O esforço do poder público para reprimir os pichadores em Belo Horizonte, além de se demonstrar ineficaz, tem custado caro aos cofres municipais. A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) gastou, apenas de janeiro a setembro do ano passado, o montante de R$ 316 mil com a reparação de pichações em viadutos, túneis e no obelisco da Praça 7, no centro da cidade.
A principal alternativa da prefeitura para lidar com os artistas visuais urbanos é voltada exclusivamente para o grafite. Anunciado na semana passada pelo chefe do Executivo municipal, Alexandre Kalil, o projeto Profeta Gentileza vai criar concursos e oficinas para que os grafiteiros desenvolvam trabalhos em espaços públicos e privados da cidade.
Aos pichadores, o patrulhamento permanece reforçado. Segundo a prefeitura, “a Guarda Municipal mantém um de seus assentos permanentes no Centro de Operações da Prefeitura (COP-BH), específico para o monitoramento de casos de pichação, de onde é feita a vigilância de imagens geradas por cerca de 1.600 câmeras distribuídas pela cidade”.
Para a pesquisadora Ludmilla Zago, a relação de tensão com o poder público é natural a toda forma de expressão livre que nasce das periferias.
“O próprio projeto da prefeitura (de apoio ao grafite) gera um certo incômodo em quem trabalha com isso nas ruas. As pessoas se perguntam porque o poder público separa essas duas coisas (pichação e grafite) sendo que, nas ruas, as duas intervenções são igualmente livres. Essa diferença vem da intromissão do poder público por não entender o que o ‘pixo’ quer dizer e porque ele foi feito”, critica.
Investigações
No Ministério Público (MP) mineiro, 28 pessoas são investigadas pelos crimes de pichação. Todas foram denunciadas à Promotoria Estadual de Defesa de Patrimônio Cultural e Turístico entre 2015 e 2016.
Dentre os locais desfigurados pelos pichadores na mira do MP estão o Viaduto Itamar Franco (na avenida Tereza Cristina) e a fachada da Biblioteca Pública, incluindo as estátuas de bronze no local (Praça da Liberdade), além da Igreja Matriz de Santa Luzia, na cidade da Grande BH.
De acordo com a promotora Giselle Ribeiro, no mesmo período foi proposta ação para obrigar os pichadores a repararem os danos ao patrimônio público. “Esses processos foram frutos de investigações rigorosas empreendidas pelo MP em conjunto com as polícias, sendo que foi apurado que alguns dos pichadores constituíam verdadeiras quadrilhas para prática de crimes”, frisou.