(Flávio Tavares)
Os barulhos, ensurdecedores: buzinas agudas, freadas bruscas e variados xingamentos. As cenas, lamentáveis: avanços de sinal, desrespeitos ao pedestre e manobras imprudentes. O trânsito de Belo Horizonte virou sinônimo de falta de paciência e excesso de fúria. Mas nem tudo está perdido no caos diário provocado pelo vaivém dos carros e passos acelerados dos que estão a pé.
Há quem resista a esses atropelos das leis e das regras da boa convivência, contribuindo para um trânsito mais humanizado. Motoristas que dão preferência aos que atravessam pela via pública, não pisam fundo no acelerador e respeitam a sinalização. Verdadeiros exemplos de respeito ao próximo em um ambiente tipicamente inóspito, sempre lembrado por estresse e brigas.
Ter civilidade ao volante é um dos muitos predicados da administradora Saritha de Azevedo Ribeiro, de 33 anos. Moradora do bairro Nova Suissa, região Oeste da capital, ela não se recorda da última vez que tocou a buzina de seu Ford Ka. “O som é muito chato e incomoda. Não faço com os outros o que não gostaria que fizessem comigo”, resume. Além da desnecessária corneta, ela nunca hesita em dar passagem ao pedestre e jamais dirige falando ao celular.
Premiado
Outro bom exemplo é Carlos Mesquita, de 47 anos. Embora conviva de perto com adversidades diárias – ele é motorista de ambulância –, faz questão andar na linha. “Não me preocupo só com quem estou socorrendo, mas com quem está ao redor. O trânsito é de todos”, diz o homem, que no ano passado recebeu uma premiação especial do Detran pelas boas condutas na direção.
Com mais de 15 anos dedicados à empresa que gerencia o tráfego da metrópole, o antropólogo Ronaro Ferreira, de 46 anos, sabe das dificuldade de encontrar pessoas assim no dia a dia. “Falta espaço para todos, condutores e pedestres. Daí a importância de cada um fazer a sua parte”, reforça. Ele, que trabalha na gerência de educação da BHTrans, reforça que cultivar a paz é possível, e muito fácil. “É preferível chegar uns minutinhos atrasado ao compromisso do que se arriscar”.
PALHAÇADA – Dinheiro é o que menos importa no sinal; Gabriel quer mesmo é levar alegria aos estressados motoristas (Foto: Flávio Tavares/Hoje em Dia)
Só alegria
Se engana quem pensa que um trânsito mais humanizado depende exclusivamente de motoristas e pedestres. Cuidadosamente caracterizado com roupa colorida, maquiagem e até perna de pau, o palhaço Gabriel Fernandes Ribeiro, de 27, faz apresentações em cruzamentos dos principais corredores viários de BH.
Claro, ele está em busca de uns trocados, mas essa não é a prioridade, garante. “Quem já trabalhou em circo sabe que o aplauso é a nossa maior felicidade. Arrancar um sorriso de um motorista impaciente e bravo não tem preço”, diz.
Na tentativa de contribuir para um trânsito melhor, BHTrans lançará campanha de educação com foco nos motociclistas da capital