peixes se preparam para a reprodução, que deverá ser prejudicada. "Com o período de defeso afetado, haverá menos peixe ainda no rio", diz o tenente.
CURIOSOS
A chegada da lama ao Vale Aço chamou a atenção das pessoas. Na ponte Queimada, que fica dentro do parque do Rio Doce, a pelo menos 60 kms da estrada principal, moradores da região se revezavam para registrar a passagem dos rastros da tragédia em Mariana. "Triste demais ver isso acontecer. A falta de água já é um problema sério, que estamos enfrentando com dificuldade. Agora vai piorar. Mas sou brasileiro e brasileiro não desiste nunca", diz o administrador Thiago Milhomem, de 33 anos. Ele e um grupo de ciclistas mudaram a rota hoje só para ver a chegada da lama.
O agricultor Mauro Lopes, de 45 anos, fez fotos para mostrar para os filhos. "Quando penso que não pode piorar, a água vira lama. Estamos perdidos", desabafa.