(Frederico Haikal/Hoje em Dia)
A troca de luminárias da década de 1930 por equipamentos modernos compromete o patrimônio histórico de um dos locais mais emblemáticos de Belo Horizonte, a Praça da Liberdade, tombada em 1977. A Cemig informa que a medida é provisória e pretende repôr com réplicas dos originais até o fim do ano, mas o problema se arrasta desde a reforma da praça, em 2000. O problema é a dificuldade de encontrar no mercado as luminárias originais. A troca causa polêmica entre frequentadores e moradores do entorno da praça. A médica Mabel Araújo Andrade, de 50 anos, estranhou as quatro luminárias em frente ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) diferentes das originais. Para quem morou no vizinho São Pedro entre os anos de 1973 e 1983 e era frequentadora assídua da praça por causa da feira hippie, ela concorda com a necessidade da troca quando o equipamento é vandalizado ou deixa de funcionar corretamente. “Mas o certo é preservar o original. Parece que tudo envelheceu, tem que trocar, mas não há projeto de preservação da memória. É uma sensação de perda”, disse. Até estrangeiros estranham as mudanças. Os seminaristas argentinos Juan Pablo Garcia Martinez, de 37 anos, e Leandro Narduzzo, de 33, há três anos e três meses na capital mineira, lembram que Buenos Aires não preservou a sua história. “Agora tentam com muito esforço recuperar o tempo perdido, mas o passado colonial foi apagado. A história deve sim ser preservada na arquitetura. Se moderniza, perde o valor. Aqui, a luminária antiga é até mais bonita. A troca não faz sentido”, defende Juan Pablo. Sérgio Blaso, técnico de tecnologia e normalização da Cemig, afirma que na parte interna da praça há pelo menos quatro diferentes tipos. Os postes do modelo republicano são americanos e foram comprados no início da década de 1930 pela Companhia de Força de Belo Horizonte. “Sabemos que os modelos não podem ser trocados. Por uma questão de segurança pública e patrimonial, uma vez que as luminárias estão em um ponto de ônibus e em frente ao Palácio da Liberdade, foi a nossa opção. Era necessário manter a iluminação do Palácio e para os usuários do transporte coletivo. Dessa forma, há dois meses, fizemos a troca”, frisou Sérgio. Projeto de iluminação prevê aquisição de mais 36 postes Todo o interior da Praça da Liberdade terá a iluminação revitalizada. Segundo Sérgio Blaso, técnico de tecnologia e normalização da Cemig, por definição do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), serão comprados 36 postes completos originais para a troca dos equipamentos na área. “Há muita reclamação de escuridão por lá. Vamos fazer esse reforço”, disse. Dois equipamentos na porta do Palácio da Liberdade foram derrubados em um acidente, em março deste ano. Uma semana depois de trocados, uma nova batida destruiu um deles. “É o que enfrentamos: motoristas que batem, vandalismo. E tudo isso piora a situação”, afirma Sérgio. Também serão adquiridas 150 luminárias para fazer reposições imediatas e deixar em estoque. Postes de iluminação semelhantes aos da Praça da Liberdade também são encontrados na Igreja São José, rua Sapucaí (Floresta), Pirulito da Praça 7 e nos viadutos da Floresta e de Santa Tereza. Na Praça 7, as quatro luminárias foram quebradas nos últimos meses. A alternativa adotada pela Cemig também foi repor com peças diferentes das originais. A medida seria em caráter temporário. Por meio de nota, a chefe de gabinete do Iepha, Danielle Cristine de Faria, informou que está sendo elaborado um projeto de melhoria da iluminação da Praça da Liberdade com a participação do Governo de Minas, Cemig e Prefeitura de Belo Horizonte. Detalhes sobre a proposta, no entanto, não foram divulgados. Uma fábrica de luminárias e postes semelhantes aos originais foi descoberta em Ohio, mas ainda não foi feita a sondagem do valor de cada unidade. Caso não consiga adquirir os postes originais, a saída será fazer com artesãos brasileiros. Um aposentado do interior de São Paulo tem a fôrma original, mas ela está trincada.